quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Previsões para 2016

Janeiro:
- Faxineiros do Congresso gastam 1 semana para limpar o sal grosso e as folhas de arruda espalhadas pela casa.
- Geraldo Alckmin decreta sigilo sobre lista dos aprovados na Fuvest.
- Michel Temer manda mensagem por Pager para Dilma a fim de rediscutir a relação.

Fevereiro:
- Na semana do Carnaval, Dilma diz que não cai. Em seu pronunciamento na TV, aparece com a faixa presidencial nas cores verde, amarela, azul, lilás, roxa, vermelha, laranja e um abadá.
- Polícia Federal confirma: faltam algemas para prender todos os envolvidos na Operação Lava-Jato.
- Anna Muylaert inicia filmagens de história sobre negro tetraplégico esquizofrênico assumidamente gay sobrevivente do Holocausto para ver se tem alguma chance de concorrer ao Oscar.

Março:
- Rede Record anuncia continuação de Os Dez Mandamentos. Fãs da novela divulgam spoilers nas redes sociais.
- Desemprego recorde, inflação galopante, crise no Senado e uma preocupação que assola todos os brasileiros: Joelma e Chimbinha reatam ou não reatam?
- Pela primeira vez na história, Jennifer Lawrence não tropeça em seu vestido na cerimônia do Oscar.

Abril:
- Excelentes notícias na mídia fazem otimismo do brasileiro crescer 67%, até eles se darem conta de um pequeno detalhe: era Primeiro de Abril.
- Em seu discurso sobre sustentabilidade, Dilma cita Rimbaud, saúda os ornitorrincos, faz alusão a Machado de Assis, pede cautela para as engenheiras sapiens, adverte sobre os perigos de estocar peidos e procura dar um sentido a toda essa confusão mental.
- Matemático Fernando Haddad cria lei para reduzir a 0 km/h a velocidade nas Marginais: “Com a velocidade de 0 km/h, num trajeto de 40 minutos, em condições normais de temperatura e pressão, a probabilidade de acidentes é reduzida em 100%”, conclui o doutor em Física Quântica.

Maio:
- Senadores treinam no MMA e mudam dieta para whey protein a fim de poder entrar nas cabines de votação de projetos e emendas.
- Torcedores pedem o impeachment de Galvão Bueno.
- Dilma é denunciada por utilizar recursos do orçamento para comprar amigos no Facebook.

Junho:
- Depois de acumular em mais de R$ 400 milhões, prêmio da Mega Sena vai para um único ganhador de Tocantins, o Sr. Delúbio Dirceu Cerveró Vaccari. Caixa Econômica Federal prova idoneidade e transparência na apuração dos resultados.
- Filho de Lula cobra R$ 5 milhões por relatório de seu instituto de pesquisa com base em respostas extraídas dos comentários de internautas do blog do Zé Simão.
- Facebook cria ferramenta que insere automaticamente após as postagens expressões até então nunca utilizadas pelos usuários, como “permita-me discordar de você”, “penso diferente, mas respeito sua integridade” e “nosso antagonismo ideológico só fez crescer o debate”.
- Depois de treinar intensamente na Lagoa Rodrigo de Freitas, atletas olímpicos Raphael, Donatello, Leonardo e Michelangelo conquistam Medalha de Ouro na prova de 100 m rasos em esgotos.

Julho:
- Geraldo Alckmin procura no Google o significado da palavra chuva.
- Queda de popularidade provoca profundas crises de depressão em ex-celebridades, como é o caso de Madonna, Charlie Sheen e pau de selfie.
- Fernando comunista Haddad pinta de vermelho as faixas amarelas das plataformas das estações de trem e metrô e aproveita o espacinho para criar ciclofaixas exclusivas para vendedores ambulantes de Halls, Suflair e tabuada.

Agosto:
- Dólar sobe e ultrapassa popularidade da Dilma.
- Eleições municipais em São Paulo: Datena lidera pesquisa com 51% das intenções de voto, seguido por Marcelo Rezende, com 29%, Silas Malafaya, com 12% e Danilo Gentili, com 4%. Jô Soares, Ana Paula Padrão e Serginho Groismann não pontuaram.
- Chico Buarque é flagrado no bar do Estadão tretando com freguês e defendendo Dilma com unhas e dentes. Seus argumentos baseiam-se em metáforas, como “Amou daquela vez como se fosse a última”, “Joga pedra na Geni” e “O meu cavalo só falava Inglês”.

