quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Já vai tarde

 

É, pois é, 2020... estou aqui ao seu lado, neste hospital lotado, segurando sua mão, conversando com você, e eu só tenho uma coisa a te dizer: quero mais é que você morra.

Sei que você está inconsciente, respirando por aparelhos no seu leito de morte, mas tenho certeza que tá me ouvindo. Te desejo isso, do fundo do meu coração, pelas maldades que você fez. E você aí, intubado, merece esse castigo pelo tanto de pessoas que deixou nos corredores, tossindo, agonizando, à espera de uma vaga. Não tem vergonha na cara não? Só aqui você infectou mais de 7 milhões de pessoas. Matou quase 200 mil, deixando as famílias sofrerem enlutadas por causa desse coronavírus que trouxe da China, dos morcegos, dos tatus, sei lá de onde. Precisava ser tão cruel?

Seu pacto com o demônio começou bem antes da pandemia. Já em janeiro você começou a praticar o mal. Não deu trégua a ninguém, por um segundo sequer. Brincou de fazer chuvas, só que pegou pesado demais. Alagamentos, desmoronamentos, desabrigados em várias regiões do país, como Osasco e Baixada Santista. Resolveu botar um pouquinho de um tal de dietilenoglicol na cerveja da cervejaria mineira Backer, intoxicando várias pessoas e matando algumas delas. Não teve infância não? Parece que seu negócio é mesmo envenenar aquilo que a gente bebe. Botou um treco aí, parece que geosmina, na água do Rio de Janeiro, fazendo com que os cariocas não tivessem outra opção a não ser tomar água suja e fedida, cheirando a esgoto.

Aí depois veio aquilo que a gente já sabe. Ou melhor, não sabe. Ou não sabia. Você deixou todo mundo confuso. Até os médicos, as autoridades máximas da OMS, entraram em contradição. Fala a verdade, você só fez isso pra agradar seu ego. Quis assustar o mundo inteiro: surpresa! Era novidade todo dia, notícias contraditórias. Será que o vírus passa em contato com superfície? É contagioso como o ebola? Por que criança e cachorro não pegam? Se eu ficar com febre e dor de garganta, devo ir pro hospital ou ligar pro médico? Mas e seu eu for pro hospital, será que não corro o risco de pegar ali a doença? Que sacanagem... Até mesmo o renomado dr. Drauzio Varella no começo disse que isso era uma gripezinha. Depois pediu pra tirar esse vídeo do ar porque se arrependeu do que falou. Nem os médicos, doutores catedráticos em tudo, tinham as respostas. Sim, o Drauzio, tá lembrado? Aquele que entrevistou um travesti na prisão para o Fantástico, tomou as dores da solidão do entrevistado e depois virou meme. Bom, pelo menos isso você nos deixou de bom. Nunca se produziram tantos estudos, tantas pesquisas científicas em tão pouco tempo. Começamos a valorizar mais os médicos, os infectologistas e os profissionais de saúde que trabalham na linha de frente, salvando pacientes terminais no meio desse verme desconhecido. Quem diria que um dia o Atila Iamarino se tornaria campeão absoluto de visualizações em seu canal?

Só que eu não tô te elogiando, viu, seu safado? Muitos desses médicos e enfermeiros perderam suas vidas. Os que ficaram precisaram ser afastados por suspeita de contágio ou por estresse. Você deixou o sistema de saúde pública caótico no mundo inteiro. E junto com essa busca desenfreada pela ciência e pelo conhecimento vieram os negacionistas. Vai me dizer que não sabe o que é. São aqueles que acham que a Terra é plana. Que se recusam a tomar vacina. Que acreditam no isolamento vertical. Que desafiam autoridades e não usam máscara nem por decreto. Que vivem falando que a dengue matou mais pessoas, é tudo alarme falso da mídia esquerdopata.

Você é um sádico, 2020. Proibiu as pessoas de se abraçarem, se beijarem. Agora a gente olha cada um na rua que espirra como um suspeito, um inimigo. E não vem com esse papinho de que mesmo à distância estamos próximos um do outro. Bullshit! Você isolou todo mundo. E eu não tô falando só do fato de se ficar em casa, não. Você criou bolhas. Polarizou a sociedade que já estava polarizada. Você dividiu em vez de somar. Nunca vi tanta lacração e tanto cancelamento, na mesma proporção.

