sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Retrospectiva 2013

Não sou muito de fazer listas, por diversos motivos. Mas tenho visto várias delas por aí, de diversos assuntos, e acho que isso me inspirou a criar a minha. Trata-se de uma lista geral, sem critérios muito definidos ou ordem de preferência, muito menos escala de valores. Este compêndio mistura fatos globais e percepções individuais e subjetivas, com temas de maior ou menor relevância. Como toda lista, tem as unanimidades, as obviedades e, é claro, as polêmicas. Como ela se concretizou por meio de um exercício de memória, lógico que muita coisa ficou faltando. Mas vamos lá. Acho que lista não serve pra muita coisa, a não ser pro leitor pensar consigo "putz, é mesmo" ou conhecer um pouco mais de mim.

Brilhou:
O Som ao Redor, Bruce Springsteen, Black Sabbath, teatro Ecum, Joaquim Barbosa, Porta dos Fundos, Haneke, Woody Allen, povo nas ruas, Omelete, Nelson Porto, Head & Shoulders, anticonsumistas, Placebo, Cine Joia, Genoíno e Dirceu na cadeia, Candy Crush, Mostra de Cinema, novo namoro, Europa Filmes, Tarantino, Sorrentino.

Nem cheirou, nem fedeu:
Novos abrigos de paradas de ônibus, hambúrguer gourmet, festivais de música, documentários brasileiros lançados em circuito, Queens of the Stone Age, Agora é Tarde, projeção digital, salas VIP de cinema, iPhone 5, volta da MTV, guarani-kaiowá no Facebook, ligeiríssima queda dos valores imobiliários, Fábio Porchat, nova Coca Light, Augusta X Paulista como novo point hippie.

Fodeu:
Fluminense, PIBinho, Maracanã, trensalão, tomate, black blocks, comédias brasileiras, Franz Ferdinand, Anitta, azeite extra virgem, caos nas linhas de trem, Haddad, Paul Walker, cachorros de laboratório, morte do meu pai, inflação, pré-sal, morte de Ruy Mesquita e Roberto Civita (e consequentes demissões em massa nas redações), Naldo, funk ostentação, déficit comercial, término do novo namoro, Imagem Filmes, cabine de imprensa de Homem de Ferro 3, e-books.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Mix

Tatuagem, Azul é a Cor Mais Quente, Além da Fronteira e Um Estranho no Lago. Estão em cartaz quatro filmes com temática gay (homoerótica, GLBT, homossexual, como queiram...). Ao que tudo indica, trata-se de lançamentos que em nada espelham oportunismos de mercado, pois a famosa Parada GLBT ainda está longe de acontecer e, nesta época cristã de festividades, o assunto em questão não é dos mais apropriados para reunir a família, convencionalmente falando. Talvez seja apenas uma feliz coincidência: estes filmes, badalados em festivais recentes, aqui e lá fora (inclusive o Mix Brasil, especializado em títulos pertencentes a esse segmento), provavelmente estão com os prazos de validade pra vencer, no que diz respeito a questões contratuais, e precisaram, em tom emergencial, ser imediatamente desovados no circuito comercial. Hipóteses à parte, o fato é que o cinéfilo das metrópoles pode apreciar quatro bons trabalhos que colocam a homossexualidade não como um tabu, mas uma questão presente no dia a dia da sociedade moderna. São exercícios que não só projetam os conflitos gays, mas posicionam-se acima deles e, de longe, extrapolam os filmes de gueto, filmes de reduto, feitos por homossexuais e voltados para eles mesmos. Aqui, os exemplos colocam o assunto numa percepção que rompe com os seus limites, mas esse não é necessariamente o seu propósito. Ainda que suscitem discussões quanto aos exageros e aos olhares demasiadamente explícitos em sua demorada observação (e aí as fronteiras e os critérios variam de olhar para olhar), e ainda bem que provocam isso, o quarteto nos traz, de um modo geral, um resultado que traduz avanços estéticos e linguísticos. Há quem entenda que ali está um visível e notório esforço de se fazer “filme pra chocar, por chocar”, em alguns casos, e não condeno essa postura crítica, mas eu acredito que existe uma intenção mais forte e mais orgânica, inerente e fundamental a seus roteiros, e o “chocante” não está ali apenas como um epidérmico papel de parede para embelezar questões polêmicas. Tatuagem tem um tom libertário, funciona quase que como um esporro social, um jorro estético e político que confronta o conservadorismo da ditadura. Azul é a Cor... retrata a intimidade na sua essência, com o tempo (timing, melhor assim) necessário para que tanto as personagens quanto o espectador consigam de fato se sentir íntimos daquela situação, numa mistura contraditória de prazer e desconforto. Um Estranho no Lago é explícito por natureza, e natureza é uma palavra que não pode ser omitida em sua definição. A natureza convidativa do banho de água doce e do amor livre, junto com o incessante ruído sonoro dos insetos e dos ventos nas folhas de árvore que indicam que nem tudo está tão calmo naquela ilha paradisíaca. Já Além da Fronteira é o mais tradicional na forma, mas ainda assim traz um tema importante e faz o paralelismo entre os preconceitos sociais, ideológicos e raciais de maneira digna. Claro que nem todos esses quatro filmes estão no mesmo patamar de apreciação, mas, com certeza, estão muito acima da média de lançamentos. São trabalhos necessários, que funcionam bem mais do que uma simples opção pra se fugir das filas dos bilbos e dos elfos.


