- Pessoal, a partir de hoje vamos adotar aqui na agência um
padrão de customização do nosso material de comunicação. Na parte dos dados
variáveis, aqueles campos personalizados, precisamos pensar num nome que sirva
para a marcação de todas as peças, de todos os nossos clientes. Queria ouvir a
sugestão de vocês.
- Eu sempre uso Fulano de Tal.
- É, mas isso é comum demais. Desvaloriza o cara que tá
recebendo o e-mail. O cliente vem reclamando disso.
- Por que então não usar João Alves?
- O anão do orçamento? Cê tá louco?
- Ah, tá... não sabia... não é da minha época...
- Lá na Pinnick & Partners Worlwide onde eu trabalhava,
a gente sempre usava John Sample.
- Ah, sofisticado demais. Não gera empatia, identificação.
Ninguém aqui no Brasil se chama John Sample.
- Eu acho que tem que ser um nome comum, do povo, pro
cliente entender que a gente tá falando com o público dele. Tipo João da Silva.
- Ah, num sei... capaz do cliente achar que a gente SÓ tá
mandando o e-mail pro João da Silva e o José dos Santos, por exemplo, vai ficar
de fora.
- Por isso mesmo que eu acho que um nome fora do comum, pode
ser estrangeiro mesmo, vai deixar bem claro que a gente não tá falando com
ninguém específico, mas com todo mundo. Sei lá... Adam Smith...
- O Pai da Economia? Então bota Albert Einstein de uma vez!
- Calma, gente...
- Eu acho que tem que ser um nome raro, incomum, não precisa
ser americano, nem europeu, nem o raio que o parta... pode ser brasileiro
mesmo... mas um nome mais difícil, aí a gente não corre o risco de ter alguém
na sala de reunião com esse nome pra encrencar com ele. Algo na linha de
Adherbaldo Franciscus.
- Acho que não. Se o nome for ridículo demais, inusitado
demais, o cliente vai ficar a reunião inteira prestando atenção nele e nem vai
olhar pro resto da peça.
- Ei, ei! Gente, gente! Estamos perpetuando uma atitude
machista do nosso mercado de trabalho. Nunca ninguém pensou num nome de mulher.
E vocês sabem mais do que ninguém que as mulheres estão se emancipando e
ocupando os mais altos cargos numa empresa que antes só era privilégio dos
homens.
- Calma, Martha... não é nada disso... é que, quer queira
quer não, a maioria dos nossos clientes são homens. A gente tentou marcar com
um nome feminino na última campanha e o cliente gongou a peça, lembra disso?
- Eu acho que a gente devia usar o bom e velho Nonono.
- Muito anos 80.
- Eu sempre usei o nome do meu dupla pra marcar as peças:
Érico FUCKS kkkkk
- Pronto, começou o bullying...
- Por que não usar nome de famoso, pra mostrar que é só
marcação de layout? Sílvio Santos, Fernando Henrique, Erasmo Carlos...
- Eu acho que a gente devia usar Adriano Gonzaga.
- Eu iria pruma coisa mais coloquial, pra deixar a
comunicação mais moderna: Beto Keller.
- Acho Diego Savassi bem legal.
- Gosto de Fernando Von Beckenbauer.
- Ricardo Moreira.
- Rodrigo Lopes.
- Eusébio da Paixão! Raquel Pedreira!
- Adilson Bartelli Thiago Pompeu Roberval Taylor Adolfo
Brickman Giancarlo Madeira Raoni Tavares Rogério Villaça Gilson Campos Júlio
César Azevedo Amauri de Souza...
E aquele barulho se formou. 250 nomes, nenhum consenso.
E os dias se passaram. E os meses se passaram. Até que, numa
manhã qualquer, o presidente da agência recebe um e-mail falando que uma
campanha deles entrou para o short list de uma premiação de comunicação
dirigida. O texto da peça começa assim:
“Caro XXXXXXXXXXXXXX, você foi o ganhador da promoção Sorte
em Dobro”.