quinta-feira, 31 de julho de 2008

Nome Próprio

Difícil dizer quem é irritantemente mais enfadonho: Murilo Salles, Clarah Averbuck, Leandra Leal ou Camila Jam. Cada um na sua esquizofrênica arrogância, todos somam sua parcela de trejeitos simiescos a um contexto supostamente moderno: o apê caindo aos pedaços, o Centro velho, o blog, o dispensável estiloso “puta-que-pariu” o tempo todo, como se estivesse vociferando ali para encobrir o eco do vazio do discurso. Salles até tinha uma coerência artística, embora toscamente trabalhada, nos antecessores Quando Nascem os Anjos e Seja o que Deus Quiser. Uma série de situações e preconceitos decorrentes de mal-entendidos. Equívocos sociais que se intensificam a partir de atos falhos lingüísticos lacanianos. Aqui o diretor abandona essa veia autoral. Preocupa-se um pouco mais com o ambiente, os espaços cênicos, algo que tratou com um certo desleixo nos anteriores. Mas isso não basta. Camila bêbada e promíscua é um antro niilista de seus frágeis e bocejantes tremeliques. Vítima da falcatrua de suas próprias verdades. O emaranhado de tocos de cigarro, visualmente um paralelo ao emaranhado de fios e cabos do computador, traduzem a confusão mental dessa vadia cibernética. Nome Próprio quer atingir algo que não se propõe a fazer. Nome Próprio não é substantivo de coisa alguma. Apenas uma viagem lisérgica com o gosto amargo do vermute de alcachofra dos botecos do Largo do Paissandu.

Caldo

Onde os velhos têm vez

Um moleque de 18 anos que questiona os procedimentos internos de uma empresa é rebelde. Um jovem de 30 anos que questiona os procedimentos internos de uma empresa é piqueteiro. Um senhor de 50 anos que questiona os procedimentos internos de uma empresa é consultor de marketing.

Rocky Gol

Desconfio embasadamente que os criativos da agência de publicidade Almap não entenderam muito bem o espírito da coisa sobre a volta do Silvester Stallone às telonas. Rocky foi uma demonstração apaixonada sobre o dar a volta por cima, resgatar valores e técnicas considerados antigos e ultrapassados. Rambo usou o que há de mais moderno cinematograficamente (câmeras, ângulos, cortes, efeitos), mesmo que tenha retomado um assunto sessentista (sem a alusão repaginada sobre a Era Bush). Que o ator-diretor tenha se esmerado em fazer uma autoparódia, isso é evidente. Mas existe uma diferença muito clara entre a auto-referência assumidamente anacrônica e o deboche. A nova campanha para TV do Gol, tão engraçadinha quanto ordinária, não disse exatamente a que veio. Gisele Bünchen (que está desaprendendo a falar Português a cada dia que passa e a cada alto cachê que ganha) é a associação à beleza padronizada e globalizada do automóvel que, cá entre nós, não é dos mais bonitos no mercado. Já o truculento deformado é a força, a garra, a eficiência, a facilidade brucutu de conduzir tal veículo. Stallone lutou boxe e atirou pra caramba em seus filmes, mas... artes marciais? O sustinho-surpresa “buu” do final é até cômico, um chiste inspirado, mas será que essa atitude agrega valor e conceito às características do carro? Este novo comercial virou uma espécie de desdobramento chique do YouTube, uma piada fílmica com poder de mídia massiva maior que o marketing viral mas, se espremida até sua essência vazia, logo logo cai no esquecimento. Qual será o resultado de vendas dessa campanha oca? Aumento do movimento nas videolocadoras?

Tropicália extraterrestre

Até hoje estou tentando entender exatamente o que foi a gestão Gilberto Gil no Ministério da Cultura. Pra mim, é uma figura além do seu tempo, do seu espaço. O que mais se diferenciou diante de uma galeria de palhaços-marionetes que compõem o Governo Lula. Gil é um performático, e parece que tratou a sua pasta como um show, um efêmero espetáculo de sons e luzes, à espera do aplauso da população. O musipoeta não se curvou à burocracia monárquica d’El Rei Inácio, e parece que não deu muita importância a atas, editais e insípidas Leis de Incentivo. O Velho Baiano saiu como entrou: musicou um discurso astrologicamente incompreensível, hermético e auto-referente. Agora, volta a se dedicar integralmente à cosmogônica baianitude berimbalesca de sua carreira-solo. Mas afinal, não era isso que ele vinha fazendo durante seu cargo público?

