quinta-feira, 21 de março de 2019

ENEM


O (novo) Ministério da Educação vai criar uma comissão para avaliar as questões do ENEM. Com base nessa notícia, trouxe a você, em primeira mão, as perguntas que vão cair na prova deste ano. Comece a estudar e boa sorte.

1.       Qual livro é o marco da sociedade moderna?
a)       O Ser e o Nada, de Jean Paul Sartre
b)      O Capital, de Karl Marx
c)       Assim Falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche
d)      Bíblia

2.       Estudiosos concluíram, em Genebra, que o mundo foi criado...
a)       Após uma explosão cósmica e congelamento das partículas
b)      A partir de uma explosão cósmica e aquecimento das moléculas de carbono
c)       Há cerca de 4,5 bilhões de anos
d)      Em 7 dias

3.       Qual é a causa mais provável da morte do poeta brasileiro Casimiro de Abreu?
a)       Tuberculose
b)      Sífilis
c)       Tifo
d)      Vontade de Deus


4.       A goiabeira (Psidium guajava L.) é uma espécie de árvore:
a)       Tropical das Américas
b)      Frutífera do clima equatorial
c)       Comumente encontrada em regiões de clima frio e úmido
d)      Onde se pode ver a imagem de Jesus Cristo

5.       Quem é o atual Presidente da Venezuela?
a)       Nicolás Maduro
b)      Juan Guaidó
c)       Donald Trump
d)      Qualquer um, desde que não seja comunista

6.       Qual é a forma mais aproximada do planeta Terra?
a)       Redonda
b)      Oval
c)       Arredondada de modo disforme e com rupturas na superfície
d)      Plana

7.       Um automóvel custa hoje R$ 60.000. Qual será o valor de mercado deste mesmo veículo daqui a exatos 60 meses, considerando-se a taxa de juros constante de 1,2% ao mês, sem se levar em conta a depreciação do produto?
a)       R$ 180.000
b)      R$ 415.760
c)       R$ 248.750
d)      Não sei. Pergunta pro Paulo Guedes

8.       O (“dialeto secreto”) pajubá é um conjunto de expressões associadas a qual minoria de gênero?
a)       LGBTQ
b)      Transgêneros e cisgêneros
c)       Gays, lésbicas e transexuais
d)      Tudo coisa de viado

9.       A ditadura militar ocorreu em que período da nossa história?
a)       De 1964 a 1985
b)      De 1936 a 1945
c)       De 1500 a 1822
d)      Nunca ocorreu


10.   Qual foi o maior horror da Humanidade na História recente?
a)       Holocausto
b)      Genocídio dos armênios
c)       Bomba de Hiroshima
d)      Golden Shower



quarta-feira, 20 de março de 2019

Deus, pega leve


Deus, ó meu Deus, sabe que não acredito em você. Nunca acreditei. E tenho plenas convicções de que essa atitude é coerente. Pois, diante das coisas, chego à conclusão de que, se você de fato não existe, tudo isso é obra do acaso. Mas, se existe, está numa fase de querer zoar da minha cara, fazer bullying. Portanto, prefiro ficar com a primeira opção.

Ontem fez 6 anos que meu pai faleceu. Foi descansar eternamente nas terras do Senhor. Ele era sim uma pessoa brava, rígida, severa. Mas não merecia passar o último ano de sua vida à base de uma fileira interminável de remédios. Uma quantidade de doenças que mal cabia no campo descritivo da certidão de óbito. Isso não se faz com um ser humano. Olha só, quão irônico você foi. Justamente no ano em que ele conseguiu sua suada e merecida aposentadoria, época em que poderia viver o melhor da vida, sem as preocupações da rotina, você só faz agravar seu estado de saúde numa escala geometricamente progressiva.

Mas o requinte de crueldade não acabou aí. Moro na mesma casa praticamente minha vida toda. Ela sofreu o desgaste do tempo, já foi pichada na fachada externa, mas nada muito mais grave. Sempre me senti seguro dentro dela. Nunca fomos assaltados. Ela sempre foi uma espécie de fortaleza no meio da bandidagem periclitante das redondezas. E veja só, a que ponto chegou seu sarcasmo. Alguns anos após a morte do meu pai, nosso porto seguro foi arrombado. Coisa que nunca aconteceu em mais de quatro décadas. Os pivetes da favela, nunca encontrados, jamais sequer procurados pela polícia, estilhaçaram a fechadura da porta principal e fizeram a festa. O que levaram? A nossa dignidade. A nossa crença no ser humano. E parou por aí? Tsã, claro que não... dois anos depois, outra invasão. Desta vez, feita por engravatados que nem precisaram arrombar a porta. Uma cagada da família, somada à incompetência de um advogado inerte, fizeram com que a gente ganhasse alguns cabelos brancos tentando resolver essa pendenga na Justiça. Nem vou entrar em detalhes, ó meu todo-poderoso, pois tem mais gente lendo esse desabafo. Mas você, na sua onipresença, onisciência e prepotência, sabe do que estou falando. Você lê pensamentos. Pra falar a verdade, acho que você nem é aquele Deus-profeta de barbas brancas que imaginamos. No máximo você deve ser o Xavier, sentado em sua cadeira de rodas, escondido em algum pilar, adivinhando tudo o que vou escrever. Foi só meu pai morrer pra você decidir amaldiçoar nosso lar amargo lar. Minha mãe, por exemplo, tá fazendo mais exames médicos. Trocou o cinema pelo SUS. Nunca mais fez uma viagem decente. Tudo isso por culpa sabe de quem? Sua.