domingo, 8 de dezembro de 2013

Previsões para 2014


Janeiro:
Fernando Haddad cria faixas exclusivas para carrinhos de compras em feiras e supermercados. Nelas, é proibido circular pirralhos, idosos e cachorros.
Sem muito o que fazer, Congresso Nacional cria internamente o Bolão do Oscar. Prêmio dos parlamentares contemplados sairá dos recursos da Previdência.
Protestos de manifestantes acabam em confronto com a polícia. Depois de sair na capa da revista Época, líder feminina do grupo Black Block sai na Playboy. De máscara, é claro.
Fevereiro:
Cansado de não fazer absolutamente nada, Congresso Nacional cria recesso de carnaval, que vai de sexta-feira (7 de fevereiro) até quarta-feira (19 de março).
Protestos de manifestantes acabam em confronto com a polícia. Inspirados no filme de animação “Uma História de Amor e Fúria”, black blocks quebram o braço da estátua do Cristo Redentor.
Conglomerado de emissoras de canais de TV a cabo continuam tentando criar um concorrente pro Ibope. Neste novo critério de pesquisa, serão avaliados os domicílios de pessoas que procuram canais pornográficos no meio dos chuviscos e aquelas que dormem no sofá durante a programação.
Março:
Por causa dos congestionamentos de carros na volta às aulas, Fernando Haddad determina que os ônibus só poderão circular nas avenidas Sapopemba, Juntas Provisórias, Guido Caloi e Paes de Barros. A rua Vergueiro estava nos planos iniciais, se alguém soubesse onde ela começa e onde termina.
Dilma vai a Genebra e, em seu discurso sobre sustentabilidade, faz um pronunciamento idêntico ao seu discurso de posse, ao seu discurso de repúdio aos ataques da Síria e ao discurso sobre a morte de Nelson Mandela.
Fábio Porchat escolhido para ser o garoto-propaganda dos refrigerantes Dolly.

Depois da turnê de shows pelo Brasil, o cantor islâmico Cat Stevens inicia peregrinação em busca do sentido da vida, do corpo de Eliza Samudio e do paradeiro de Belchior.
Abril:
Empresas dos festivais SWU, Lollapallooza e Rock in Rio se unem para criar um grande evento musical: uma balada riponga na esquina da Av. Paulista com a Rua Augusta. Covers de Elvis Presley e Michael Jackson já estão confirmados.
Aplicativo Candy Crush bate recorde de solicitações de vidas.
Fábio Porchat escolhido para ser o garoto-propaganda das Casas Bahia.
Maio:
No Mês das Noivas, Gretchen aparece meia-dúzia de vezes nas capas das revistas Caras e Contigo, cada uma delas com um marido diferente.
Manifestações acabam em confronto com a polícia. Black blocks quebram, incendeiam, picham, mijam e cagam no Minhocão. População paulistana nem percebe a diferença.
Com a popularidade beirando a temperatura média da Noruega, Congresso Nacional cria internamente o Bolão da Copa. Prêmio dos parlamentares contemplados sairá dos recursos da Saúde e Educação.
Junho:
Confirmado: a sequência final da trilogia “Até que a Sorte nos Separe” será dividida em duas partes e também estará disponível nos formatos 4D e Imax.
Devido aos atrasos nas obras dos estádios dos jogos da Copa do Mundo, algumas partidas serão realizadas nas quadras do colégio Caetano de Campos.
Manifestações contra as manifestações que já encheram o saco acabam em confronto com a polícia. Sílvio Santos e Eike Batista, agora pobres e comunistas, flagrados junto com os black blocks depredando o símbolo mais contundente do capitalismo: as esculturas da Monica Parade.