Quer que eu continue? Então... Sobre esse lance do confinamento... Você encheu nosso saco com esse papo furado de solidariedade, de se reinventar, ah, agora tá todo mundo se dedicando mais à família, fazendo ginástica em casa, todo mundo aprendeu a fazer pão, home office pra cá, home office pra lá, nhé nhé nhé... tudo conversa pra boi dormir. Você só conseguiu despertar o pior das pessoas. Nunca nos vimos tão egoístas e apavorados. Os casos de ansiedade e depressão cresceram na velocidade da luz. Você foi mais letal que seu bisavô 1918, o ano da gripe espanhola. Você fez um estrago na Economia ainda maior do que seu avô 1929, quando houve a quebradeira da Bolsa. A recessão para os próximos meses vai ser incalculável. E não sou eu que tô falando. São os especialistas do setor. Empresas de tudo quanto é tamanho fecharam suas portas para todo o sempre. A Sony se pirulitou daqui, depois de quase meio século. Vão pra falência principalmente as pequenas, que não conseguiram um bote salva-vidas dos bancos. Restaurantes tiveram que aprender na marra a fazer delivery só pra pagar as contas e manter o mínimo de funcionários. Isso pra quem conseguiu se manter no emprego. Só aqui no Brasil a gente soma 14 milhões de desempregados. Você teve a pachorra de acentuar ainda mais as desigualdades, a fome, a miséria.

2020, você é um verdadeiro filho da puta. Olha só o que você aprontou. Explodiu o porto de Beirute. Criou uma nuvem de gafanhotos. Quer trazer de volta as pragas do Egito, é isso? Tacou fogo no Hospital de Bonsucesso. Por acaso você acha que é Nero? Tenha dó! Pacientes que estavam sendo tratados de Covid morrem na transferência para outro hospital. Muito irônico, você. A pessoa escapa da morte de um jeito e morre de outro. Aliás, você não perdoou o Rio de Janeiro nem um pouco. O que tem contra a Cidade Maravilhosa? Escândalos na Saúde, compra superfaturada de respiradores e equipamentos de proteção, hospitais de campanha que não foram entregues... e as praias lotadas de Copacabana? A corrupção foi tanta que tivemos que impichar o governador Auchwitzel e enviar mandado de prisão domiciliar pro prefeito Crivella, acusado de chefiar o QG da propina. Sim, aquele que no começo da pandemia queria que todo mundo pegasse logo a doença pra criar imunidade de rebanho pra não precisar gastar um centavo com cuidados médicos com a população. Aquele que dava ordens por zapzap pros seus guardiões, para que impedissem a entrada de jornalistas nos hospitais pra fazer cobertura do estado calamitoso desses hospitais e enfermarias.

Você é um lixo, 2020. Simplesmente acabou com a nossa Cultura. Fez um desmonte geral em nome da ideologia. Botou um ministro que fez um pronunciamento com todos os requintes de um vídeo nazista. Depois botou a Regina Duarte. Pois é... a namoradinha do Brasil, lembra? Falou que tinha saudades de cantar uma música da ditadura, deu um piti numa entrevista ao vivo, parou no meio, disse que tinha tanta coisa boa pra falar... pelo jeito não tinha, né? Entre namoro, casamento e divórcio, foram menos de três meses. Se é pra colocar alguém que casa e separa em tempo recorde, seria melhor botar a Gretchen de ministra. Cê sabe quem é. Aquela que um dia foi a rainha do bumbum. E resolveu jogar toda a sua bunda pro seu rosto. Fez um monte de plástica, aplicação de botox... esse ano ela resolveu fazer uma tal de harmonização facial. Um treco aí que você colocou em moda. Até o padre Fábio de Melo você conseguiu convencer a aderir a essa porra. Mas voltando... depois da Regininha, você colocou aí no cargo um galãzinho de Malhação pra cuidar da pasta. Sim, uma pasta. Você reduziu esse ministério a pó. Acabou de vez com a Cinemateca, demitindo funcionários de carreira. Reabriu os cinemas no Dia das Crianças, exibindo uma versão final do diretor de Apocalipse Now. Quem diria... o apocalipse nas telonas... nada mais faria tão sentido nesse momento tão dramático que você promoveu. Você trouxe toda a tristeza para as artes. Esvaziou plateias. Atores de teatro tiveram que fazer suas peças olhando pra cadeiras com balões vermelhos. E quer saber de uma coisa? Eu ODEIO lives! Não aguento mais essa cantoria virtual, cada tenor ocupando 1 centímetro da tela do meu celular. Cadê a emoção? Cadê o calor humano? Você deixou tudo muito plástico, mambembe, improvisado, artificial. Eu quero é a vida de volta!

