segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Jaqueline

Hoje vamos falar da Jaqueline. Quando relembrei os tempos áureos do Alexandre, teve gente que veio com insinuações de cunho homofóbico, fazendo supor que eu tivesse algum tipo de atração recôndita e enrustida pelo colega. Então, para não deixar dúvidas a respeito de minhas preferências amorosas, o foco do dia será a Jaqueline.

Antes de começar, queria tranquilizar o leitor em dois aspectos. Primeiro, é bom deixar claro que a Jaqueline não comeu 9 mulheres no Carnaval. Não sei nem por que estou dizendo isso, mas vai que alguém aqui pense que existe uma certa semelhança entre os protagonistas na questão da idolatria. Não existe. Pelo menos, não que eu saiba. A única similaridade que veremos a seguir é que os episódios aconteceram na mesma escola, na mesma década e afetaram diretamente a mesma pessoa – no caso, eu. Em segundo lugar, aqui não se trata de uma história na linha de Harry Potter, em que você precisa ler todos os livros anteriores para compreender o capítulo seguinte. Claro, se você tiver curiosidade de ler ou reler o texto do Alexandre, vou ficar muito contente.

Estamos em 1985. Não tinha Facebook. Nem Orkut. Nem celular. Nem e-mail. Não tinha nem computador. Quer dizer, até tinha. Mas era propriedade da NASA e ocupava uma sala do tamanho de Itaquera. Tudo isso parece óbvio. De fato, é. Mas são argumentos imprescindíveis para se contextualizar o fato e acompanhar as aventuras deste escriba sem maiores estranhezas. Na época, não tinha essa de “me adiciona no WhatsApp”. A única maneira de se adquirir o número do telefone (fixo, de 6 dígitos) de alguém era por meio de consultas em listas telefônicas, chamadas pelos americanos de catálogo. Havia três tipos: Assinantes, em que você fazia a busca pelo sobrenome; Endereços, o nome já diz tudo; e Páginas Amarelas, com vários anúncios de empresas, um amontoado de papel-seda que não servia pra nada (não pense bobagem, seu narcodependente...). A não ser que você precisasse urgentemente de serviços de descupinização.

A história de hoje não tem nada a ver com cupins, mas versa sobre um tema igualmente corrosivo: a paixão. Tudo começou na sala da Diretoria. Calma, vou explicar. Nunca fui baderneiro. Eu acabara de entrar para o 3º Colegial. Em termos de equivalência, não sei o que corresponde hoje com o atual currículo, mas essa palavra (Colegial) vem do grego e significa “difícil pra caralho”. Tudo o que você aprendeu até então cai por terra. Se você era fera nas equações de segundo grau, teria doravante de enfrentar quase o alfabeto inteiro dentro de fórmulas matemáticas com potenciações que tendem ao infinito. Descobre que é possível tirar raiz quadrada de número negativo. Descobre que algumas partículas gramaticais não têm função sintática alguma e servem apenas para enfeitar a frase. Descobre que o único lugar do planeta onde você vai achar o elemento químico tungstênio é na ponta da sua caneta esferográfica. E, pior de tudo: descobre que aquela menininha da primeira fila que um dia foi dentuça e estrábica está tão gata que faz o coração da classe inteira bater mais forte. E isso nada tem a ver com as aulas de Biologia.

Voltemos à Diretoria. Naquela época, para se ter direito ao uso do Passe Escolar, que concede o benefício de se pagar metade do valor da passagem dos transportes públicos, era necessário preencher um formulário e pagar o equivalente a 5 vezes o valor da tarifa vigente. Em dinheiro de hoje, na cidade de São Paulo, essa quantia significa R$ 19,00. Em todos os anos era essa a prática adotada pelo colégio. Por algum motivo de força maior, naquele ano em questão, do início da implementação regular do horário de verão, da morte de Tancredo Neves e do lançamento do primeiro De Volta para o Futuro, decidiram fazer diferente. Alegando falta de verbas, custos extras de logística e a necessidade de um fundo de reserva para emergências, cobraram um ágio de 100%. Um absurdo. Um acinte à ética educacional. Fui reclamar. E lá na sala oficial do castigo encontrei uma outra indignada, aquela que em poucos dias seria minha musa amada.

