sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Brócolis

Semana passada, a filha da irmã de uma amiga nossa disse que gosta de comer brócolis. Ela só tem três anos, coitada. Onde esse mundo vai parar? Na minha tenra época infantil, eu e a torcida do Corinthians éramos mais chegados a cheeseburger, batata frita, salgadinhos de pseudo-sabor milho e cheiro de chulé, sorvete e pipoca. Parece que a manceba até gosta de Mc Donald's, mas... brócolis? Já imaginaram (faço aqui uma referência e uma reverência a um comercial que passava há alguns anos na TV... não lembro o produto) a criatura chorando por causa desse caule verde-escuro? Tentando roubar da mão do irmão mais novo um maço de acelga? Apontando desesperadamente para a mãe as beterrabas e quiabos nas barracas de feira? Jogando discretamente para o carrinho de supermercado pés e mais pés de rabanete? Elas é que são ecologicamente incorretas, pois estão acabando com o nosso verde!

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Zoológico chato

A fauna brasileira já foi protagonista de campanhas publicitárias memoráveis. O cachorrinho da Cofap, a formiguinha da Philco, o caranguejo da Skol, são alguns exemplos bem-sucedidos que entraram pra história da Propaganda. Mas hoje, não sei se por oportunismo, preguiça mental ou confusão de conceitos, estão martelando esta mesma tecla para expor uma idéia desgastada. E a bola da vez é o macaquinho. Se você comparar três comerciais recentes, vai perceber que tudo é muito parecido, que tudo gira em torno de um mesmo processo criativo. Todos eles se utilizam de um efeito youtubesco por sua tosquice para trazer algo supostamente inusitado, ou seja, os micos fazendo movimentos um pouco mais parecidos aos dos seres humanos. O comercial do Palio Adventure, infeliz pelo seu efeito nonsense, traz a música e a dança como forma de cativar o nerd que foge das metrópoles. A campanha do uso consciente do etanol é um pouco mais adequada à sua proposta, já que apresenta a farra dos bichanos num primeiro momento e o tratamento VIP dodo ao motorista num segundo momento, ilustrado pela limpeza do pára-brisa do automóvel. Um pequeno avanço em relação a essa onda de imagens da modinha, que não se pretendem se cercar de significados e de justificativas. Mas nada extraordinário se comparado a tantas outras campanhas que colocam o Brasil numa posição privilegiada na Propaganda. Já o terceiro filme, a que assisti ontem à noite, é uma aberração só. Um garoto atrapalhado cai num bueiro do zoológico porque está com fome. Um desperdício criativo para vender cup noodles (aquela gororoba, aquele miojo de copão). Se você fizer um exercício de apagar do filme o produto, a marca e a estratégia de vendas, vai achar que se trata de três versões de um mesmo filme. Setor globalizado é isso: o compartilhamento dos iguais. Idéias em códigos de barras. Marcas que caem no precipício do esquecimento. Pena que a criatividade sincera que no passado colocou o Brasil em patamares melhores seja uma espécie em extinção.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Leila Lopes

E já que hoje minha tara escrita aflorou, não dá pra deixar passar batido o fato de que a atriz Leila Lopes vai posar nua para uma revista masculina, digamos, um pouco mais aberta e ousada do que a Playboy. Leila, que já teve seus dias mais pudicos e recatados em seus personagens de novelas mais familiares, parece que arregaçou mesmo tudo aquilo que tem pra mostrar. Protagonizou recentemente um filme pornográfico da série Brasileirinhas, "com história" (exigência da atriz, tsc, tsc...). E, agora, tem de aproveitar este momento, já que anda meio esquecida de ser convocada pelos diretores globais. Pelas imagens de divulgação que andei observando, a rediviva atriz em nada carrega aquele semblante meigo e apaixonado que a consagrou nos folhetins eletrônicos. Ela está toda perua, toda repuxada, mais parecendo a cantora Rosana pós-plástica do que a Regininha namoradinha Duarte. Leila agora faz parte de um elenco que tem consciência do peso ingrato da idade. Que, assim como a Gretchen e a Rita Cadillac, está se enterrando aos poucos e aproveitando os últimos trocados que ganha ao desfilar num peep show. Que pena, Leila. E boa sorte, Leila. Seja bem feliz nessa sua nova fase artística tendo Alexandre Frota como seu mentor intelectual.

