Chega um momento da nossa vida em que a gente precisa cortar
o açúcar, cortar o carboidrato e, principalmente, cortar as pessoas
indesejadas. Elas não fazem falta. E, pode acreditar, você também não faz a
mínima falta a elas.
Exemplos, existem vários. Só vou citar um. Aqueles cinéfilos,
costumeiros frequentadores de salas alternativas de mostras e filmes de arte.
Tudo bem, eu já passei por situações em que precisei de algum favor. Um nome na
lista de convidados, uma indicação pra se fazer alguma escolha, uma cortesia
pra garantir a entrada numa sala lotada, enfim, práticas e atitudes comuns para
quem frequenta esse tipo de evento. Mas sempre procurei ser muito cordial na
maneira de agradecer ou retribuir a gentileza. Afinal, entendo que isso seja
uma relação de troca. Que, invariavelmente, começa com um “boa noite” e termina
com um “obrigado”. No mínimo. O que estou querendo relatar aqui é sobre aquelas
pessoas que, com sua avidez de zumbi, invadem conversas alheias, pedem dicas,
pedem ingresso, pedem pra entrar na fila, pedem, pedem, pedem. Nem fazem
aquelas perguntas retóricas do tipo “tudo bem?”. Eles estão cagando pra você,
pro seu estado de saúde e de espírito. O objetivo deles é entrar na sala, ver
um bom filme e não pagar nada.
Sempre tive muito orgulho de cada minuto em que fui crítico
de cinema. E prazer na grande maioria desses minutos. Mas essa função trouxe-me
junto uma sina como parte do pacote. Por um motivo qualquer, algumas pessoas
acham que eu tenho a obrigação de lhes fornecer todas as informações
necessárias, fazer uma cotação de um filme pretendido, dar nota, dizer se vale
a pena o risco e o esforço. Como se eu fosse o Waze da Sétima Arte. Nada contra
iniciar longos e saudáveis debates com os amigos. Afinal, a arte começa na tela
e acaba no imaginário das pessoas. Mas o que me incomoda, de verdade, é esse
comportamento exploratório e extrativista dos pidões das filas. Filas que até
podem ser intermináveis. Bem diferente da quantidade de verdadeiros amigos, que
olham pra você e não pro brinde que você vai oferecer a eles. A estes
sanguessugas, passei a adotar a forma estilística predominante do movimento
literário Arcadismo, em contraposição ao rebuscado Barroco: cortar o inútil.