Jaqueline fazia o tipo mulherão. Alta, esbelta, olhos grandes e escuros, lábios espessos e carnudos, coxas fortes, braços longos. Se o colégio fosse o Burger King, Jaqueline seria o Whopper Duplo. Diante dela, a diretora virou uma formiguinha. E acho que foi essa mistura de postura contestadora e sensualidade dos gestos que me encantou. Imagina aquela cena típica de filme dos anos 80. À medida que a rebelde vociferava, sua voz ia caindo para background, até emudecer de vez e ceder lugar a uma música do Everly Brothers. Tudo o que eu conseguia ver eram lábios se mexendo em câmera lenta, dançando ao ritmo de um tema que passava bem longe da carteirinha superfaturada. No fundo, acho que era uma promoção da escola: você paga uma cobrança indevida de R$ 19,00 e leva de brinde pra casa a arritmia e o desassossego.

Eu era um garoto tímido. Não, você não tá entendendo. Era tímido meeesmo. Vermelho-Ferrari era praticamente minha cor default. Jamais poderia imaginar uma situação em que eu me declarasse de cara limpa à cachopa venusiana. Tinha de pensar em outros meios. Telefone, por exemplo. Eu ligaria pra ela na zona de conforto do meu lar, me sentiria mais à vontade para conversar sem que ela me visse e, entre um colóquio às escuras e outro, surgiriam afinidades e conexões. Mas eu precisava saber o número dela. Perguntar, impossível. Mais fácil encontrar um bilhete premiado da Mega Sena dentro da caixa de sapatos do meu avô.

É aí que entram as listas telefônicas. Meu plano infalível consistia em descobrir o número e ligar. Se ela por acaso perguntasse como descobri... sinceramente, nunca pensei nessa possibilidade. Mas não faz mal. Nessa hora entraria o improviso jazzístico da coisa, pra deixar tudo mais natural. Ou eu desligaria na cara morrendo de vergonha, o que viesse primeiro. Bom, primeiramente, é bom salientar que eu não sabia o sobrenome dela. Estudávamos em classes diferentes. Ela fazia o Magistério, ia às aulas somente alguns dias por semana. Eu não conhecia ninguém do Magistério a ponto de tomar a liberdade de perguntar o sobrenome da Jaqueline. E se fosse Silva? Ou Santos? Com certeza, só conseguiria falar com ela depois que terminasse a faculdade. Então, tive de incrementar meus planos diabólicos: lista de Endereços. De alguma forma, teria de descobrir onde ela mora, para que pudesse fazer a consulta no catálogo de logradouros. Não que eu seja um stalker profissional, mas só me restava segui-la até sua casa como única alternativa.

Para que nada parecesse criminoso, para que tudo tivesse a imagem de algo espontâneo, ocasionado pelas coincidências da vida, meu plano foi rascunhado com a precisão cirúrgica de detalhes. Num primeiro dia, pegaria o mesmo ônibus que ela. Sim, ela voltava pra casa de ônibus. Não faria sentido algum ela reivindicar a justiça na cobrança do documento se alguém a conduzisse de carro ou de moto até sua casa. Minha ideia era descer um pouco depois, para não parecer perseguição. E, num outro dia, pegaria o mesmo ônibus que ela, só que entraria nele um ponto antes. Desceria no mesmo ponto e andaria calmamente, bem atrás dela, sem abordá-la, e daí anotaria seu endereço. Tudo muito lógico e natural, nada vindo da cabeça de um psicopata.

Primeiro dia. Entramos no coletivo. Imaginei que ela fosse descer coisa de 6 ou 7 pontos depois. Que nada. Ela morava na puta-que-pariu. Não é à toa que esbravejava tanto na Diretoria. Andar de ônibus, para minha Dulcineia juvenil, era tão vital quanto respirar este oxigênio que nos afaga. Mas o tímido e enamorado discípulo não foge à luta. Esperei ela descer e, conforme planejado, puxei a cordinha no teto para o ônibus parar no ponto seguinte.

