domingo, 21 de junho de 2015

Sábado perfeito

Sábado perfeito para passar com o namorado (do ponto de vista feminino):
- Acordar às 9h pro dia render;
- Tomar café da manhã na cama, servido por ele;
- Beijinho na testa de sobremesa;
- Ficar 40 minutos debaixo do chuveiro, pensando na vida;
- Passar creme anti-rugas no rosto, esfoliante, creme hidratante no corpo, creme depilador nas pernas, delineador nos olhos, batom, creme revitalizante no cabelo, creme reparador de pontas, base, desodorante para axilas sensíveis, creme com ácido retinoico e protetor solar fator anti-UV;
- Experimentar as 3 blusas e os 2 pares de sapato que comprou na sexta;
- Ouvir a opinião sincera do namorado;
- Não escolher nenhum deles e vestir a roupa da semana passada;
- Ir ao shopping;
- Passar por 8 lojas e ver as novas coleções de roupa;
- Experimentar todas essas 37 roupas das novas coleções;
- Agradecer a Deus pela paciência do namorado em esperar calmamente essa experimentação, recolhendo e organizando essas roupas experimentadas do lado de fora do provador;
- Passear de mãos dadas pelo shopping, pelo parque e por aquela concorrida exposição de arte;
- Chegar em casa cansada e receber uma massagem nos pés;
- Assistir a uma comédia romântica no Netflix no sofá debaixo de um cobertor comendo pipoca e recebendo cafuné;
- Dormir na comédia romântica;
- Acordar com um presente;
- Preparar um jantar romântico junto com o namorado;
- Jantar na mesa da sala à luz de velas ouvindo Miles Davis;
- Surpreender-se com a iniciativa do namorado de lavar a louça;
- Deitar-se na cama com travesseiros fofos e lençóis perfumados;
- Ouvir uma poesia do namorado;
- Dormir com um beijo na testa.

Sábado perfeito para passar com a namorada (do ponto de vista masculino):
- Acordar às 11h45;
- Montar na namorada pra fazer sexo matinal... e ela não reclamar;
- Ir ao banheiro e soltar aquele barro de 40 minutos enquanto lê o caderno de Esportes;
- Tomar um banho rápido;
- Ficar no WhatsApp enquanto a namorada passa aquele monte de creme;
- Usar a camisa de ontem e agradecer a Deus por ela não estar fedida;
- Comer pão na chapa de boteco;
- Ir ao shopping;
- Olhar vitrine de smartphone enquanto a namorada passeia pelas lojas de roupas;
- Encontrar-se com a namorada somente na última loja de roupas;
- Entrar de surpresa no provador da namorada pra flagrar ela com os peitos de fora;
- Comer no Mc Donald’s;
- Voltar rápido pra casa pra dar tempo de assistir ao jogo;
- Fazer sexo no intervalo do jogo;
- Pegar uma cerveja e dormir no sofá da sala;
- Acordar com o grito de gol do Galvão Bueno;
- Ir pra cozinha... pra pegar mais uma cerveja;
- Pedir uma pizza;
- Assistir à final do UFC;
- Ir pra cama e ver a namorada fazer strip tease;
- Sexo, sexo, sexo;
- Fazer campeonato de flatos com a namorada debaixo da coberta;
- Dormir com um blow job.


domingo, 7 de junho de 2015

Redes sociais

Mark conheceu Rosely pelo Tinder. Não chegou a ler seu perfil, mas clicou no coração verde por causa de uma foto de minissaia que ela exibia. Houve match. O corpo sarado de Mark na praia de Copacabana e o cabelo espetado com gel também chamaram a atenção da moça. Trocaram mensagens, cada vez mais picantes. Era a hora de saberem mais um sobre o outro.

Mark passou a Rosely seu perfil do Facebook e vice-versa. Ele, Marcos Roberto Vieira. Ela, Rosely Tagawa. 39 amigos em comum, entre eles o Rubens Ewald Perfil Lotado. E o melhor: ambos gostam de Muse e de Pulp Fiction. Passaram a se curtir cada vez mais. Nos posts diários. Rosely deu likes nos posts compartilhados por Mark: memes do Chaves, eventos do São Paulo e principais mensagens do PSDB. Mark até comentou os posts de Rosely se expondo emocionalmente para seus 417 amigos e familiares com mensagens finalizadas com "se sentindo alguma coisa". Começaram a vasculhar o perfil da pessoa virtualmente amada. Ele deu alguns likes nas fotos da viagem que ela fez pra Barcelona em 2013. Compartilhou aos seus 1.051 amigos e 19 seguidores um post em que ela reclamava do país e das filas no banco. Ela no começo relutou mas, como o amor é uma troca, também deu alguns likes nas fotos que ele postou bêbado com os amigos e sóbrio nos almoços da firma. Mark e Rosely abriam o inbox quase todos os dias e ficavam por lá durante horas saborosas e ininterruptas. Lembraram-se do Orkut, das comunidades iconograficamente representadas pelo Garfield e dos constantes "sorry, no donut for you". Trazer o passado também pode ser uma maneira eficiente de conhecer um pouco melhor o sexo oposto. Com o passar do tempo, essas horas se transformaram em minutos. As mais profundas confissões aos poucos iam se resumindo a breves e sintéticos emoticons. Quando faltava assunto, baixavam mais emoticons. Afinal, o amor precisa se renovar. E estava mais do que na hora de apimentar uma rotineira relação baseada em solicitações de vida no Candy Crush.

Trocaram Instagram. Ele, mark_mark. Ela, rosely_tagawa1988. Voltaram a curtir ainda mais a paixão que brotava em alto contraste e leves tons de sépia. Amavam perdidamente os selfies de biquinho e os desfocados pratos de comida. As hashtags #eusouocara e #curtindoavidaadoidado para eles era poesia pura. Mais fortes e menos sofridas que os sonetos românticos de Álvares de Azevedo. O fogo que arde sem se ver precisava alçar voos ainda mais altos e mais intensos.

Passaram a se seguir no Twitter. Ele, @markcavalera. Ela, @aroselydapuc. No começo, aquele ambiente de 140 caracteres e milhões de ofensas parecia um pouco estranho. Mas com o tempo foram se acostumando aos tweets das pseudocelebridades e dos perfis fake. Só que o amor pode até ser lindo no RG, mas no título eleitoral a história é outra. Rosely não se conformava com os clamores da volta da intervenção militar de Mark. Ele, em contrapartida, não podia admitir que ela pensasse que os escândalos da Petrobras foram armação da mídia direitista. A coitada começou a ver em Mark um babaca filhinho de papai só por causa de um ou outro retweet. E ele não aguentava tamanha arrogância de uma burguesinha que ia pras manifestações da Paulista registrar os protestos em seu iPhone 6. Essas divergências ideológicas transformaram-se em incompatibilidades, que se transformaram em implicâncias, que se transformaram em desaforos. Era impossível conviver com alguém que segue o Carpinejar.

Mark e Rosely, outrora magneticamente atraídos, precisavam aparar as arestas num espaço menos público. Trocaram WhatsApp. Tentaram se entender. Não conseguiram. Aqueles incessantes bipes sonoros eram o aviso de que estava pra chegar mais algum tipo de comentário maldoso, lacônico e irônico. O DR veio de uma forma cifrada e com incontáveis impropérios recheados por interrogações e exclamações. Muitos deles incompreensíveis por causa do corretor automático. Terminaram a relação, sem nunca terem se conhecido pessoalmente.