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Be Cuil

Com a Internet é sempre assim: uma molecada tem uma idéia de gênio, chama os amigos nerds pra fazer a programação desses insights malucos, ganha visibilidade, chama a atenção do alto empresariado que compra essa idéia por bilhões de dólares. Esses empresários abandonam o barco e copiam exatamente essa mesma idéia tão primitiva quanto maravilhosa, num outro ambiente de trabalho, como se fossem os pioneiros de uma nova geração de esquisitos porém focados em resultados.

Está nascendo um concorrente de peso ao monopólio Google: Cuil (pronuncia-se cool, legal, maneiro). Criado por ex-funcionários da empresa citada, o novo site de busca promete oferecer ferramentas mais avançadas, específicas e personalizadas, escapando daquele ranking de resultados por procura que pouco acrescentam à navegação. Ainda é cedo para avaliarmos a eficácia e lucratividade desta iniciativa, mas é bom lembrar que um dia o ICQ, o Netscape e o próprio localizador Cadê? um dia fizeram parte de nossas vidas virtuais.

Nós vamos estar regulamentando

Parece que alguém está começando a perceber a diferença entre persuadir e aporrinhar. Antes tarde do que nunca, está em estudos um projeto que normaliza e controla o assédio feito por profissionais do telemarketing. Tudo indica que o inocente cidadão poderá preencher um cadastro determinando sua opção por não receber estas inconvenientes ligações comerciais. A empresa que desobedecer a esta regra deverá pagar, de acordo com as primeiras informações divulgadas, uma multa de R$ 10 mil por ligação. Isso sim é uma atitude de bom senso que não infringe a paciência do consumidor. De nada adianta se investir milhões de reais em imagem institucional quando, no varejo, no boca-a-boca, esta companhia faz exatamente o contrário: contrata pegajosos militantes uniformizados nas ruas que catam vítimas desavisadas pelo colarinho, ou, neste caso em questão, atormentam o sossego domiciliar com os telefonemas dignos de palavrão. Se a proposta é controlar esse livre arbítrio e trazer um pouco mais de bom senso a essa descabida pouca-vergonha, de quebra o brasileiro ainda ganha um bônus com a medida: o fim do gerundismo, para o bem-estar do nosso corroído vernáculo.

Destak premium

Já se foi o tempo em que os jornais distribuídos gratuitamente nas ruas e em espaços públicos de transporte tinham conteúdo meramente popular. O apelo continua sendo o mais sucinto possível: pouco texto, muitas imagens, linguagem simples e direta, sem muitas brechas a reflexões. Mas as tendências de consumo parece que mudaram um pouco com a extensão viária e a abrangência desses periódicos. No destaque da programação cultural do jornal Metro da última sexta-feira, havia a divulgação do filme Duro de Matar 4.0, a ser exibido no Telecine Premium (TV paga). Talvez um pulo editorial que pode eliminar alguns preconceitos. O filme, é lógico, passa longe de um Kim Ki-Duk, mas não deixa de ser mais caro se comparado aos tantos cinemas em casa “é muito booom” do SBT e o patrão seo Sílvio.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Ecologicamente correto, my ass

Como o eufemismo ajuda muita gente a tirar o seu da reta. Em época de falatórios sobre aquecimento global, biocombustível, fontes alternativas de energia e outras mensagens ecopolíticas, esse cenário serve de prato cheio para infiltrados. Há sim uma evidente preocupação sobre o esgotamento dos recursos no planeta, que inspira discursos inflamados. O resto, puro oportunismo. Um exemplo desse exercício de pilantragem encontra-se em alguns postos de gasolina. É cada vez mais recorrente nos depararmos com faixas esclarecendo sobre o fato de que “estamos em reforma para adequação ambiental”. Tudo muito bonito, que faz parecer se tratar de uma auto-reflexão sobre conscientização ecológica. Nada disso. Nestas bombas ácidas e mal-intencionadas, não há sequer uma gota de responsabilidade social ou algo que o valha. Onde se lê uma menção a um possível ajuste às determinações ambientais previstas em lei, na verdade se enxerga nas entrelinhas “Sou um empresário salafrário. Adoro o lucro fácil. Não tenho o mínimo remorso em enganar o consumidor. Minha margem de ganhos não permite vender outra coisa a não ser gasosa batizada. Misturo, e misturo mesmo, água, éter, solvente, cachaça e tubaína no combustível que vendo. Estou cagando e andando para o rendimento do produto e a vida útil do motor do carro de quem estaciona nos postos de minha propriedade. Só que desta vez me pegaram. Não consegui subornar as autoridades. Paguei uma multa alta e não consigo passar pra frente esses pontos micados”. Ainda bem que alguém está fazendo alguma coisa para a saúde cidadã. E vocês não fazem idéia de como me sinto condoído com essas ações de panfletagem engajadamente benéficas daqueles que se dizem simpatizantes de um planeta mais respirável.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Greve grave

