segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Exigências

Eu quero um parque de diversões em minha suíte presidencial. Eu quero animais exóticos decorando o ambiente, eu quero 750 toalhas de linho persa bordadas com as iniciais do meu nome. Eu quero uma cama imperial royale em mogno e colchão com molas massageadoras antiestresse. Eu quero meia-dúzia de travesseiros de penas de flamingo e botão ativador do sono. Eu quero 45 cestas com frutas tropicais por dia, melhor não. Não dá pra confiar na natureza desses países do baixo-equador. Eu quero um personal trainer para cada músculo do meu corpo. Eu quero uma academia de ginástica ao lado da minha cama. Eu quero 250 cabides flexíveis. Eu quero uma máquina de fliperama, eu quero uma jukebox. Eu quero um monte de PlayStation instalado em meu banheiro. Eu quero uma garrafinha de água mineral potável gelada sem sódio a cada 5 minutos. Eu quero uma TV 3D de 60 polegadas. Eu quero um DJ a madrugada inteira. Eu quero uma banheira de ofurô com um consultor estético à minha disposição. Eu quero o Alex Atala cozinhando pra mim 6 vezes por dia. Eu quero um anão vestido de porteiro no corredor do hotel na porta do meu quarto. Eu quero um concierge particular para fazer minhas compras. Eu quero 18 dúzias de bromélias em vasos de porcelana chinesa da dinastia Ming. Eu quero 140 garrafas de uísque envelhecido 18 anos. Pensando melhor, muito rock and roll essa atitude. Não pega muito bem. Risca. Troca por 230 garrafinhas de Gatorade, 300 potes de iogurte desnatado e 950 barrinhas de cereal. Eu quero o roupão da Britney Spears. Eu quero um show ao vivo de stand-up do Danilo Gentili. Eu quero uma réplica de Modigliani na parede da sala. Eu quero 55 covers do Elvis Presley pra me fazerem dormir. Eu quero uma pista de dança com luzes de cores alternadas no chão. Eu quero uma jiboia. Eu quero uma fuinha. Eu quero brincar de Detetive com a Luana Piovani após os shows. Eu quero um espelho de realidade aumentada. Eu quero uma palestra exclusiva com o Fernando Henrique enquanto tomo meu café da manhã. Eu quero 195 sabonetes fluorescentes de Placa de Petri. Eu quero 90 vasilhames de xampu de extrato de girassol com pó de diamante. Eu quero 112 potes de creme antirrugas com ácido retinoico. Eu quero uma cesta com 80 pães de miga e azeite trufado. Eu quero um lago artificial com 17 carpas. Eu quero uma pista de Autorama com as mesmas curvas do Circuito de Monza. Eu quero um controle remoto com 94 funções. Eu quero a reprodução da Fontana de Trevi pintada no teto. Eu quero uma lâmpada que simule a luz de Paris às 6 da tarde. Eu quero uma lareira cujos contornos das labaredas tragam a imagem de Cristo. Eu nasci pobre, muito pobre, então eu quero é mais. Muito mais. Sou a atração principal do Rock in Rio, portanto, tenho todo o direito de me achar um semideus.

Globalização

Era pra ser uma festa vienense, um tipo de baile de máscaras em que tudo pode acontecer. Fiquei animado com a ideia, já que vi o flyer numa dessas casas de artigos indianos. Já no caminho imaginei de tudo, as possibilidades mais obscenas, como beijo grego, banho turco e mulheres de montão fazendo suas espanholas. O aviso era bem claro. A festa era no estilo americano: valor simbólico de entrada, homens levam bebidas, mulheres levam comidas. No sentido literal, em princípio. Um verdadeiro negócio da China.
A festa tava lotada. E tinha de tudo, de uísque escocês a tequila mexicana. Na entrada, um tapete persa recebia os convidados. Garçonetes em seus minúsculos vestidos pretos deixavam a calcinha branca ser comida com os olhos, de propósito. Elas viviam rodando o salão e servindo pedaços de pizza calabresa, portuguesa e baiana. Alguns preferiam se servir no bar. Americano no pão sírio. Ou churrasquinho grego. Cuscuz marroquino, quem sabe. Mas isso tudo era só aperitivo. As atrações principais seriam muito mais saborosas.
Mais ao fundo, luz um pouco mais escura e azulada, formou-se um corredor polonês. Um insólito convite ao fetiche. Mulheres depiladas com cera egípcia davam suas boas-vindas. O ambiente ficava cada vez mais estranho. A fantasia na minha cabeça só tendia a crescer. Formou-se em mim uma confusão mental, que misturava o medo com a excitação. Homens bombados mais à frente sem camisa, de calça justa e com máscaras de Hannibal Lecter, segurando seus pastores alemães pela coleira. Uma nesga de claridade recheava um improvisado ringue de boxe tailandês. E, no extremo profundo do salão, certeza de que o melhor da festa ali reinava. Uma grande porta de madeira trancada a sete chaves certamente escondia o primor do erótico, o alimento gorduroso e opulento da minha imaginação fértil. Apostei que adentraria num harém das arábias. Qual não foi a minha surpresa ao constatar que, ao invadir o fantástico mundo híbrido de Nárnia e Pamela Anderson, deparei-me com gorduchos carecas e seus anéis de ouro e charutos cubanos disputando um campeonato de roleta russa. Eu, hein? Saí à francesa e prometi nunca mais voltar para aquela terra de ninguém.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Trânsito