Feira de mulheres

Confesso estar meio por fora das convicções político-ideológicas e das visões de mundo das mulheres-fruta que vêm brotando todo dia na imprensa. Não conheço nenhuma, mal devo ter visto o rosto delas (sim, elas têm rosto!). Assim como a Tiazinha, Feiticeira, Carla Perez e outros apagados ícones do passado, a fama desta parcela do universo feminino vem pelas suas partes pudendas, pelo seu gigantesco e abençoado derrière. Nada contra, muito pelo contrário. Já que o Brasil exporta a imagem de que seu povo pensa pela bunda, que esta carnuda nádega seja, pelo menos, campeã olímpica absoluta. O problema é o aspecto efêmero desta fama: tão logo elas caem do pomar, a mídia dá sua apertadinha, grita como feirante pra freguesa levar pra casa e logo, logo amadurecem e apodrecem. Sou intoxicado diariamente com um insistente banner internético da garota-melancia, capa da última Playboy. Notícia velha, que já virou papel pra embrulhar o peixe desta mesma feira livre. Depois dela vieram a garota-melão e, parece, agora a sensação fructuosa do momento é uma tal de Grace Kelly, a garota-maçã que nada tem a ver com o talento artístico homônimo hitchcockiano do passado. A grande vantagem para o público masculino babão é que todas essas musas já vêm com suas roupas descascadas, facilitando a apreciação de suas magníficas polpas. Tudo muito carnavalesco, tudo muito carmenmirandesco. O Brasil é nada mais do que uma somatória colorida de bananas, abacates, laranjas, abacaxis, goiabas e carambolas. Explorado pela natureza até virar bagaço político. Mas algum dia foi diferente?

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Alphafrille

Só pra deixar registrado que minha resistência aos novos focos comerciais é voto vencido. Estou temporariamente free-lancer numa agência de comunicação em Alphaville, a cidade planejada, o Projac dos paulistanos, o falso paraíso cenográfico. Aqui tudo é de plástico. As plantas parece que receberam uma dose injetada de ácido botulínico. Adoro a Paulista, adoro o Centrão, mas há uma incontida força centrífuga que me coloca em perímetros cada vez mais longínquos do bas-fond e da esbórnia mendiga. Vamos correr atrás do dinheiro, como se estivéssemos fugindo das pessoas. Não temos tempo a perder. Corro, corro, corro atrás das cápsulas de bem-estar.

Gramado ou tapete?

Foi tão notória quanto necessária a presença da minha mãe no último Festival de Gramado. Ela não só fez parte do Júri Popular, como também foi fotografada, foi assediada, foi entrevistada e, se não me engano, modéstia inclusa, ofuscou algumas celebridades emergentes. Ontem (segunda-feira), saiu novamente matéria no Caderno 2, em entrevista concedida ao Merten, na qual ela colocou em questão o lado fanfarrão e tapete-vermelho do evento. Uma espécie de Oscar brasileiro, dada a quantidade de holofotes, autógrafos, bochichos e demais badalações inversamente proporcionais à qualidade dos filmes em competição. Mas isso tudo já era sabido. O festival de lá promove o clima frio e seco, o chocolate, os batons e vestidos, mas pouco leva em consideração a Sétima Arte. Tanto é que alguns cineastas boicotam o evento e guardam seus rolos para apresentar em festivais mais "sérios", como São Paulo, Rio, Brasília, Recife e Fortaleza, entre outros. Claro que a organização do festival foi impecável. Claro que guardo uma certa inveja, dada minha impossibilidade de comparecer a esse show de notoriedade no vascão. É como se fosse a perda da virgindade. Depois que minha mãe conheceu a maratona cinematográfica do Rio de Janeiro, não largou mais. Ainda não é certo se essa overdose sulista se repetirá nos próximos anos. Mas o saldo dessa experiência foi bastante positivo. Mesmo que esse descabacismo tenha se dado com o lado fútil e efêmero dessa arte que abriga Lázaro Ramos e Grande Otelo.

