Sempre quis acreditar que a generalização é um caminho
perigoso. Que existem maus políticos e bons políticos. Assim como maus médicos
e bons médicos. Maus advogados e bons advogados. Penso duas vezes, ou até mais,
antes de tecer comentários derrotistas e colocar tudo como farinha do mesmo
saco. Isso em nada contribui para o debate. Ou até mesmo para se mudar a
realidade generalizada. Sempre achei que a massificação adjetivada enfraquece o
discurso. E justamente os maus modelos poderiam servir de referência para o processo
de aceleração das transformações. Para se pensar sobre as mudanças de modo mais
coerente. E tentar construir um país melhor.
Mas aí me aparece o motorista de ônibus que ultrapassa o
veículo da frente e não para no ponto, conforme ocorreu ontem comigo. Ou um
pilantra que inventa desculpas esfarrapadas para dar um calote num amigo meu
pelos serviços prestados, como aconteceu nesta semana. Ou um vizinho que joga o
lixo no telhado da sua casa, como acontecia há alguns anos. Vizinho, por sinal,
político. Ou aquela pessoinha que usa a fila preferencial no supermercado para
desovar um carrinho lotado de compras. Ou o sujeito que joga papel na rua. Passa
o farol vermelho. Taca fogo em bancas de jornal. Gruda o chiclete nos assentos
dos coletivos. Rabisca cédulas. Cospe nos fones dos orelhões, muito embora
ninguém mais use essa geringonça.
O que estamos assistindo, no âmbito macro, nada mais é do
que o reflexo dessa sociedade podre. Políticos – eleitos diretamente por nós –
deitando e rolando nas mamatas do governo. Os políticos são um recorte da
sociedade. Eles não só inspiram o conjunto da população a macaquear e
proliferar seus gestos ignóbeis, como também nasceram dessa sociedade, e levam
esses hábitos sinistros para os mais altos escalões. Uma via de mão dupla. Esburacada,
tortuosa e com semáforos quebrados.
Nada mais me assusta. Nada mais me deixa perplexo. Só fico
cada vez mais triste com essa corja que nos representa e com esse zé povinho
que nos cerca. Um nasceu do outro. Tanto aquele que está na mídia, por ter
subornado o silêncio de um colega preso, quanto aquele que emporcalha o país no
modo invisível. Tanto aquele que participa de mirabolantes golpes milionários
lá longe em Brasília quanto o tal do vizinho que tá cagando pro seu sono e liga
o pagode no volume máximo. É por causa desse tipo de cidadão escroto que,
voltando ao tópico da generalização, quando mostrei minha relutância em nivelar
nossos compadres por baixo e procurei enxergar alguma qualidade na raça que
compõe esse Brasil colorido e plural, digo agora: “esqueçam tudo o que falei”.
Assistindo a todo esse transporte de malas de dinheiro, à
compra de joias com a grana da Saúde, conversas telefônicas negociando valores
e, mais recentemente ao pronunciamento da não-renúncia, fico imaginando que,
para o pequeno escroque, fazer uma conversãozinha proibida na esquina da R.
Augusta com a Alameda Santos não pega nada. Pois no Brasil a única lei que “pega”
é a lei de Gérson. É esse tipo de pulha que escolhe os políticos de hoje. É
esse tipo de canalha que se transforma no político de amanhã.
Morram todos vocês, seus filhos de uma puta. De preferência,
de câncer no cu.