E na Educação, então? Você deixou os alunos sem aula por praticamente todo esse período. Você privilegiou quem tem internet boa em casa e condições de aprender todo o conteúdo sozinho no quarto. Você criou um vão enorme entre as crianças ricas e as mais pobres. Isso sim é distanciamento. As consequências desse atraso no ensino vão ser sentidas pelos jovens durante a próxima década inteira. Você nomeou para ministro um maçom evangélico que não fez absolutamente nada a não ser adiar a prova do Enem e ficar tuitando o dia inteiro. E com erros de Português! Ele era seu homem de confiança. Um cara que falou que tinha que prender aqueles vagabundos ministros do STF. Depois quis nomear um ministro que deixou de ser sem nunca ter sido, por causa de um currículo mais falsificado que whisky paraguaio. E agora botou lá outro ministro da sua ala religiosa, que acha que bater em criança serve de corretivo.

Você é um traste, 2020. Promoveu o ódio, a intolerância, o preconceito. Achei que tudo isso fosse uma página virada na história. Como fui ingênuo... você matou George Floyd por asfixia, dando início a uma série de manifestações no mundo inteiro como a gente nunca viu nesse século. Vidas negras importam, sabia? Achei que isso serviria de aprendizado. Que nada! Logo depois, na véspera de um feriadão, Dia da Consciência Negra, você me aparece no Carrefour e mata o João Alberto usando o mesmo método. Que vergonha... E ainda por cima tem a cara de pau de falar que no Brasil não existe racismo. Sim, o Carrefour. Não adianta livrar o supermercado da culpa, não. Ele não é réu primário. Já matou cachorro, já escondeu cadáver embaixo de guarda-sol, enfim...

E o que você fez com as crianças, seu bosta? Apertou o botão do elevador de um prédio de luxo lá de Recife só pra se livrar do Miguel, filho da empregada que foi passear com o SEU cachorrinho de estimação. Caiu do 9º andar, morreu na hora. Tinha só 5 anos, coitado. E o adolescente João Pedro, de 14 anos, lá em São Gonçalo? Morreu enquanto estava brincando dentro de sua própria casa. Precisava dar 70 tiros? E as meninas Emily e Rebecca, de 4 e 7 anos, que também morreram enquanto brincavam? Tiros de fuzil numa operação policial! Em Duque de Caxias, esse mesmo Rio de Janeiro que você tanto detesta. Nossa, só de lembrar me dá vontade de chorar... culpa sua, seu ignorante, que não prepara a PM pra proteger e servir a população.

E o que falar das mulheres? Cê não curte muito elas, né, seu babaca? Mais uma vez, batemos recorde de casos de feminicídio. Foram quase 700 durante o ano. Só no Natal foram meia dúzia. Inclusive uma juíza, morta a facadas na frente de suas filhas. Você veio com esse papo de ficar em casa, que é o lugar mais seguro... que nada! Você só fez aumentar o número de ocorrências policiais decorrentes da violência doméstica. Foi agressão atrás de agressão. Foi graças a você que tivemos um número maior de divórcios. Você não poupou ninguém, seu misógino do caralho. Apalpou os seios de uma deputada, em pena sessão na Assembleia! Cometeu assédio sexual com a Dani Calabresa. Você é horrendo. E ainda quis minimizar a questão. Estupro culposo, que porra é essa? Até seu amigo Robinho foi acusado de estupro e, em vez de se desculpar e criar um movimento de conscientização sobre a causa, sabe o que ele fez? Ficou tirando sarro nas redes sociais. Vergonhoso. Você expôs uma vítima ao constrangimento em plena live judicial, como se ELA fosse a culpada por ter se insinuado. Estupro é coisa grave, mas parece que você não se importa muito, não é mesmo? Lembra daquela menina de 10 anos que foi sexualmente violentada pelo próprio tio? Teve que ir escondida no porta-malas do carro até o hospital pra fazer o aborto. Isso porque você é retrógrado, cara. Vive na Idade Média. Ficou lá, na porta do hospital, fazendo protestos e tentando impedir a cirurgia. Se liga! A Argentina acabou de aprovar a lei do aborto. E você aí, continua falando sobre kit gay e mamadeira de piroca.