Sempre aprendi que a gente não pode falar mal de você. Não pode questionar, criticar. Tem que aceitar e pronto. Caso contrário, pode soar como insulto, blasfêmia. “Deus castiga”, é o que sempre ouvi. A gente é obrigado a ter fé, acreditar, orar, aceitar tudo o que você decide de cabeça baixa e olhos fechados. É a sua vontade e ponto final. Você jamais vai ser convidado a participar do programa Roda Viva e responder as perguntas dos jornalistas. Você é autoridade máxima. Devemos temer a Deus. Respeitar a Deus. Subordinar-se a você. Meio autoritário isso, não acha?

Bom, então já que você não existe, posso continuar, certo? Porque, se existisse, talvez daria um “control Z” de arrependimento em alguns comandos recentes. Então, vamos lá. Vamos falar um pouco de mim. Claro, deu pra perceber que esses últimos 6 anos foram definitivamente os piores da vida deste ancião de meio século que vos escreve. Nada, mas nada meeesmo, tem acontecido de relevante que me faça pensar o contrário. Tá bom, OK. Passei a trabalhar numa empresa que tem ar-condicionado e frutinha todo dia, num momento econômico em que quase metade da população ativa está preenchendo fichas de emprego. Mas só isso. O resto tá um desastre. Após a morte do meu pai, fui obrigado a voltar a fazer terapia, e encarei temas pesados. Os dissabores do dia a dia vieram como uma avalanche. É erro atrás de erro. Não venci na profissão. Não encontrei o tal amor verdadeiro que fosse capaz de substituir os 9 anos de relacionamento (encerrados, diga-se de passagem, no dia em que comemoraríamos os tais 9 anos, junto com aquele turbilhão de acontecimentos relacionados à doença do meu pai). Existe toda uma configuração astral que faz com que eu não sinta saudade alguma desta década, e tenho certeza de que os anos 2010 serão lembrados por mim como os piores da minha reles existência.

Deus, fala sério! Não fode! Como se não bastasse tudo isso até agora, o que você me apronta pra 2019? Um mundo que entortou pra extrema direita. Ataques terroristas quase que diários. O chafurdamento de Brumadinho. Um Presidente que só fala merda a toda hora. E esse verão então? Porra! Só chove, caralho! Ainda bem que acabou. Nada contra, a gente precisa de água pra encher os rios e trazer os peixes que Vossa Senhoria criou. Mas você forçou a barra. Esqueceu que aqui não tem arca de Noé? O máximo que a gente tem é um prefeito incompetente, tentando consertar semáforos apagados e nivelar pontes. Alagamentos, árvores caindo, não são da nossa natureza. Esse cenário triste e cinzento em nada contribui para qualquer perspectiva. Vivemos na insegurança econômica e social. Minhas investidas amorosas são uma sucessão de fracassos. Cada nova descoberta, um banho de água gelada. Até levar uma marretada na cabeça pelo Thor iria doer menos.

É isso o que tenho a dizer, meu divino Deus. Você não me dá outra alternativa a não ser blasfemar e reprovar todo seu deboche, sua pilhéria. Ou continuar acreditando que você não existe. Reafirmar categoricamente meu ateísmo. Achar que você é um golpe de marketing, uma criação pra deixar a Igreja mais rica e o Silas Malafaia mais famoso. Assim encerro toda essa maravilha. Passar muito bem.


sexta-feira, 15 de março de 2019

Pra mim chega


Ataques terroristas a mesquitas, em Nova Zelândia, deixam 49 mortos.

É fato, não dá para nos autorreverenciarmos, olhando para o nosso próprio umbigo, como protagonistas únicos da violência em massa. A decadência é mundial. A modernidade está nos levando ao ápice da barbárie medieval nas idades das trevas e da peste negra. Tempos atrás, temíamos as ruas, os becos, os morros e as favelas, os pontos perigosos e pouco habitados de uma metrópole. Hoje, devemos temer inclusive os lugares seguros e fechados, as casas de Deus, os centros de compras, as instituições do saber. Corríamos o risco de perder a vida diante da posse de supostas riquezas mal distribuídas. Numa espécie de permuta troglodita, diante de um assalto bastava dar a bolsa em troca de um alargamento de nossa perenidade. Hoje, como diziam nossos avós, para morrer basta estar vivo. Basta estar no lugar errado na hora errada. Basta ser alvo da mira de um psicopata, que escolhe aleatoriamente suas vítimas em nome de um Alá transgênico ou de uma hipnótica frase de efeito dos esquadrões suicidas de WhatsApp.