Coca Zero estampa em suas latinhas os nomes de artistas e personalidades que a Globo colocou na geladeira.
Julho:
Depois de retratar fielmente a viadagem que foi o Império Romano, o diretor Zack Snyder prepara a continuação dos filmes 300, 600 e 900. Os nomes mais cotados para o desfecho são Truco, Zap e Manilha.
Fábio Porchat escolhido para ser o garoto-propaganda das operadoras Tim, Oi, Claro, Vivo e qualquer merda que aparecer no ramo da telefonia.
Apple anuncia o lançamento do iPhone 6S XPTO. A principal diferença em relação ao modelo anterior, de acordo com o fabricante, é a inclusão das letras XPTO. Preço de venda nos EUA: US$ 300. Preço previsto no Brasil: a partir de R$ 6.499.
Agosto:
No mês dos dias mais frios do ano, termômetros das ruas de São Paulo marcam o crescimento do nosso PIB.
Fabricante de roupas Diesel lança modelo de calça jeans que não deforma, não tem cheiro e não solta as tiras. Preço de venda nos EUA: US$ 300. Preço previsto no Brasil: a partir de R$ 6.499.
Antecipando-se cada vez mais às tendências de consumo e ao Natal, lojistas começam a vender panetones e a tocar aquela música deprimente no interior de seus estabelecimentos.
Setembro:
Escondidos num bunker pra não levar porrada do povo, integrantes do Congresso Nacional criam internamente o I Campeonato Interestadual de Biribinha. Custos de impressão dos volantes de apostas ultrapassam R$ 20 milhões. Recursos para a jogatina sairão do Bolsa-Família.
Depois de liderarem o movimento contra as biografias não autorizadas, Chico Buarque, Gilberto Gil, Roberto Carlos e Caetano Veloso se pronunciam contra o uso de minissaias e brigas de galo em piscinas. Djavan explica para a imprensa os motivos de tal postura, mas ninguém entende o que ele diz.
Fábio Porchat não é escolhido para ser o garoto-propaganda da rede de esfihas Habib’s. Para fazer a campanha de suas coxinhas, no seu lugar entra Luciano Huck.
Outubro:
Preparando-se para as eleições, Dilma inicia campanha num estilo bem retrô, prometendo trazer de volta a inflação, a moratória e os blazers com ombreiras largas.
Preparando-se para as eleições, o narcodependente Aécio Neves consegue falar 844 palavras no comercial de 30” na TV, dar 40 voltas no estúdio de gravação, beber 3,5 litros de água e cita o livro Pergunte ao Pó em seus debates.
Genoíno e Zé Dirceu iniciam rebelião em prisão ateando fogo em colchões. Maníaco do Parque, Fernandinho Beira-Mar, casal Nardoni e Louise Von Richtofdrwqweren temem que os meliantes sejam transferidos para o presídio de segurança máxima onde se encontram.
Novembro:
De um lado, o Mensalão, o Trensalão, a corrupção. De outro, Justin Bieber quebrando barraco em baile funk, Anitta se filmando no Instagram e o rapper coreano Psy lançando um novo e desengonçado hit. Luiz Felipe Pondé lança livro que faz uma analogia entre esses acontecimentos.
Tomate volta a ser o inimigo da estabilidade econômica. Para conter os gastos, donos de pizzaria substituem o ingrediente de suas massas redondas por produtos mais em conta, como camarão e azeite trufado.
Fernando Haddad aumenta IPTU em 200% e aceita iPhone, Audi e rim como parte de pagamento das dívidas.
Dezembro:
Confirmado: apesar da precariedade de sua infraestrutura, Brasil irá sediar em 2020 a Conferência dos Deuses do Olimpo.
Num gesto de modernidade, parlamentares do Congresso colam em suas cadeiras adesivos com as inscrições #Fui, #PartiuFérias e #AdoroTrabalharSóQueNão.
Chico, Gil, Caetano e o Rei miram blogueiros que fazem humor com Política e Cultura.