domingo, 18 de dezembro de 2016

2016

Eu vou levar comigo muita gente. Já no comecinho de jogo, pego o Bowie. Depois, Ettore Scola. Prince. Umberto Eco. Kiarostami. Ferreira Gullar. Fidel. D. Paulo Evaristo Arns. No finalzinho, levo também o Andrea Tonacci. Só de pirraça.
Aproveitando, vou levar também o carismático ator em alta Domingos Montagner, só porque esqueci de colocar uma plaquinha de área perigosa para banho.
Eu vou criar uma situação política insustentável, a tal ponto de expulsar a presidente do Brasil. Uns vão falar que é golpe.
Eu vou colocar no lugar dela um vice mimimi com um dos maiores índices de rejeição.
Eu vou fazer a cotação do dólar oscilar mais do que o brinquedo Viking, do Playcenter, aquele parque que foi embora 4 anos antes de mim.
Eu vou criar um dos maiores índices de desemprego da história do Brasil.
Eu vou fazer a população deste país sentir saudades do PIB zero.
Eu vou chocar o mundo com a imagem de uma criança refugiada da Síria.
Eu vou criar uma das eleições mais improváveis da principal potência mundial. Até o mais republicano dos republicanos vai estranhar o conservadorismo do futuro presidente.
Eu vou fazer a Venezuela virar motivo de chacota mundial.
Eu vou deixar a Cidade Maravilhosa em situação de calamidade pública. Vou atrasar o pagamento dos servidores. Vou trazer à tona escândalos financeiros de Garotinho e Sérgio Cabral, este último, que comprou joias carésimas com o dinheiro do povo como esquema de lavagem de dinheiro. Só pra completar, já que ando muito sádico ultimamente, vou botar na Prefeitura do Rio um bispo evangélico.
OK, OK. Eu vou dar uma saidinha e nesse ínterim meu substituto vai fazer uma das mais bonitas aberturas olímpicas da história. Ele vai trazer um monte de medalhas pra gente e vai dar um show de bola nos jogos paralímpicos. Mas tudo isso sem meu consentimento. Espera só vir a conta dessa brincadeira. Quem é que vai pagar?
Eu vou transformar a pacata Porto Alegre numa cidade insegura, com uma onda de roubos e assaltos nunca antes vista, só porque vou deixar de pagar policiais.
Eu vou fazer o dono da maior empreiteira do país ser o pivô da Operação Lava-Jato. Ele vai ser o principal dedo-duro do país, mencionando nomes de uma lista interminável de políticos que devem ir pra cadeia. Só não vou saber dizer se realmente eles irão pra cadeia e se cumprirão a pena na totalidade, em regime fechado e sem privilégios.
Eu vou manter a taxa de juros mais alta do mundo, para desestimular o crédito e os investimentos. Mas você pensa que essa medida vai conter a inflação? Tsã... sabe de nada, inocente...
Eu vou criar um dos piores acidentes aéreos, que vai levar embora quase um time inteiro de futebol.
Eu vou falar em corte de gastos públicos sem mexer uma palha neles. Engraxate do Congresso vai continuar ganhando mais do que médico com anos de especialização.
Eu vou deixar a situação salarial dos professores e o nível do ensino brasileiro numa situação tão ridícula que até os alunos vão ocupar as escolas.
Eu vou colocar um dos filmes brasileiros mais piegas para representar o país no Oscar. Tudo por causa de um entrevero ideológico no decorrer do processo das escolhas.
Eu vou criar uma conta tão confusa na questão do novo modelo da Previdência que nem o Einstein seria capaz de decifrar. A única coisa que as pessoas vão entender é que, quanto mais se trabalha, mais tempo falta pra se aposentar.
Eu vou fazer o nível de confiança na questão financeira do país ser compatível com países em situação de guerra.
Eu vou alimentar o ódio nas redes sociais. Haters serão meus porta-vozes.
Eu vou criar um dos Natais mais pobres da história.
Eu vou parecer ter 900 dias.
Eu sou 2016.