Bom, nem precisa falar sobre o meio ambiente, né? Você simplesmente fodeu com a natureza. Incêndios florestais na Austrália, incêndio na Flórida, que atingiu quase 4 mil carros... Foi triste ver aquelas imagens de animais mortos, ou feridos... Você esquentou ainda mais o planeta. Tivemos o verão mais quente dos últimos 70 anos. E aqui no Brasil não seria diferente, né, seu testa de catzo? Todas aquelas queimadas no Pantanal. O desmatamento recorde na Amazônia. Você foi uma verdadeira mãe para os madeireiros, posseiros, grileiros. Passou vergonha ao lado de Al Gore, dizendo que quer explorar a Amazônia junto com ele. Que ridículo... Você é motivo de piada no exterior. Vários investidores europeus vão deixar de investir aqui por causa de sua política de abrir as pernas nessa questão. Sabia que muitos estrangeiros começaram a boicotar os produtos que você fabrica? E aquele papelão na reunião ministerial? Diante de tanto desmatamento e tanto descaso com o meio ambiente, você chega e fala: passar a boiada?

Você é sórdido, 2020. Prometeu acabar com a corrupção no país.  Só que, na real, foi um dos mais corruptos da história. O escândalo das rachadinhas, com o Fabrício Queiroz operando essa grana toda. Sabe? Aquele que foi encontrado escondido nos porões da casa de Wassef, o advogado da família de Bolsonaro. Ninguém soube explicar de onde vieram os R$ 89 mil que ele depositou na conta da primeira-dama, Micheque. Teve a loja de chocolate que serviu de fachada para lavagem de dinheiro. E o Gabinete do Ódio, que foi financiado com dinheiro público para divulgar fake news nos grupos de zap? Na cara dura, numa das salas do próprio Palácio do Planalto.

Nem preciso falar muito sobre a Saúde, né, seu calhorda? Nunca tinha ouvido falar em lockdown. Comorbidade e perdigoto viraram palavras tão corriqueiras quanto puta que o pariu. Quase 1 milhão de pessoas já morreram dessa praga. E tem gente que ainda bate de frente com as autoridades. Você vive negando a gravidade da situação. Anda de cavalo no meio da multidão. Dá um rolê de Jet ski. Vai praticar tiro, seu esporte preferido, enquanto os estados e municípios abrem valas comuns para enterrar os mortos. Esquece de usar a máscara, ou faz isso de propósito. Passa a mão no nariz e depois vai cumprimentar um apoiador. Você é um porco, mesmo. Até a ema resolveu te bicar! Patético... Toda hora você arruma treta com os governadores. Boicota as vacinas. Comprou um estoque de milhões de caixas de cloroquina, mesmo que o medicamento não tem comprovação científica! Você está longe de ser um mito. Você é um genocida. Foi um dos mais omissos no combate à pandemia. Trocou de ministro três vezes. O primeiro até que era bom. Profissional da área, entendia do assunto. Mas esse último aqui... pelamor... general na ativa? Reconhecido pela sua logística, mas que não sabe planejar nada? Deixou milhares de testes estragarem nos galpões de um aeroporto. Esqueceu de comprar seringas para as vacinas. Não faz ideia do que seja o SUS. Tenha dó!

Eu ainda queria falar um monte de coisa, seu crápula. Mas sei lá, você já tá morrendo mesmo... Aquela vexatória reunião ministerial, com um monte de baixaria... e eu nem tô me referindo aos palavrões! A demissão do Moro, seu ministro mais forte, por causa das provas que ele tem sobre sua nomeação para a Polícia Federal. Imposto zero para importação de armas... aquela desafinada sanfoneira de Ave Maria... aquele cercadinho de minions, que vinha te aplaudir e bater em jornalista... aquele bando de ultra-reacionários, que vieram vestidos de Ku-Klux-Klan pra atirar fogos de artifício em direção ao prédio do STF... Sara Winter, putz... aliás, o que não faltou foram reaças vestidos de verde-amarelo, né? Querendo o fechamento do Congresso, pedindo a volta do AI5... e você aí, rindo de tudo isso, adorando o movimento... você não presta.

É, tô vendo aqui o monitor do seu leito... seus batimentos cardíacos aumentaram, né? Sabia que você não estava totalmente inconsciente. Mas calma que eu ainda não acabei. Não posso deixar de mencionar as asneiras que você falou, meu caro repugnante 2020. Quase todo dia você ia pro seu curralzinho ou pras redes sociais falar uma merda diferente. Nem consigo me lembrar de todas, porque meu ouvido não é penico. Mas algumas ficaram ecoando aqui na minha cabeça. Gripezinha... e daí?... não sou coveiro... cala a boca... vontade de encher sua boca de porrada... quem é de esquerda toma Tubaína... quem toma refrigerante cor-de-rosa vira boiola... aliás, que fixação essa por refri, hein? Mas, continuando: país de maricas... brasileiro pula em esgoto e não acontece nada... pandemia no finalzinho... tem muito mais, viu?