Setembro:
- Eleições municipais em São Paulo: Instituto Lula aponta que Mercadante lidera pesquisa com 81% das intenções de voto, seguido por Ruy Falcão, com 79%, Eduardo Suplicy, com 74%, Arlindo Chinaglia, com 67%, todos eles com margem de erro de 127% para mais ou para menos. Dados copiados e colados do blog do Judão.
- Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos, torna-se o livro mais lido entre os envolvidos na Operação Lava-Jato.
- Manifestantes furiosos tomam a Av. Paulista e encaram Alckmin com a pergunta: “Setembro chove?”. Governador fica de mal e manda fechar 715 escolas.

Outubro:
- Parlamentares do Congresso brincam de esconde-esconde e pega-pega no Dia das Crianças. Ao voltar ao trabalho, desistem da ideia: era a Semana do Saco Cheio.
- Vocalista Roger, do Ultraje a Rigor, faz piadinha sobre assuntos polêmicos como assédio, estupro, aborto, legalização da maconha, Estado Islâmico, remake da Escolinha do Professor Raimundo e conclui: “A gente somos inútil”.
- Depois de perder os principais profissionais do mercado, Propaganda desiste de ser Propaganda e passa a se autodenominar Serviços Gerais de Manutenção.

Novembro:
- Brasil ocupa a 100ª posição no ranking mundial de IDH e fica logo atrás de superpotências, como Bangladesh, Serra Leoa e Costa do Marfim.
- Feministas desabafam nas redes sociais: “#MeuAmigoSecreto só me dá chocolate da Arcor”.
- Guilherme Fontes anuncia que vai rodar “Chatô 2”. Sasha Meneghel fará o papel da avó do protagonista.

Dezembro:
- Exame do ENEM: “Quem foi Joaquim Levy?” é considerada a questão mais difícil para a maioria dos candidatos.
- Miss Paraguai recebe o título de Miss Universo e 2 minutos depois passa a faixa para a Miss Cambodja, que passa a faixa para a Miss Birmânia, que passa a faixa para a Miss Guiné-Bissau, que passa a faixa para a Miss Tuvalu, que é obrigada a jogar fora a faixa porque ninguém sabe onde fica essa porra.
- Bicheiros exigem que o Carnaval de 2017 seja antecipado e comece logo após o Roberto Carlos Especial.


terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Roubada

Você sabe que o programa é uma grande roubada quando:

- Tem apelido demais: “Cola lá no bar do Cabelo. A banda do Peixe vai tocar. Depois a gente tá pensando em dar um pulo no apê do Caçapa”.

- Tem diminutivo demais: “Conheço um barzinho... toca um MPBzinho... banquinho e violão... a gente pede um chopinho... mas tem também espetinho pra acompanhar”.

- Tem gíria demais: “A gente bate aquela feijuca, toma umas breja... sem muvuca, sem causar... é sussa, dá pra ir de berma se quiser”.

- Tem burocracia demais: “Pra confirmar presença, curta nossa fanpage no Facebook, compartilhe o post para concorrer a desconto, mande um e-mail para eventos@festadoluis.com.br com o subject “Lista VIP” e aguarde nossa confirmação por WhatsApp.

- Tem esmola grande demais: “R$ 15 de entrada. Open bar com vodca, cerveja e energético na faixa até as 4 da manhã. Serviço de manobrista cortesia da casa. Show-surpresa no fim da noite e sorteio de camisetas, pau de selfie e viagem para Cancún. Vários ex-BBB já confirmaram presença”.

- Tem estilo demais: “A casa de inspiração barroca traz nas paredes do hall réplicas de Kandinsky e figurinos das filmagens de Pulp Fiction pendurados no teto. O DJ Hypolitto, de Ibiza, mescla celta-trance com o retrofuturism dos cabarés. O carro-chefe da casa é o drink que leva álcool de beterraba, redução de hibisco, raspas de tamarindo e tomilho. Acompanha bem com o hambúrguer de perdiz com shitake e uvas verdes”.