No segundo dia, pedi ajuda a um amigo meu. Um grande amigo, por sinal. Achei que seria mais estratégico. Contei rapidamente o plano e ele não só entendeu perfeitamente como também fez questão de ser o coadjuvante dessa empreitada. A ideia era essa: ver mais ou menos o horário de saída da moça, ou sair minutos antes, ir até o ponto anterior e pegar o mesmo ônibus. Esse meu amigo é muito ponta-firme. Leal, companheiro de verdade. Só que recebeu uma educação familiar muito rígida, regrada. E tinha uma mania um tanto obsessiva. Sempre que a gente saía, ele ligava pra casa dele umas 5 ou 6 vezes pra avisar os pais que estava tudo bem. Um excesso de preocupação a meu ver descabido diante dos riscos que corríamos indo a um fliperama ou ao Jack in the Box. Mas OK, quem sou eu pra dizer o que é correto e o que foge dos padrões da normalidade. Só lembrando: anos 80, gente. Nada de celular. Para se comunicar remotamente, o jeito era usar os telefones públicos. E aí entra em cena a icônica ficha, moeda inspiradora da expressão “cair a ficha”. Estávamos no ponto, tudo nos conformes. Até que aparece um orelhão bem na nossa frente. Meu amigo não teve dúvidas: ligar pra casa avisando que chegaria um pouquinho mais tarde. Foi o tempo suficiente para que passasse o ônibus que precisávamos pegar. “Calma, vai dar tudo certo”, disse ele. Olha, não sei você, mas SEMPRE que alguém me fala isso é um prenúncio de que vai dar bosta.

Não acredito em Deus. Nem em forças superiores. Nem em energia, nada disso. Mas, naquele momento, alguma coisa fora do nosso alcance compreensivo aconteceu. Poucos minutos depois, passa um outro ônibus da mesma linha. Vazio, bem vazio. Por estar mais vazio, obviamente recolheu menos pessoas. Por pegar menos passageiros, conseguiu ultrapassar o ônibus em que se encontrava minha Inês de Castro. É sério. Parecia cena de filme policial. Única diferença é que os criminosos éramos nós.

Chegamos ao destinatário um pouco antes da Jaqueline. Ficamos de tocaia numa construção abandonada, não lembro ao certo. De repente, ela passa. Agora, era só anotar o endereço da casa dela pra depois procurar na lista. Ela caminha, lentamente, e entra. Era um condomínio fechado.

Amigo que é amigo dá provas incontestes de amizade. Meu fiel companheiro ligou para os apartamentos do condomínio, um por um, perguntando pela Jaqueline. Não encontrou em nenhum deles. Fim da história.