Bom, sei que falei demais e você não vai conseguir acordar pra consertar todas essas cagadas. Mas não posso deixar de fazer uma homenagem a todos que você levou embora. Logo no comecinho do ano você matou o Neil Peart, o maior baterista do mundo. Aliás, você foi implacável com os bateristas de rock. O que você tem contra eles? Frankie Banali, Lee Kerslake... você também matou o guitarrista Eddie Van Halen, lembra? Ennio Morricone! A lista é grande, seu sádico do caralho. Moraes Moreira, Aldir Blanc, Flávio Migliaccio, Fernando Vanucci, Orlando Duarte, Daniel Azulay, o rei do basquete Kobe Bryant, Pierre Cardin, o pantera-negra Chadwick Boseman, coitado... teve também a Vanusa, Nicette Bruno, Sean Connery, Tom Veiga, mais conhecido como Louro José, Paulinho, vocalista do Roupa Nova, Zé do Caixão, o cartunista Quino, que criou a Mafalda... até o ídolo Maradona você assassinou! Tá certo que ele vinha tendo problemas de saúde, mas enfim, continuando... Cecil Thiré, Rui Chapéu do bilhar, Little Richard, Kirk Douglas, Eduardo Galvão, Paolo Rossi, Rubem Fonseca, o ministro Bebianno, Gilberto Dimenstein, Kenny Rogers, Maria Alice Vergueiro, Rodrigo Rodrigues, aquele simpático jornalista... Terry Jones, do Monty Python, Joel Schumacher, que dirigiu o mais cafona dos Batmans, Ciro Pessoa, ex-Titãs, Leonardo Villar, Sérgio Sant’Anna, Zora Yonara... nem pra Astrologia você deu folga... Tunai, Nelson Leirner, Peter Green, Johnny Nash... I can see clearly now, lembra? Teve o ex-Menudo Anthony Galindo... to vendo aqui, Fábio Guimarães, idealizador de um aplicativo que monitora a Covid-19... sério, cara? Jura que você teve a coragem de fazer isso? Teve Max Von Sydow, juiz Nicolau... bom, esse não vai deixar saudades... Alan Parker, Kelly Preston, enfim, a lista é gigantesca. E isso só mostra o quão mau-caráter você foi.

Pois é, 2020. Seu tempo de vida aqui na Terra foram 366 dias. Mas parece que você viveu uns 107 anos. Isso mesmo, 366. Ainda por cima você foi um ano bissexto, era só o que me faltava! Se pelo menos ainda houvesse o horário de verão, pra você partir pra longe uma hora a menos... mas não! Sua jornada aqui foi longa e interminável. Pelo menos agora posso me despedir de você. Então eu encerro meu longo discurso dizendo: apodreça no Inferno! Saia logo desse leito e vá repousar eternamente no seu túmulo de mármore. Eu não te quero mais! Nem vou festejar a sua passagem com fogos de artifício porque você nos proibiu de comemorar o réveillon. Desencarna logo e dê lugar para seu filho 2021, que certamente vai nos reger com muito mais amor e leveza.

 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Burger King

 

Como publicitário e consumidor de fast-food, não posso deixar de admitir: as campanhas da rede Buger King são do caralho.

 Nos meus mais de 30 anos de profissão, confesso que minha relação com a profissão nunca esteve tão desgostosa. A Propaganda perdeu seu brilho, seu charme, sua irreverência. Tá tudo muito genérico, muito padronizado, muito parecido. 2020 escancarou uma tendência que já vinha se notando nos anos imediatamente anteriores. Parece que todos os clientes estão falando a mesma coisa. O discurso é o mesmo. Começamos a prestar atenção nos anúncios, comerciais e postagens no modo soneca. A gente se esqueceu das marcas, pois todas elas parecem fazer parte de um mesmo pacote. Reparou nas campanhas de banco? Tudo igual. É aquele mesmo tom emocional, milimetricamente calculado para fazer chorar. E para vender a imagem solidária de um dos segmentos de mercado mais perversos durante a pandemia. E as operadoras de celular? Minorias raciais fazendo exatamente as mesmas poses, só pras empresas ficarem bem na fita no que diz respeito à diversidade. O consumidor ficou chato. Eu fiquei mais chato. E a Propaganda deveria trazer aquele frescor. Mas não. Ficou tão chata quanto a gente.