A Telesp era uma empresa confiável. Telefone fixo custava uma fortuna, tinha fila de espera que durava anos, tinha ágio no mercado negro, mas seus serviços eram sérios. A Varig era uma empresa confiável. Seus projéteis aéreos eram um pouco obsoletos, mas pelo menos naquela época avião caía bem menos e vôo quase não atrasava. O Metrô era confiável. Seguro, pontual e sem crateras. Bom, o que dizer então dos Correios? Uma das empresas mais sólidas e respeitadas do País, em inúmeras pesquisas de opinião. Imagem residual das melhores. Tanto é que até existia o serviço de resposta de cartas endereçadas ao Papai Noel. O carteiro do bairro era quase um vizinho nosso, a gente o recebia chamando pelo seu nome. Figura tão presente no nosso dia-a-dia quanto o açougueiro, o alfaiate, o dono da padaria, a vendedora porta-a-porta de Yakult. Não sou contra a privatização de empresas deficitárias, paquidérmicas e cabides de empregos. Mas, desde que se misturou capital privado a patrimônio estatal a um qualquer-coisa de sei-lá-o-quê que não pertence a ninguém, a bagunça ficou sacramentada. Não bastassem os professores, os agentes fiscais e os motoristas de ônibus, agora a gente tem que conviver com a figura do carteiro de braços cruzados pelo menos duas vezes por ano. Virou rotina, triste e lamentável rotina. São mais de 100 milhões de missivas acumuladas nos depósitos e nas centrais de coleta. Entrar em site que nos cobra alguma coisa e ter de imprimir algum tipo de boleto virtual virou uma via crucis. Isso sem falar nos vírus que andaram surgindo na Internet por conta desse caos. Entrega de encomendas, só se você tiver muita sorte. A Justiça brasileira ofereceu uma contraproposta relativamente razoável, mas o sindicato da categoria é bastante forte neste País e rejeitou a oferta. Hoje, nos deparamos diante de uma discórdia sobre uma questão pontual que diz respeito a reposições salariais e ajustes de benefícios. A longo prazo, se os simpáticos amarelinhos das calçadas continuarem irredutíveis, criarão e reforçarão uma denegrida imagem que ninguém de bom senso quer carregar. Se continuar assim, o carteiro bonzinho, pontual e que sabe de cor e salteado o número da nossa conta bancária será tão odiado quanto hoje são os motorneiros e motoqueiros. E você sabe como é difícil reverter o processo de queda de popularidade no país das paralisações.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Foi Carmen

Quando uma obra abre possibilidades para infinitos sentidos, normalmente deixa de fazer qualquer sentido. Se isso é uma virtude ou um demérito, fica a cargo de quem absorve esta informação. Esta parece ser a proposta da nova montagem de Antunes Filho. O início metódico de uma menina contando os passos obsessivo-compulsivos até chegar a determinado ponto do palco insinua um espetáculo cartesiano e devidamente marcado. Já a mudança de trajetória e a recontagem matemática quebram esse paradigma. Estamos então diante de uma série de possibilidades vetoriais e caóticas de apreensão e compreensão; cada um escolhe o seu caminho.

Abrir o leque não significa necessariamente encantar o espectador com os efeitos de sua multiplicidade. Neste caso, a montagem quase minimalista soa bem mais anárquica do que indutiva. É como se elenco e platéia fossem coniventes com o vale-tudo do quase-nada. Ambos estão no mesmo barco que perdeu o rumo. Existe sim um esboço da rigidez estética que caracteriza o autor (três senhoras enfileiradas, vestidas de preto, nos fazem lembrar o peso dramático de trabalhos pretéritos de Antunes). Mas isso se mistura em meio a outras cenas de um humor-fórmula do fácil agrado ou do difícil constrangimento. Foi Carmen não permite noções pré-concebidas; a cada instante, uma surpresa, uma ruptura. Este trabalho antididático não enaltece Carmen Miranda, tampouco destrói sua imagem. Se a maioria das pessoas conhece apenas seus signos mais marcantes (o chapéu de banana, o que a baiana tem, o rebolado e o tico-tico no fubá), é tão-somente nesses ícones que a peça se finca. Um espetáculo que trafega em desequilíbrio na linha que divide o simples e o simplório.