Ilusionismo

Quem me conhece mais a fundo sabe que não sou muito chegado a esportes. Mas, com tanta matéria e destaque para as Olimpíadas, inclusive recorrentes interrupções na programação cultural normal, vou deixar aqui meus lacônicos comentários. Foi legal isso tudo sobre Beijing, continuamos sem conhecer o outro lado do mundo, fomos mais uma vez massacrados com os estereótipos da informação, nada se falou sobre o movimento de emancipação do Tibete. E aquele show de falsidade ilusionista comprova que, independentemente das posturas e convicções ideológicas, independentemente do estado emergente ou não da economia, o mundo aplaude cada vez mais o espetáculo. A pirotecnia previamente filmada, a menina cantora que não cantava, tudo muito fílmico, fantasioso e esquizofrênico. Desconfio até que aquele tal de Phelps, aquele chester aquático, é cria de laboratório. Não existe no mundo real, nas ruas urbanas, não compra jornal, não vai à padaria, não anda de metrô. Outra enganacionice, claro, foram os brasileiros. A gente até torce por eles, mais por compaixão do que por esse sentimento patriótico hipócrita. Eles não são Ronaldinhos, não são patrocinados por marca de tênis e, portanto, mesmo tendo a família barrada de entrar nos estádios, merecem nosso contido apreço. Mas, trazer ouro para as nossas divisas que é bom, nada. Morrem na praia. Que pena. Esse é o verdadeiro ranking do Brasil: tímido, sufocado. Virtual demais para fazer com que as Olimpíadas 2016 na Rocinha do Rio de Janeiro se tornem uma realidade iminente.

domingo, 10 de agosto de 2008

De cara nova

Demorou, mas chegou. Parabéns à equipe do Cinequanon e a todos os envolvidos na nova identidade visual do site. Como tudo na Internet muda todo dia, era necessário tirar algumas gorduras que não estavam acrescentando muito à navegação. Não se trata apenas de um novo layout. Isso, óbvio, é muito importante e traz um frescor à página. Mas a eliminação das poltroninhas, por exemplo, indica que o objetivo do site não é mais o de focar as salas de cinemas, mas, nos dias de hoje, ir além delas. Tudo foi bem pensado. Colunas natimortas foram finalmente desativadas, e essa dura decisão vai muito de acordo com estímulos e respostas. Novos grupos foram acrescentados, outras colunas foram reformuladas, novos editores e colaboradores foram integrados, enfim, temos aí um objeto de apreciação que vai muito ao encontro do que se está fazendo na web hoje em dia. Claro que ainda precisam ser feitos alguns pequenos ajustes, mas, como boa parte do sítio é reformulada com base na experimentação, nada que o tempo não resolva. O Cinequanon tá mais funcional, mais dinâmico, tirou um pouco aquela cara de pouco atualizado. E agora alguns blogs previamente selecionados estão vinculados ao portal. Dá para acessar o Lentilhas Vesgas direto da página Cinequablog do www.cinequanon.art.br. É bom lembrar, pra quem é marinheiro de primeira viagem, que o conteúdo das Lentilhas não tem nada a ver com o site, e que aqui o foco não é específico sobre cinema. Mas acho que, nessa via de mão dupla chamada ciberespaço, uma mão lava a outra. E, depois de uma boa reforma, lavar as mãos é algo tão necessário quanto relaxante.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Bye, Charles

O pub/bar Charles Edward, na Juscelino, nasceu junto com a explosão do Itaim-Bibi e da Vila Olímpia. Foi erguido dentro do processo de proliferação de bares, danceterias, points e baladas dos endinheirados que escolheram o Vale do Silício para ostentar sua riqueza e sua modernidade. Posteriormente, acompanhou o repentino levantamento de prédios e mais prédios na região, que aos poucos foi mudando seu foco e se sedimentando como uma área mais business. Resistiu bravamente ao desmanche, façanha que diversos congêneres não conseguiram: Dado Bier, Valle Sport, Cervejaria Continental, entre outros. Durante um bom período, Charles Edward era o single, o único bar de paquera que destoava diante de tantos espelhados e emergentes arranha-céus que, num interminável duelo titânico, brigam pelo espaço que não era deles. Mas parece que não teve jeito. A sua cor meio Johnny Walker marrom-avermelhado e amarelo-claro estava fora do contexto das betoneiras e da constante poeira de calcário. A placa vende-se, afixada no tapume de um vácuo ao lado, é o seu grito agonizante. Nosso Carlos Eduardo não será mais o responsável pelos uísques que abordam as caipirinhas, pelos casamentos arranjados, pelo namoro do dia seguinte, pelo você é a mais linda do mundo ou a gente tem tudo a ver. Em seu lugar, entra de plantão o ascensomídia e seus botões informatizados, estabelecendo um diálogo por meio de bipes com a comunidade yuppie que encontrou outra cercania para encher a cara.