 A Propaganda ficou sem graça, em boa parte pela mudança de processos. Hoje você não consegue vender uma proposta se ela não vier embalada numa apresentação em Power Point com 100 slides. A parte boa, gostosa e divertida de se assistir não ocupa mais do que 20% desse projeto. Tá lá, embutida, tímida, seguida de uma defesa criativa. A Publicidade brasileira virou isso. A necessidade de defender e o medo de atacar. Tudo agora é conceito. Um brinde de fim de festa não pode ser só um brinde se não tiver um conceito. Tudo tem que estar amarrado, linkado e outras palavras que os neomarqueteiros adoram usar. A criatividade cedeu lugar à viralização. Não basta ser um gênio. Tem que ter seguidores, tem que promover o buzz, tem que ter uma historinha por trás. Storytelling, debriefing, benchmark, live marketing, social media, user experience. Novos nomes, novos modos de operar, uma nova realidade que camufla, acoberta e ofusca cada vez mais a essência e a alma do negócio: a boa ideia.

 É por isso que eu vejo o Burger King como um oásis no deserto. Me faz lembrar os áureos anos 70, 80 e parte dos anos 90. Quando a Publicidade brasileira era mundialmente premiada com louvor. Quando o comercial de 30” ficava retido na memória pelo seu aspecto inusitado e não pela insistência de veiculação. Quando a gente ligava a TV só pra ver esses filminhos. Folheava uma revista só pra ver os anúncios. Naquela época eu entendia o sentido da frase que diz que o ótimo é inimigo do bom. Que saudades, que delícia lembrar do embate ideológico e publicitário das campanhas da Folha e do Estadão. Aquilo sim era polarização de verdade, de bom gosto.

 O Burger King trouxe de volta essa ousadia esquecida. Deixou de lado a fobia do erro. Não tem pudor algum em mostrar o anti-appetite appeal. Aprendi na faculdade que, de um modo geral, via de regra, o segundo lugar no ranking de consumo costuma se valer de uma comunicação mais agressiva em comparação com o líder. Faz um certo sentido. As campanhas da Pepsi são mais memoráveis que as da Coca-Cola. A gente quase não guardou nada muito marcante da Nestlé, Unilever, Samsung. O Mc Donald’s, por exemplo, faz belas campanhas eletrônicas e digitais. Assistindo ao preparo de um sanduíche, dá vontade de salivar. Nas redes sociais, usa uma linguagem engraçadinha. Até aportuguesou o nome de suas lojas. Mas nada que fique pra história. Do ponto de vista ético e estético, tudo muito convencional. Já o Burger King foi além. Entrou de cabeça na política ao veicular uma campanha contratando o elenco rejeitado por Bolsonaro nos filmes do Banco do Brasil. Pode ter sido uma estratégia oportunista, mas ao menos serviu para cutucar o estado das coisas e trazer um pouco mais de calor a essa publicidade tão branda, tão morna e tão politicamente correta. Publicou a foto de um sanduíche mofado, esverdeado, que despertou nojo ao invés de fome. Mas ali havia uma grande ideia. Aquilo foi uma provocação, um ataque frontal ao seu principal concorrente e arqui-inimigo de vendas, que usa uma série de conservantes e ingredientes químicos para que seus produtos não envelheçam. E eis que ontem, no intervalo da Retrospectiva 2020, me deparo com a mais recente boa-nova da rede. Vi na TV, aquela geringonça que enfeita a sala. TV aberta, Rede Globo, antigo canal 5. Porque, quando a ideia é genuinamente boa, não importa onde seja transmitida. Na pausa em que se recapitulou esse horrendo 2020, o filme do Burger King mostrou pessoas deglutindo um lanche igualmente horrível, composto por gororobas como jiló, pé de galinha, jaca, miojo e outras descombinações. Foi a melhor comparação simbólica do ano. A degustação desse lixo gastronômico causou ânsia de vômito aos participantes, assim como a pandemia, o uso de máscaras e o “e daí?” causaram essa mesma vontade a nós, telespectadores. Parabéns aos envolvidos. Vocês trouxeram de volta o humor a um segmento de mercado tão anódino ultimamente. É isso que de fato nos chama a atenção: uma ideia ótima no meio de um ano péssimo.