domingo, 22 de janeiro de 2017

Alexandre

De repente me lembrei de um amigo de longa data. Isso mesmo, longa data. 1983, mais precisamente. Estava no 1º Colegial. As aulas já tinham começado e mais ou menos em março ele se integra à classe. Foi logo depois do Carnaval. Fazia o tipo bonitão: cabelos castanhos escorridos, pele bronzeada, olhos verdes, voz grossa e ligeiramente rouca. Mas não era daquele tipo de ficar expondo músculos ou acenando pras menininhas na quadra esportiva. Ele era mais introspectivo, mais na dele. Alexandre, chamava-se o gajo. Muito inteligente e passava uma imagem de pessoa sensível. Ah, e fumava também. Lembre-se: começo dos anos 80. Naquela época, fumar era blasé. Como houve uma entrada muito grande de alunos egressos de outras escolas e um remanejamento que até hoje não entendo quais critérios foram utilizados, acabei caindo numa classe em que a maioria era de baderneiros. Alunos péssimos em todas as matérias. Não havia "turma do fundão". A classe inteira era a turma do fundão. E eu tive uma certa dificuldade de adaptação. Por isso, o Alexandre me chamou a atenção logo de cara. Parecia se destacar naquele turbilhão que não queria nada com nada.
Lembro também do momento em que ele foi se enturmando com os colegas e, no recreio, comentou que tinha transado com 9 mulheres naquele Carnaval. Lógico, não acreditei. Isso não era possível de acontecer. Pelo menos não com um moleque. Não numa cidade fora de Salvador. Mas, assim como um professor prova o Teorema de Pitágoras, ele tentou provar por A + B que não estava mentindo. Quase jurou de pé junto. Pelo sim pelo não, adotei ele como meu ídolo. Em uma década eu não consegui comer 9 mulheres diferentes. Pelo menos não naquela década em questão.
Só que tudo nessa vida tem seus dois lados, suas contradições e contrapartidas. Alexandre fazia o tipo perfeito pra se ter como melhor amigo, mas levava uma vida complicada. Os pais tinham acabado de se separar. Anos 80, gente. Filhos de pais separados eram vistos como bestas-feras na escola. Acabara de adotar, ao lado de seu corriqueiro sobrenome português, um sobrenome alemão, complicadíssimo, oriundo do segundo marido de sua mãe. Ele tinha ido morar uns tempos em Santos e acabara de voltar pra São Paulo. Morava perto do colégio, consequentemente, era meu vizinho. Não parava em colégio algum. O quanto ele tinha de inteligência ele tinha de despreocupado. Não estudava pras provas. Mas era meu ídolo. Talvez por tudo isso mesmo. Uma cara legal que me dava lição de vida. Algo que não constava nos alfarrábios escolares.
Um dia, veio estudar em casa. Conversou com minha mãe. Descobriu-se ali que, entre um assunto e outro, minha mãe conhecia o avô dele, que era do bairro. Resumindo, o Alexandre era isso. Próximo e distante. Crânio e vagal. Simples e complicado. Comedor e apaixonado.
Lembro também uma vez em que ele me chamou pra conversar. Questões amorosas, meu assunto preferido. Pleno domingão. Ele estava a fim de uma garota, não sei dizer com exatidão o que tinha acontecido. Queria resolver essa parada com ela e me chamou junto. Pra quem estava acostumado a assistir ao programa do Sílvio Santos e estudar pra prova de Física do dia seguinte, aquela intimação veio a calhar. Senti-me honrado. Na minha paranoia mental, de alguma forma também achava que pudesse ser um ídolo dele.
Chegamos à casa da moça. Na minha paranoia mental, achei que seria uma figura imprescindível na conciliação do casal. Uma espécie de psiquiatra juvenil. Talvez fosse esse o motivo do convite. Mas não. Logo que nos apresentamos, o par em crise me enxotou para o quarto e ficou conversando na sala. Devo ter ligado a TV, não me recordo. Devo ter ligado meus pensamentos. Não sei. Só sei que, em momento algum, eu ouvi gritos, discussões, desaforos, pratos quebrados. Pelo contrário. Quando um casal está aparando suas arestas, resolvendo suas diferenças, é outro tipo de barulho que o amor faz.
Fomos embora. Alexandre me contando em detalhes o que tinha rolado. Eu não queria saber. O segurador de velas que vos escreve não estava nem aí para ouvir relatos do percurso de mãos, dedos e partes do corpo mais pontiagudas. No fundo, eu queria sim. Queria saber o que tinha acontecido enquanto eu assistia pela oitava vez o Didi Mocó imitando a Maria Bethânia. Estava com inveja e ao mesmo tempo com ódio do Alexandre. Aquilo não se faz com um amigo. Mas ele continuava sendo meu ídolo.
Os dias se passaram, Alexandre foi ficando cada vez mais escasso. Faltava às aulas. Faltava às provas. Alegou problemas cardíacos, o que caía como uma luva nessa composição de pessoa complicada. Até que sumiu de vez. Repetiu de ano, é claro. E, nas férias do ano seguinte, veio me fazer uma visita. Tocou a campainha de casa e me pediu emprestado o livro de História, já que teria de estudar tudo de novo. Jurou devolvê-lo. Nunca mais o vi. Nem o livro, muito menos o Alexandre.
Facebook anda muito chato ultimamente. Postagens inexpressivas, discussões inócuas, agressões verbais, entreveros políticos equivocados. Mas a rede social também faz milagres. É capaz de achar pessoas que você não vê há séculos. Apesar de replicar muito mimimi, o Face também funciona como uma espécie de investigador de pessoas desaparecidas. Facebook is the new caixa de leite. E lá fui eu procurar o sumido Alexandre. Digitei o sobrenome comum e encontrei dezenas de perfis. A maioria, molecada postando selfie. Também encontrei diversos perfis-fantasma, aqueles de contorno amorfo branco num fundo azul-calcinha. Digitei o impronunciável sobrenome alemão e não encontrei ninguém. Aí fiquei pensando. Por onde anda Alexandre? Será que ele ficou careca e barrigudinho? Ou será que continua arrancando suspiros por onde passa? Virou escriturário coxinha? Analista de TI? Filósofo? Ou vive comendo as secretárias sobre a máquina de xerox? Não, isso não. Quase não existe mais máquina de xerox nas empresas. Mas fiquei curioso. Aquela irreverência introspectiva ainda permanece na pessoa, ou cedeu lugar a uma série de comportamentos previsíveis e nada fora da caixa? Seria Alexandre um mitômano? Aquele rebuliço em sua vida aconteceu de fato? Ou ele era mais um personagem de ficção? Seria ele um embuste, um engodo? Não sei. E o Facebook não me ajudou em nada pra descobrir.
Fico com a sensação de tê-lo encontrado por acaso, muito tempo depois. Na rua, talvez. Uma segunda chance que o destino divino nos deu de reatar o contato. Mas a memória é fraca e traiçoeira. Não sei se isso é uma vaga lembrança ou um sonho. O fato é que nunca mais soube do Alexandre. E guardo comigo, na idolatria amargurada, o capítulo adolescente das 9 mulheres que ele comeu no Carnaval.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Boeuf Bourguignon

Concurso de MasterChef. Desafio: preparar o Boeuf Bourguignon.