Seria presunçoso demais tentar entender as motivações que levaram ao ato criminoso lá na terra dos cangurus. Não quero levantar hipóteses rasas e levianas que discorrem sobre fatores psíquicos mais complexos. Mas aqui, na república das bananas, precisamos urgentemente levantar a voz e carregar as recentes atrocidades ao debate. É o mínimo que devemos fazer se quisermos conviver com uma sociedade melhor. Marielle Franco completou seu primeiro aniversário de morte e ainda falta muito para ser investigado. E o massacre na escola de Suzano deixou claro que educação e porte de armas são faces de uma mesma moeda.

Não dá para se afirmar categoricamente que o liberou geral da posse de armas facilitou o atentado. É bem provável que ele teria acontecido de qualquer jeito, mesmo se a lei não fosse promulgada. Podemos aqui tecer laudas e laudas para se tentar entender o passado. Mas, antes de tudo, é necessário discutir propostas para o futuro. Nesse sentido, o nosso governo tem pisado feio na bola. Armas não combatem armas. Pelo menos não nas mãos de pessoas erradas e despreparadas, os tais “cidadãos de bem”. Livros é que combatem armas. Educação de Primeiro Mundo, não essa patacoada baseada no ensino à distância, no obscurantismo religioso, no menino azul e menina rosa, na cantoria do Hino Nacional e no terraplanismo. É inadmissível nosso país ter como ícones dos propedeutas o Olavo de Carvalho e o Alexandre Frota. Estão querendo destituir a classe professoral de suas funções básicas. Professor não pode nem deve andar armado. Nem o bedel dos corredores. Nem o motorista da perua. Muito menos o dono da cantina. Quem tem que andar armado, e muito bem armado, é a polícia que faz rondas escolares. Que deveria ser muito mais ostensiva. Assim como os equipamentos de segurança da escola deveriam ser muito mais modernos e eficientes.

Quem se beneficia com a legalização das armas, ao contrário do que se possa imaginar, não é a população. É o grupo de milicianos que contrabandeia fuzis falsificados de grande porte. Que, por uma terrível coincidência, moram no mesmo condomínio da família presidencial. E, por uma outra grande coincidência, foram condecorados no passado por essa mesma família devido aos serviços prestados. E, por uma coincidência maior ainda, são acusados de matar aquela vereadora cujo pôster foi rasgado por essa mesma família real. Assim o ciclo se fecha. A máfia bélica atendendo a interesses econômicos pessoais e a interesses políticos da horda que assume o poder. Um clã determinado a eliminar o terrorismo comunista de nossas terras verdes e amarelas, utilizando justamente o terrorismo clandestino. E com o aval de porta-vozes da democracia, os generais e coronéis.

A concomitância do aniversário de uma morte anunciada com um ataque de esquizofrênicos haters não veio por acaso. Existe sim um paralelo muito cristalino entre esse autoritarismo permissivo e a nossa sociedade senil. Desarmar o povo, portanto, não se trata mais de uma questão de opinião. Esse assunto, somado a tantos outros que nos arrebatam quase todo dia, mostram que nosso ilustríssimo presidente caminha na contramão. Presenciamos uma sequência infinda de declarações atabalhoadas que nada condizem com as falsas promessas de preservação da ordem e retomada do progresso. Nosso representante-mor divide seu tempo alternando polêmicas nas redes sociais e cabeçadas nos decretos assinados por sua caneta Bic. Golden shower é marchinha de Carnaval perto de posicionamentos sobre temas muito mais sérios.

O que sobrou? Essa sensação generalizada de desgosto e desespero. Ânsia de vômito premeditada para cada ataque terrorista, como por exemplo acabar com o financiamento do Sistema S. Não dá mais. É pouco mais de um bimestre com a dolorosa e letárgica sensação de mais de uma década. Não se trata astrologicamente de ano ruim. É relação direta de causa e efeito de um governo mambembe, cujo líder nos envergonha na ONU lá fora e tenta domar seus filhos aqui dentro: o Dedé Bolsonaro, o Mussum Bolsonaro e o Zacarias Bolsonaro.

Até o mais ingênuo dos otimistas há de concordar comigo: a tragédia de Suzano foi só a ponta do iceberg. Muita coisa pior ainda vai acontecer.

Acaba logo, 2019. Já deu, porra.