Saí de casa, peguei o carro. Entrei na Nove de Julho. O trânsito estava bem complicado na região. Fui até a 23 de Maio, mas uma manifestação bloqueou uma das faixas e impediu a passagem de carros. Segui até a 15 de Novembro, só depois fui me lembrar de que lá é proibida a entrada de carros em alguns horários. Cortei caminho pela 25 de Março, mas o comércio ambulante me impediu de trafegar. Continuei até a Sete de Setembro, lá longe, mas um acidente com uma moto deixou o trânsito ainda mais lento. Voltei pra 13 de Maio, mas a Festa da Achiropita bloqueou a passagem de veículos. Fui até a 12 de Outubro e uma colisão entre um carro e um caminhão paralisou o trânsito no meio dela. Escapei pela 24 de Maio, mas lá eles montaram um palco para um show musical. Dobrei até a Sete de Abril, mas lá estava tendo uma manifestação de bancários. Depois de tanto rodar, e rodar e rodar, desisti. Saí do calendário e voltei pra casa.

Pinto

Amâncio era irmão de Décio, que era primo de Delfino, sobrinho de Caio, tio de Jacinto, que, por sua vez, era meio-irmão de Armando, filho bastardo de Rolando. Todos eles tinham em comum, por uma infelicidade do destino, o sobrenome Pinto. O sobrenome, em si, até que é relativamente comum por essas terras tupiniquins. O problema mesmo era o conjunto formado pelo nome e sobrenome de todos eles. Vítimas frequentes de trocadilhos infames, zombarias, palhaçadas das mais óbvias e de um mau-gosto gritante. Nem os amigos poupavam esses membros da família de lascar um maldizer de vez em quando. Todos eles, sem exceção, sofreram bullying na escola. Até dos professores. Tinham dificuldade para arrumar emprego. Tinham dificuldade pra arrumar namorada. Às vezes até arrumavam, mas, bastava cair a ficha da moçoila, o namoro era rompido. Sofriam constrangimentos homéricos em cartórios e repartições públicas. Para esses integrantes da secular família, eram raros os momentos de felicidade inconteste.

Até que um dia, cansados de ser alvo de tantas piadinhas por tantos dias e anos consecutivos, o clã se juntou e, em conjunto, resolveram partir para o suicídio coletivo. Era mais digno, de acordo com os azarados. E, numa tacada só, o pequeno elenco desafortunado decidiu enterrar este linguístico brasão familiar de suas histórias, motivo de tanto desgosto. Numa sensação de angústia e alívio, o septeto então pôs um fim às suas vidas e aos seus cacófatos.

domingo, 1 de setembro de 2013

Diálogo

Diálogo tenso entre o presidente da Síria e o presidente da Coreia do Norte:
- 나는 폭탄을 촬영하기 위해 사랑 해요.
- أنا لا أذهب هنا.
- 나는 세계를 파괴 할 것이다.
- أنا سوف تجعل الكعكة.
- 코끼리 나비보다 무거워.
- أنا أكره تظاهرات شعبية.
- 나는 이발을 필요로!!!
- بحاجة الى ان نرى الفيلم أكثر الإيرانية
- 거울은 나를 미워합니까?
- حماقة المقدسة...
- 가서 좀 더 차를 데리고 잘 시간
- وقت للصلاة لمدة ثلاث ساعات أخرى
- 나중에 참조하십시오. 지옥에서 보자!
- إلى اللقاء فيما بعد. لعن الله لك لمدى الحياة!