segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Cutucada inútil

Tem muita coisa que não entendo, mas também nem sei se quero entender. A velocidade das informações hoje em dia, por exemplo, tá mais com cara de pressa do que rapidez. Pensar que essa agilidade e efemeridade de conteúdo pode gerar transformações sociais e culturais, no entanto, é dar um passo maior do que a perna. Terrível engano. Eu me vejo num contexto social muito mais estanque do que, por exemplo, de 20 anos atrás. A capacidade de proliferação da mensagem é ilimitada, fato. Mas a capacidade de retenção é limítrofe. E não param de espocar paradigmas que desafiam nossa inteligência, nesse sentido. O Youtube, por exemplo, é uma ferramenta dinâmica para compartilhar imagens. Teria tudo para ser, em princípio, uma gigantesca biblioteca de registros do cotidiano ou uma compilação das mais variadas vertentes de exploração das artes visuais. Mas a realidade webcameragráfica não mostra exatamente isso. Até tem um vasto acervo de videoclips, programas de TV, etc. Entretanto, o que se sobressai é algo tão fútil que foge à minha razoável compreensão. Apenas para citar alguns exemplos do que foi recentemente considerado “fenômeno” do Youtube, temos a Banda Mais Chata da Cidade. Temos o travesti Luisa Marilac em uma piscina de hotel, tomando “uns bons drink” e falando que deu a volta por cima. Temos um moleque que se diz “polêmico” ao mostrar seus mamilos. Sim, ele só faz isso. E, ainda mais recentemente, temos uma pérola saindo do forno que já virou febre no que se refere à quantidade de acessos: um bêbado, travado de tão alto seu grau de alcoolismo, tentando achar a chave do carro. Segurando uma latinha de cerveja Cristal, o ébrio motorista fala pro amigo que está filmando a cena que não tem ninguém que o “tucuta” no Facebook. Nada demais nesse vídeo. Nada demais mesmo. Esse moço é apenas um em um milhão, um caso típico de um bêbado chato, que troca algumas letras e entra naquela fase deprê quando toma umas a mais. E o Youtube parece que virou isso mesmo. Não sei por qual motivo, elege como se fosse um sorteio de loteria aqueles vídeos que entram pra história ou amargam o fracasso do esquecimento, sem critério algum de diferenciação. Como sintoma sociológico, merece até uma certa atenção, mas sem muito interesse. Saiu da moda a grande produção do videoclipe, bem como as trapalhadas flagrantes tipo videocassetadas. O que funciona nessa rede é o registro das coisas mais banais do planeta. Culturalmente falando, trata-se de um fenômeno nulo, irrelevante. É deprimente acompanhar esses rumos culturais. Depois do pós-Modernismo, assistimos à sociedade caminhando pra era pré-Antiga. Compartilhar esses vídeos que propagam o niilismo cibernético é alimentar um paradoxo: quanto maior o acesso à tecnologia de gravar e de filmar, pior é a peneira que filtra a baixa qualidade. Esses vídeos-coqueluche até promovem um ou outro gracejo, mas são infames demais no quesito comicidade. A maioria já nasce com o intuito de se tornar celebridade virtual, pois mostra o protagonista olhando pra câmera, tratando o interlocutor desconhecido como se fosse um amigo íntimo. Já o último, o do bêbado solitário, é feito de uma maneira bem cruel e que fere a ética: o personagem pergunta se está sendo filmado e o iphoneman diz que não. Se as redes sociais nada mais são do que glorificar a mediocridade, fico então com a desaceleração que não leva a lugar algum, na espera e na inerte espreita de que daqui a alguns anos iremos encontrar o verdadeiro sentido do maior site de imagens do mundo.