- Tem ambiente demais: “Durante o dia, a casa é um misto de barbearia, brechó e loja de vinil. À noite, o espaço transforma-se em uma improvisada pista de dança com food trucks. Dá para jogar videogames da época. Tem pistas de boliche, karaokê, bilhar, biblioteca, luderia, sauna e dark room. Em breve, touro mecânico e camas de bronzeamento artificial”.

- Tem gente demais: “Eu passo na sua casa, aí a gente pega a Fê, a Priscila e o namorado dela. A Tuca vai com o carro dela e mais uns primos de Uberaba. Chegando lá, precisamos procurar pelo Rodrigo pra pegar as entradas. A festa vai bombar. Já chamei a galera da facu e criei evento no Facebook”.


terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Roupa

Amigo é que nem roupa. Tem aquela que você usa todo dia. É pau pra toda obra. Não é a roupa mais bonita. Não é a roupa mais charmosa. Mas é aquela que está ali, à sua disposição, pro que der e vier, e você não quer se desfazer dela. Tem também aquela que você só usa em ocasiões especiais. Nesses momentos, ela sabe te valorizar.
Outro tipo de roupa é aquela que você usa pouco e guarda. Depois de um tempão, resolve usar novamente. E percebe que ela não cabe mais em você. E também não tem mais nada a ver com seu estilo. Um ficou ultrapassado para o outro. Mas, no meio dessas roupas fora de moda, existe ali uma peça única. Você também guardou essa roupa por muito tempo. Ela sempre esteve ali, nunca saiu do seu guarda-roupa. E, quando você resolve experimentar, depois de longas datas sem um ter olhado pro outro, percebe não só que ela serviu direitinho, como também continua sendo a sua cara.



segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

2015

2015 foi pra mim como 2015 foi pra todo mundo: um ano de déficit. Aquela sensação tardia de que perdemos por 7 a 1. Fomos derrotados na área econômica, na área política, na área cultural. Demos um vexame danado em comportamento nas redes sociais (ou seria antissociais?), nas manifestações e passeatas, no modo de encarar o outro, de conviver com quem pensa diferente de você. Ocupamos uma das últimas posições do ranking num ano marcado pela intolerância. Mostramos que, como ser humanos, ainda estamos engatinhando no que diz respeito ao processo de cidadania e seus aprendizados. Ainda estamos na barbárie e, sem dinheiro, nosso vandalismo aumenta exponencialmente.
Falando sobre mim, em 2015 tive prejuízos incalculáveis no campo psicológico. Deixei de fazer um monte de projetos pessoais, com as desculpas de sempre: falta de tempo, desânimo, falta disso, falta daquilo. Acabei me acomodando. Termino meu relacionamento com a terapia, depois de 3 anos, não porque me dei alta, mas por achar necessária a ruptura temporária. O fim de um ciclo. Graças a Deus (embora eu seja um ateu convicto), no campo profissional eu continuo empregado e gozando de uma certa estabilidade. Mas é complicado garantir o leitinho das crianças e, na hora de comprar esse leitinho das crianças, constatar que a padaria de bairro fechou. Não tem como passarmos incólumes por essa crise, mesmo que ela não nos afeta diretamente. O mercado empobreceu, as pessoas estão mais deprimidas, esse quadro é jogado na nossa cara todos os dias.
No campo afetivo, conheci várias mulheres, das mais diversificadas maneiras: encontros virtuais, encontros reais, sites de relacionamento, aplicativos, comunidades virtuais, apresentação de amiga da amiga, macumba, Pai de Ogum. Fiz grandes amizades. E percebi muitas, mas muitas incompatibilidades. Tive um ano intenso mas, entretanto, contudo, todavia, poucas histórias pra contar. E raras, raríssimas, parcas e escassas mulheres com quem acordei no dia seguinte. Dá pra contar nos dedos. Da mão do Lula. O que me faz concluir que talvez o problema seja delas, talvez o problema seja meu ou talvez desses aplicativos que nos ensinam equivocadamente que tá fácil arrumar alguém. Vejo pessoas ao meu redor que não desgrudam do WhatsApp quando, na verdade, nunca estiveram tão sozinhas.
E por falar em Lula... lembro que eu andava com estrelinha do PT cravada no sobretudo preto quando ia ao Madame Satã, na época da faculdade. Fiz um vídeo convocando meus colegas neoliberais a votar no PT. Acreditei nesse plano de governo, nesse projeto de país, nesse sonho de brasileiro. Um sonho que se acordou com Mensalão, Lava-Jato, dinheiro na cueca, delação premiada, senador preso. Caímos da cama. Caímos em tudo quanto é tabela. Caímos na credibilidade dos países desenvolvidos e das empresas que queriam investir na gente.
Pra completar, em 2015 perdi muitos amigos. Pessoas que se deram conta de que nossas afinidades se perderam. Que perceberam que nossas convicções aumentaram o vão das nossas diferenças. Deixei escapar muita gente que se incomodou com minha maneira de pensar, de falar, de se expressar pro mundo. Em compensação, ganhei muitos outros. E solidifiquei amizades até então um pouco mais tênues. Criei quase que um fã-clube de admiradores das minhas atitudes. E sou grato a esses amigos. É com eles que eu entro em 2016. Uma jornada que, muito bem sabemos, não vai ser nada fácil.


sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Pernilongos

Eis que chega o verão. Calor dos infernos, choque térmico, chuvas. Aí eu viajo para meu planeta imaginário e avisto lá longe, numa travessinha de uma rua movimentada, um nababesco rodízio. Nem muito chique, nem muito popular. R$ 59,90 de segunda a sexta. Crianças e mulheres pagam a metade. “Costela de homem”, chama-se o lugar. O porteiro abre aquela gigantesca porta de madeira para uma caravana de fregueses. Eram mais ou menos 250 pernilongos, que imediatamente foram recebidos pelo maitre e conduzidos até uma mesa distante. O lugar era aconchegante, mas eles acabaram se sentando ao lado de uma mesa com quase 1 milhar de outros tantos da mesma espécie, tomando uma mistura alcoólica e falando muito alto: “Ziiiiiiiiiiiin!!”.
Assim que colocaram os talheres ao lado dos pratos, aproxima-se o pernilongo-garçom dos drinks. Com ar simpático, rosto sorridente, fala mansa, logo oferece aos clientes os aperitivos gourmet. “Boa noiteee... Aceitam uma bebidaaa? Temos suco de medulaaa, caipirinha de glóbulos vermelhooos, água de sorooo...”.
A colônia de insetos foi se servir à mesa de entradas. Que, por sinal, estava bastante farta. Dedos do pé, tornozelos, joelhos, lóbulos de orelha. Um verdadeiro banquete. E, quando voltaram, uma fileira de serviçais pronta para atender a demanda.
O primeiro garçom-pernilongo perguntou: “Pele de barriga, senhor?”. “Sim, por favor”. Aí veio o segundo: “Peito, senhor?”. “Não, obrigado. Este tá com muito pelo”. E assim sucessivamente. “Pele das costas, senhor?”. “Por favor. Este pedaço aqui, que tá sem tatuagem”. “Coxa, senhor? Tá caprichado, com muito sangue, bem suculenta”. “Braço, senhor? É o que mais sai. Tem pele branca, pele negra, pele bronzeada, pele amarela, só escolher”.
A miríade estava se esbaldando naquele divino manjar sanguíneo. Era tudo muito especial. A certa altura, o pernilongo-gerente veio à mesa: “Estão sendo bem atendidos, senhores? Está faltando alguma coisa? Querem que tire o Baygon da tomada?”.
Era muita atenção para um grupo que parecia ter vindo da guerra. Dava pra desconfiar de tanta gentileza. E essa desconfiança se provou em mais uma abordagem, um pouco mais assertiva. Passados cinco minutos, o mesmo gerente-pernilongo volta à mesa e faz outra pergunta: “Alguma carne de preferência, senhor?”. Era uma maneira relativamente sutil de expulsar o bando nematocero. Se eles ficassem mais tempo, seria prejuízo para o estabelecimento. Além do mais, havia uma fila de espera de dobrar a esquina, e ninguém desse aglomerado aguentava mais picar pele de cachorro de entradinha.
Até que um dos fregueses da mesa, mais ao fundo, fez seu derradeiro pedido: “Cangote, por favor. Tô esperando há mais de meia hora. De mulher, bem macio, mas sem perfume. Sou alérgico”.
E veio o cangote para o chato, conforme solicitado. Junto com a conta e a maquininha de cartão. O retardatário provou, mas falou ao garçom: “Hmm, sei não... tá meio estranho o gosto... acho que tem repelente”.