Candidato nº 1: Eric Clapton.
Compra 2 kg de filé mignon. Separa 300 g do miolo do miolo e corta em cubos. Joga o resto fora. Seleciona 1 cenoura plantada ao norte do Marrocos e corta em finas rodelas. Escolhe 1 alho-poró das reclusas fazendas da Índia, desfia e joga na panela. Pega 1 cebola plantada ao norte do Chile e seleciona apenas 4 camadas. Aquece em fogo brando, até caramelizar. Joga sobre os cubos de carne 350 ml de vinho tinto Malbec, grand reserva de uma vinícola familiar de Lion, safra 2005. Ao topo, salpica 8 finas rodelas de champignon de Paris, junto com parcas e contidas pitadas de sal e pimenta-do-reino da Malásia, aquece por 45 minutos e coloca num prato de louça chinesa. Desenha na louça as iniciais E. C. com aceto balsâmico e leva o prato aos jurados.

Candidato nº 2: Yngwie Malmsteen.
Coloca na panela 2 kg de filé mignon comprados no Pão de Açúcar. Pega 1 cenoura e corta em estrelinhas, meia-lua e cavalo-marinho. Acende uma labareda no fogão para impressionar o júri. Pega 1 cebola inteira, joga pra cima e faz o tubérculo cair em outra panela, tipo modo de preparo de panqueca. Pega o alho-poró, estica a mão pra frente e aponta a verdura pra plateia, como se estivesse querendo hipnotizá-la. Joga o alho na panela. Pega uma garrafa de vinho e bebe um pouco, mas sem engolir o líquido. Com a outra mão, acende uma tocha. Cospe o líquido do vinho sobre a tocha, olhando pra cima. Taca champignon sobre a carne flamejante. Bota um pouco de sal, pimenta e orégano. Bota mais um pouco de mostarda, creme de leite e alcaparras. Adiciona ovo, bacon, milho, cheddar e queijo ralado. Ao encerrar o preparo, faz um malabarismo e joga o prato na mesa. Aguarda aplausos e faz o júri vir se servir.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Profecias para os próximos anos (ou coisas que não aconteciam e vão começar a acontecer)


- Você vai ter uma dificuldade imensa em escrever à caneta.
- Você não vai ter dificuldade alguma em escrever a lápis, porque nunca mais vai encontrar um lápis.
- Vai olhar para o telefone fixo da sua casa por alguns segundos e tentar se lembrar para quem está ligando.
- Vai se esquecer como se preenche um cheque.
- Abrir um tutorial do Google para saber como usar um toca-discos de vinil.
- Decorar mais da metade da terminologia científica de bulas de remédios.
- Passar a ler o verso dos rótulos de embalagens de alimentos e produtos de limpeza.
- Você não vai saber o nome dos seus vizinhos.
- Vai demorar mais tempo pra consultar um guia de ruas.
- Resolver com pílulas seus problemas de ereção. E de depressão.
- Vai ter que caprichar tanto nas renovações de senhas a tal ponto de esquecer todas.
- Vai ter na sua carteira uma quantidade de cartões bem maior do que o número de cédulas.
- Vai rir da cara do médico quando ele falar que é virose.
- Tentar abrir ou fechar a porta de sua casa por controle remoto.
- Conversar por WhatsApp com as pessoas que moram com você.
- Vai fazer planos para 2018 mas não vai ter a mínima ideia do que fazer no próximo fim de semana.
- Vai se autodiagnosticar todo dia.
- Em comparação com seus pais, vai receber um número de informações 20 vezes maior. E ter uma capacidade de concentração 100 vezes menor.
- Vai usar (alguns) livros apenas para deixar o monitor mais alto.
- Iniciar e terminar um diálogo apenas usando emoticons.
- Dar nome de super-herói pro seu cachorro.
- Seu guarda-roupas vai ser 50% academia, 30% balada e 20% trabalho.
- Vai ler apenas o primeiro e o último parágrafo de um texto.
- Mudar de hábitos alimentares a cada seis meses. E de religião também.
- Começar um relacionamento por app. E terminar também.