2 lentilhas

domingo, 6 de julho de 2008

Vídeo VIP

Em matéria de videolocadoras, difícil encontrar uma loja com prestação de serviços a contento. De um modo geral, as megalocadoras possuem um vasto acervo, mas tendem a multiplicar poucos títulos em várias cópias. Isso sem falar que, nos fins de semana, não se encontra quase nada. Como se não bastasse, o atendimento robótico e impessoal, perdido e lacônico no meio das tralhas que funcionam como complemento de vendas (doces, refrigerantes, pipocas e outras guloseimas), reforçam a noção de um fast food da Sétima Arte. A Blockbuster é um bom exemplo desse consumismo mecanicista. Adquirida pelas Lojas Americanas, esta marca se dobrou ainda mais ao caixismo rápido de supermercado. Quando entramos em uma de suas filiais, bate uma sensação de sei-lá-o-quê no meio do nada. Já as locadoras pequenas, de bairro, ainda resistem à cinefilia informatizada. Em muitas delas o atendimento é cordial e os funcionários entendem um pouco mais do que o código de barras do verso das caixas. Mas o repertório cinematográfico disponível ali é minúsculo, reduzindo-se em alguns casos ao gosto particular do proprietário da loja. Quem soube equacionar esse dilema foi a rede Premiere Video, com filiais basicamente nas regiões Sul e Oeste. Em visita feita à unidade do Brooklin (R. Padre Antônio José dos Santos), na sexta-feira 4 de julho, pude constatar que o pessoal entende do riscado. Além de um ótimo atendimento, prestativo no sentido de se oferecer o que eu procurava, a locadora tem um acervo raro comparado às concorrentes. Numa rápida batida de olho, percebi que há desde as vendas garantidas como também um espaço razoável para apostas arriscadas, algo que podemos ousar chamar de "filmes de arte". Para quem acha que somente a 2001 monopoliza os títulos mais "difíceis", taí um nome pra quebrar um pouco essa hegemonia e ampliar o perímetro de boas opções com serviço de primeira.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Teleafônica

Não bastou ser a musa inspiradora de comunidades no Orkut detratando seus serviços. Não bastou ser o exemplo nº 1 em mau atendimento, espera interminável no atendimento telefônico, cobrança indevida de serviços não oferecidos e complicações diárias aos usuários que optaram por seus serviços de conexão por banda larga. A Telefônica, campeã absoluta de reclamações no PROCON, aprontou mais uma para os paulistanos. Misteriosamente, uma série de sites e serviços deixaram de funcionar por 24 horas. Boletins de ocorrência, só se houvesse flagrante. Atendimento no Poupatempo, inoperante. Isso é inadmissível numa das maiores metrópoles consumidoras de tecnologia. Nem mesmo a empresa soube explicar o ocorrido. Rolaram boatarias desde problemas técnicos nos roteadores até sabotagem comercial. Isso sem falar nos amargos complementos da cidade, como greve dos Correios, semáforos quebrados, obras da Comgas em vias estratégicas. Se a maioria das empresas quer vender a imagem de que a sociedade do mundo moderno está cada vez mais conectada, é bom tomar providências nesse sentido. Caso contrário, irão desperdiçar seu verbo e não conseguirão reverter as conseqüências desse sonoro bullshit.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Libertadores da América

Não tem nada a ver com o jogo de ontem. Odeio futebol. O Fluminense não faz diferença nenhuma em minha vida. Mas foi comovente o depoimento da Ingrid Batencourt, prendeu muito mais a atenção do que qualquer disputa de pênaltis. É inaceitável, na Era da Informação, os principais setores lançarem metas e discursos supostamente voltados ao desenvolvimento social e à paz no mundo mas, por outro lado, cerrarem os olhos para a barbárie humana. Os narcoguerrilheiros deveriam ser uma espécie em extinção. Não dá para abraçar a causa de uma quadrilha falsamente revolucionaria, mas que mantém vínculos comerciais ilícitos com Fernandinho Beira-Mar (que, por sinal, foi um dos culpados indiretos pela morte do jovem na porta da boate no Rio de Janeiro). O mundo não pode estar conectado por essa hediondice (ou idiotice). Boa atuação do governo colombiano, que conseguiu libertar a senadora. O Equador festeja; não por ganhar um titulo inédito em pleno Marcanã, mas por colaborar com a derrota da fraca Farc.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Quase anagramas

Ontem almocei camarão e jantei macarrão. Hoje, a mesma coisa. Camarão, macarrão. Macarrão, camarão. Parecidos, só mesmo no dicionário.