 

domingo, 20 de dezembro de 2020

Aspirador de pó

 

Natal é época de realizar sonhos, fazer pedidos e correr atrás dos objetos de desejo. Sonhos, pedidos e desejos, isso é o que resume a festividade. Se Papai Noel fosse psiquiatra, estaria com seu consultório lotado até a próxima década. Durante os últimos dias do ano, marcado por restrições e contenções de despesas, a gente faz questão de sonhar alto. Pede logo uma TV Ultra HD 8K tamanho Espaço Itaú de Cinema. Ou gasta todo o 13º dando entrada nela. Pede um ar-condicionado, logo agora que faz um calor da porra, que obedece ao dono por comandos de voz. Solicita ao velho barbudinho uma casa conectada, em que todos os aparelhos parecem fazer parte de um grupo de WhatsApp, e com um controle remoto universal você consegue ao mesmo tempo ver o que tem na geladeira, selecionar a função gratinar do micro-ondas e escolher um filme na Netflix.

 

Eu também queria sonhar com uma Ferrari doméstica. Mas estamos em 2020, lembra? Qualquer coisa que vier do saco do Polo Norte já tá de bom tamanho. E tem outra: com os péssimos serviços de delivery observados recentemente, não é bom contar muito com a sorte. Vai que as renas confundem as chaminés e seu pedido vai parar numa fábrica desativada da Mooca. É que nem os especialistas em Economia falam: em época de pandemia, não existe almoço nem frete grátis.

 

Por isso, optei por uma escolha mais módica. Fui até uma loja física e comprei um aspirador de pó. Não quero ter uma casa igual à do Luciano Huck nem acabar com a fome do planeta. Se eu conseguir acabar com minha lordose já fico satisfeito.

 

O aspirador de pó aqui de casa está mais quebrado do que eu após a faxina. Tudo se desmonta. Parece que foi fabricado pela Lego. A alça para transporte manual se soltou da base e está amarrada por um barbante. O tubo plástico se solta a cada arrastada. De tanto ser pressionado em superfícies, o orifício de sucção do cano (esse é o termo técnico; não vá pensar bobagem) se comprimiu. Antes dava pra passar uma bola de tênis por ele. Agora, mal e mal uma bolinha de gude. A vassourinha que se acopla ao cano tem uma quantidade de fios de cabelo igual ao véio de Havan. Descobri que meu aspirador sofre de asma, coitado. Não consegue inalar a poeira por muito tempo sem tossir. Não é um aparelho propriamente pesado. Mas é um inútil. Largado. Não dá a mínima vontade de carregar esse encosto. Numa relação proporcional entre a massa atômica de um corpo que ocupa lugar no espaço e os serviços que ele presta à Humanidade, poderia dizer que adotei o cantor Péricles. Talvez ele até tenha lutado bravamente no combate à sujeira. Logo depois da Segunda Guerra. Acredito que ele tenha sido entregue à nossa casa, lacrado e autografado pelo próprio inventor do aspirador de pó. Ou não. Talvez essa geringonça tenha sido comprada no Mappin, em 10 parcelas de 2,5 milhões de cruzados novos. Não sei. Procurei o manual de instruções para saber sobre a assistência técnica. Estava escrito em aramaico. Fui ver na garantia. Venceu no dia do milésimo gol do Pelé.

 

 

Quero deixar registrado que odeio, com todas as letras, fazer faxina e tirar o pó da casa. Isso me remete aos tempos mais traumáticos da minha adolescência. Não consigo atenuar o desgaste que isso me causa ou minimizar a chatice da tarefa. Não vejo essa função como um substituto ao exercício em academia. Lá na Smart Fit você tem a chance de paquerar as meninas com seus corpos esculturais. Na faxina, o máximo que vai acontecer é você exibir suas banhas e sua camiseta velha do Iron Maiden pros vizinhos. Na academia você se transforma num Vin Diesel. Limpando a casa, você vira um Corcunda de Notre Dame. Na malhação você libera endorfina. No suadouro doméstico você implora por um Dorflex.

 

Mas, já que esse afazer é obrigatório, necessário e inevitável, e durante o isolamento social não tem ninguém que faça por você, o jeito então é sonhar. Com um aspirador prático, potente, fabricado neste milênio. Que limpa, que funciona, que te faz feliz por meia hora. Esse é meu desejo freudiano. Passar o Natal livre do coronavírus, dos ácaros e da escoliose.

 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Geração 68

Nasci em 1968. Tenho, portanto, 52 anos. E o conselho que posso dar a vocês, meus amigos, do fundo do meu coração, é: excluam, bloqueiem, deletem, eliminem de todas as formas possíveis as pessoas nascidas nessa data.

