sábado, 5 de janeiro de 2013

Cidadão Kane

Outro dia me perguntaram qual o melhor filme da minha vida, de todos os tempos. Em princípio, me recusei a responder, pois sou meio contra listas. Acho difícil e ingrato categorizar filmes tão diferentes numa mesma escala de valores. E um filme pode significar algo pra mim, hoje, e num outro momento perder essa significação. De qualquer forma, atendendo à insistente solicitação, respondi que o melhor filme pra mim, no momento, talvez seria Cidadão Kane. E a resposta, em coro, foi "não me decepcione". No começo eu estranhei a reação. Custou-me entender como a escolha de um filme tão unânime, atemporal e irretocável pudesse ser, digamos, "decepcionante". Aí, com o tempo, caiu a ficha. Suponho que, para essas e outras tantas pessoas, eleger um filme que poderia muito bem constar em 99% das listas dos mais renomados críticos, bem como em listas do açougueiro da esquina (nada contra os açougueiros, por favor... até porque nem creio que ainda existam açougueiros de esquina), é nada mais do que a repetição do lugar-comum. Espera-se, de um modo geral, que pessoas com um conhecimento um pouquinho acima da média tragam títulos inusitados, como, por exemplo, algum super 8 de início de carreira do Hong Sang-soo. Ou lancem um tratado polêmico na roda de discussão, como Dogville, do von Trier. Ou, em última instância, para derrubar preconceitos entre arte e entretenimento, sejam ainda mais insólitos ao confessar a predileção por Curtindo a Vida Adoidado. Elencar Bergman, Kubrick, Hitchcock, Kurosawa, entre outros, ou até mesmo Tarantino, como o melhor cineasta de todos os tempos, por mais verdadeiro que possa parecer, soa mais como chavão do que como uma manifestação pessoal de gostos e interesses. Desculpem, não sou tão excêntrico quanto deveria ou gostaria de ser. Mas, atendendo a pedidos, por que não finalizar com uma provocação? Meu segundo melhor filme de todos os tempos, na avaliação feita em janeiro de 2013, é Sin City.