Dizem que o gato tem sete vidas.
Essa expressão vem do Inglês, “nine lives”.
Aliás queria saber quem foi que traduziu isso. Vai ver foi
um estudante do nível básico do Yázigi. Parou o curso na terceira aula. Não
aguentou o tranco do ‘the book is on the table” e desistiu. Aí deram esse
freela pra ele fazer.
Ou vai ver trata-se apenas de uma defasagem cambial. Nine
lives, em dólar, equivale a sete vidas em reais, se convertidas pela cotação do
dia.
Ou então, essa diferença foi parar na conta de algum empreiteiro
que se beneficiou com as negociações de importação. Um político assina
documentos para facilitar as transações, recebe um apartamentinho, os donos da
empreiteira ganham bilhões e a coisa fica por isso mesmo. Gatos brasileiros,
sem acesso à saúde e educação, com duas vidas a menos do que os similares
importados. Talvez até esse saldo devedor tenha ido parar em alguma conta
bancária de motorista de parlamentar. Sei lá.
Enfim... consideremos então, por uma questão de padronização
adotada pelo sistema de pesos e medidas brasileiro, que o gato tenha sete
vidas. Eu, particularmente, nunca vi um gato passar de uma vida pra outra. Tipo
fase de videogame. Tipo reencarnação. Nunca vi um gato sobreviver a um
atropelamento. Aliás, nunca vi um gato ser atropelado. Nem sobreviver a uma
queda da sacada de um prédio. Nem ataques de cachorro. Nada.
Talvez, coincidentemente, nessas situações em que o gato não
sobrevive é porque, em algum momento do passado, já tenha usado as demais seis
vidas. E com matemática não dá muito pra brincar de Deus. Sete vidas são sete
vidas e ponto final. Não tem como entrar no especial, pedir aumento de limite,
nada disso.
Portanto, a eufêmica expressão “o gato subiu no telhado” me
deixa um pouco confuso. Estaria ele brincando de super-herói e desperdiçando
algumas vidas, só pra sentir o efeito da morte? Ou essa expressão não tem o
significado que imaginamos que tenha, já que existem seis possibilidades de se
evitar o pior?
O que dizer então da música infantil “Atirei o pau no
gato-to, mas o gato-to não morreu-reu...”. É ÓBVIO que ele não morreu. Com um
saldo desses, ele só viria a falecer depois de levar muita porrada. Precisaria
da família Gracie inteira chutando o saco do felino. Aliás, essa cantiga é bem
politicamente incorreta, não é mesmo? Sei lá, a gente cantava umas coisas na
nossa infância, achando que era tudo letra inocente, mas não. Nana Neném, por
exemplo. Repare na chantagem emocional. Até onde eu me lembre, quando assistia
ao Sítio do Picapau Amarelo durante os fins de tarde, a Cuca era um bicho
horroroso, um jacaré de pano mais antissocial que o Jason.
Eu duvido um pouco dessa lenda de que gato tem sete vidas.
Por que ele e não o cachorro, que é mais corajoso e sem-noção ao defender o
dono dos iminentes perigos? Já pensou se os porcos tivessem sete vidas, a
quantidade de bacon que nos seria servida? Barata tem sete vidas. Você não
consegue matar nem por um caralho de asa. Dizem que só arrancando a cabeça,
tipo Highlander. Caso contrário, mesmo esmagada, ela continua respirando por
aparelhos. Chinês tem sete vidas. Duvido que um país consiga abrigar quase dois
bilhões de indivíduos. Pra mim a grande maioria é réplica. Ou efeito de
computação gráfica. E já que é tudo igual, não tem como a gente saber. Vela de
aniversário tem sete vidas. Você apaga e ela ressuscita. Mais fácil o
aniversariante morrer de apneia do que realizar algum desejo.
Bom, é isso. Não sei como terminar esse texto. Amanhã eu
penso num final bem bacana. Ou ano que vem. Ou na minha próxima vida.