Tomou, dançou

Em tese, tudo parece xiita demais. Mas quando a situação passa dos limites e o que está em jogo é a vida, a coisa não assume essa conotação tão injusta assim. Parabéns pelas medidas extremas de prender motoristas alcoolizados e reduzir a tolerância aos níveis de teor alcoólico no sangue. É polêmico? Sim, é polêmico. O sistema de transporte público não funciona à noite, os taxistas de plantão nem sempre são confiáveis, a escuridão das ruas não motiva a se dirigir dentro dos limites de velocidade. Mas o alcoolismo é a principal causa dos acidentes de trânsito. E o Brasil lidera o ranking de acidentes automobilísticos. Ou seja, não dá mais pra ser conivente com a imprudência e a imperícia. Essa medida precisa de ajustes? Sim, precisa de ajustes. Mas, enquanto não chega uma força abrupta para mudar o estado das coisas, nada relevante acontece. Toda e qualquer iniciativa, ainda que crua e embrionária, pensada para se poupar vidas inocentes (nada religioso, apenas me refiro a pessoas no lugar errado na hora errada), é válida. Há um projeto de lei que determina que o air bag seja, com o tempo, um item de série obrigatório em todos os veículos, para todos os passageiros. Ainda existe a força da resistência que rejeita os métodos e o rigor dessa intolerância séria. Duvido que consigam algo mais adiante, a não ser perpetuar no varejo a corrupção. Mas, de um modo geral, a sociedade está mais lúcida em relação à questão. Claro que aqui e ali surgem casos hilários que necessitam de adequações. Um padre gaúcho deixou de tomar o gole do vinho em suas missas. Um cidadão foi pego porque o bafômetro acusou a ingestão de álcool contido na fórmula de enxaguante bucal. Daqui pra frente, quem quiser pegar estrada está proibido de tomar sorvete de passas ao rum, chupar balinhas de licor. Mas, eu garanto, os efeitos dessa abstinência serão muito menos nocivos e preocupantes.

Comboio maldito

Passeateiros, podem chiar o quanto quiserem, mas essa medida austera nos trouxe um certo alivio. Muito bem-vinda a lei que proíbe os caminhões de médio e grande porte de circular pelo Centro expandido numa determinada faixa horária. Tá certo que o mais justo seria criar condições e ampliar a infra-estrutura para permitir a livre circulação destes chatos comboios. Mas, enquanto essas medidas de ampliação do Rodoanel e de uma normalização séria e rigorosa deste robusto transporte não chega, é mais do que válida essa fiscalização. Imprudentes, abusados, principais responsáveis pelos acidentes das Marginais, os caminhoneiros têm mais é que ter restrita essa liberdade anárquica. A padroeira Sula Miranda que me desculpe, mas a maioria da população não está muito disposta a encarar diariamente pistas bloqueadas e quilômetros de congestionamento por toda a cidade, num retrógrado efeito-dominó, graças a esse tipo de veículo inconveniente. Não são os únicos vilões dessa caótica terra-de-ninguém, mas que incomodam, incomodam.

O menino do polegar podre

Fala sério. As antigas boy bands sempre foram motivo de chacota. Os sub-Menudos das nossas terras, como Dominó e Polegar, nunca se destacaram por suas virtudes musicais. Mas o motivo da zombaria agora é outro. Rafael Ilha, ex-integrante da bandinha mata-piolho em questão, amargamente famoso no pretérito por tentar roubar um passe de ônibus de uma aposentada para comprar drogas, envolve-se novamente em um crime. Com a ajuda de enfermeiros de uma clínica de reabilitação, o peninsular garoto-problema tentou seqüestrar uma dona-de-casa, por meio de um mandado de seu ex-marido, numa história muito mal contada que acabou na delegacia. O que mais chama a atenção é o fato de que um ex-midiático ectoparasita ftirapterodáctilo, que já vendeu milhares de discos e provocou desmaios de várias adolescentes, agora esteja vivendo da mendicância de pequenos furtos. Triste fim de polegar.

Viagem ao Centro da Terceira Dimensão

Já que a exibição digital via Rain Networks anda cada vez mais prolífera e mais capenga, pelo menos uma boa notícia nos acolhe no que diz respeito a inovações tecnológicas. A sala 1 do PlayArte Bristol receberá, a partir do feriado de 9 de julho, um sistema inédito no Brasil, com tecnologia Dolby Digital 3D. Diferentemente do Real D, já conhecido no País, ele não utiliza tela prateada, mas uma tela nova, de 15x6,5 metros, que possui ganho de 1,8x1, enquanto a anterior tinha ganho 1x1. Com isso, a qualidade da imagem é ainda mais perfeita.

Os óculos também são diferentes. Mais sofisticados, com armação de plástico rígido e lentes de cristal; específicos para uso apenas no interior da sala. Após cada sessão, são higienizados e podem ser reutilizados. Provavelmente, o único item não-descartável desses multiplex da vida.