sexta-feira, 10 de junho de 2011

O Eduardo, a Mônica e a África

Particularmente, tenho algumas ressalvas em relação ao comercial da Vivo, criado pela agência África, produzido pela O2 e dirigido por Nando Olival. Aquele que mostra cenas de um casal jovem nos dias de hoje, com a música Eduardo e Mônica, do Legião Urbana, ao fundo e na íntegra, em homenagem aos 25 anos da canção que marcou uma geração. Essa homenagem de oportunidade, produzida especialmente para o Dia dos Namorados, estendia a mensagem para outros casais, aos tantos outros Eduardos e Mônicas espalhados pelo país que precisam de um celular para comunicar suas afinidades e suas diferenças. O filme até que é bonitinho, com boa fotografia, um jogo de luzes e contrastes legal, muito bem editado. Mostra que o povo discípulo de Fernando Meirelles entende do riscado. Mas eu acho que, se por um lado sobra beleza, por outro falta inteligência. A música que a gente ouvia no rádio ou no disco de vinil sugere situações que cabe à nossa fértil imaginação enriquecê-las. Cada ouvinte construiu o seu Eduardo e a sua Mônica de acordo com sua vivência e seu repertório. Traduzir em imagens o ritmo e a ginga de uma música que mais parece letra cantada faz perder um pouco desse encanto imaginário. Como se não bastasse, o clipe se pauta única e tão somente pelo significado dessas imagens. Ou seja, é nada mais do que uma decupagem traduzida de cada verso, como se fosse uma fotolegenda em constante processo de animação. Eduardo e Mônica, by O2, reduz o sentido da música ao invés de ampliá-la. Mas tudo bem, opinião minha. O fato é que o clipe foi um fenômeno da internet, com milhares de “curtir” e encaminhar, além de depoimentos emocionados que corroboraram esse repasse viral.

No dia seguinte, alguém não sei quem espalhou um outro comercial em formato de videoclipe, de uns 10 anos atrás, com a mesma música do Legião ao fundo dando ritmo às situações cotidianas de um casal de jovens. E o que é pior, a venda anunciada também era de um serviço de telefonia móvel. A agência África é, indiscutivelmente, uma das maiores, melhores e mais respeitadas do país. A Vivo, uma das principais operadoras. Não é o caso de se fazer um filme, que custa milhões de reais entre produção e veiculação, de qualquer jeito. Mas, assim como outros tantos exemplos de propaganda parecida, fica difícil dizer se a réplica é o resultado de uma simples e infeliz coincidência ou de plágio. Claro que a “vítima” poderia se defender dizendo que os contextos são diferentes. Enquanto na referência mais antiga a música servia apenas para ilustrar um conjunto de situações, nessa versão remodelada a música é o protagonista, e as imagens giram e funcionam em torno dela. Mas mesmo assim, a coisa tá muito descarada.

Esse episódio, um em um milhão, reitera um achismo meu, mas que pode dar margem a estudos e debates mais sérios, quem sabe talvez. Com internet não se brinca. Hoje, é o fenômeno mais midiático no que diz respeito à opinião pública. Aquele que um dia causou comoção virtual transformou-se, em menos de 24 horas, num dos agentes mais odiados da comunicação, justamente por uma suposta ação de má-fé. Se a internet não tem dono, se o meio virtual virou um mercado de putas, onde tudo aquilo é de todos e ao mesmo tempo não é de ninguém, por outro lado esse xerox visual deveria ter tomado certas precauções. É muito perigoso, e agora ficou provado, exibir algo com cara de quem quer ser original. Se a intenção de se fazer referência ao passado é clara, aí tudo bem. Não foi o que ocorreu com a África nesse caso específico. A rede mundial de relacionamentos tem esse poder de gerar amor e ódio com a mesma velocidade e intensidade. O problema é essa história toda depois de tudo isso cair no esquecimento, maculada pelo copy-paste que não passou despercebido. Quem irá dizer que não existe razão...