sexta-feira, 15 de junho de 2012

Alma corsária

Quero guardar como registro na memória o momento em que eu e uns amigos nos encontramos em um bar na Augusta, no começo do ano, e, na saída, coincidentemente, cruzamos o Carlão (Reichenbach) subindo a rua após a Sessão do Comodoro. Ele subia a ladeira íngreme da Augusta com uma certa dificuldade, respiração ofegante, reclamando de dores em decorrência da angina. Assim que chegamos à parte plana da rua, paramos e continuamos a conversa. Foram quase 2 horas de prosa, sobre assuntos variados. Sentimos o Carlão progressivamente revigorado, recuperando o fôlego e com disposição para estender a conversa pela madrugada. Parecia que estava rejuvenescendo à medida que compartilhava com a gente as suas memórias, as suas saudades e as suas indignações. Sem dúvida alguma, o Carlão nos deixou um legado fundamental. Não só em relação aos filmes, mas principalmente em relação à pessoa que foi: um marginal na estética da Sétima Arte, mas um gentleman na maneira de ser, de ensinar, de repartir seu vasto acervo. Como forma de retribuição, acho que aquela subida na Augusta foi o mínimo legado que nós, apreciadores, pudemos oferecer a ele, e que, talvez, isso pudesse dar a ele alguns segundos a mais de vida. Ironicamente, deixei no inbox dele ontem a mensagem de felicitações pelo aniversário, finalizando com a alcunha de "alma corsária". Fique em paz, Carlão. Leve toda a inquietude de sua alma corsária para este lugar em que você passa a reinar.

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