 

Sei que pode parecer cruel agir dessa forma com quem fez parte de um período de grandes transformações mundiais. Que nasceu junto com a revolução. Nada disso. Talvez você até tenha trazido no seu imaginário a figura de Godard ou Bertolucci, ícones de uma geração contestadora. Mas, no fundo, é bom lembrar que meu prelúdio de vida coincide com o Ato Institucional número 5.

 

Quem é de 68 ocupa espaço num limbo histórico. Preenche um vácuo tardio demais para a geração hippie e precoce demais para a geração Z. Teve sim a Tropicália, o Jimi Hendrix, a pop art de Andy Warhol, o Cinema Novo, os guerrilheiros e muito mais representações simbólicas e ferozes de uma sociedade inquieta. Mas eu estava cagando nas fraldas, e minha única preocupação era não tropeçar nos fios da Telefunken enquanto engatinhava. Ou engasgar com os gordos farelos da farinha láctea Neston. Meu pipi era subdesenvolvido demais para que eu pudesse participar das orgias, esbórnias e bacanais promovidos pelos ripongas e seu estilo de vida flower power. Morria de inveja. Sei apenas de ouvir falar que o sexo era algo corriqueiro e, para se conseguir, nem era necessário postar selfie de biquinho no Tinder. Vivi tardiamente essa experiência louvatória a Jim Morrison. A viagem delirante enquanto se ouvia a voz rouca de Janis Joplin. Hoje a rouquidão com a qual temos de nos conformar é do MC Guime. Ouvia relatos e mais relatos de como era bom tudo aquilo. Maconha, incenso e Deep Purple, tudo junto e misturado. Dava pra ver no semblante dos adeptos à dieta macrobiótica (os pais do vegetarianismo, portanto, avós do veganismo) como eles foram felizes. Hoje é meio difícil perguntar a eles. Qualquer coisa. Sua memória se esfacelou com os chás de cogumelo. Outros fizeram viagem de ácido e nunca mais voltaram. Talvez ainda haja algum remanescente razoavelmente sóbrio, frequentador assíduo do Café Piu Piu no Bexiga, que possa nos rechear de mais histórias bacanas. Aquela reunião de amigos na casa do mais endinheirado, que acabou de voltar dos Estados Unidos e trouxe o Paranoid, do Black Sabbath. Nos anos 70, não dava pra ouvir disco nacional. Eram lançados com dois anos de atraso, o vinil era flácido, a capa molenga, faltavam encartes e as fotos eram trocadas por causa da censura. O jeito era então botar a bolacha pra tocar na Pioneer enquanto se bebia um copo de cuba libre e se beijava a sósia da Rita Lee. Quem viveu, viveu. Viagens a lugares desérticos, todo mundo hospedado na casa de todo mundo por vários dias, luaus intermináveis, pedir carona na estrada rumo a algum canto em que estava rolando um festival. Woodstock pra mim era só o nome de personagem de desenho animado.

 

Também já era maduro demais pra me deleitar com o que veio depois. Entrei na fase de precisar estudar, trabalhar, ganhar dinheiro. Confesso que nunca na vida assisti a um episódio de Chaves. Conheço a figura por causa das camisetas, dos memes e da coleção de bonecos do Mc Donald’s que se esgotou em questão de horas. Mas não faço ideia de quais sejam seus bordões. Uma vez quase briguei com um amigo porque não entendi uma frase que ele comentou, fazendo uma apologia ao seriado. Não sei do que se trata os Cavaleiros do Zodíaco, embora identifique uma música irritante de fundo. Devo ter assistido, em toda a minha vida, no máximo meia hora de Castelo Rá Tim Bum. Jamais assisti a Malhação. Quando frequentava os shows de stand up com mais regularidade, sempre tinha um momento de branco total pra mim. Praticamente todos os comediantes, em algum momento de seu show, falam em hadouken. Não sei o que isso significa. A maioria da plateia ri. Menos eu.

 

Em compensação, eu também jorro informações baseadas no meu referencial que não dizem respeito a ninguém. Nas poucas vezes em que me apresentei contando piadas, falava sobre um tiozinho que ficava numa banqueta nas ruas do Centro da cidade, em frente à porta de algum puteiro, anunciando que o show de strip tease estava começando exatamente naquele horário. Durante praticamente 24 horas por dia. Como seria possível uma performance de nudez começar ininterruptamente? Ou nunca acabar? Seria ali o palco do Dia da Marmota? Haveria a presença do Bill Murray na plateia? E o que dizer de outros performáticos da região, que ficavam eternamente anunciando seus shows sem nunca apresentarem o espetáculo ao público? Prometiam engolir facas, atravessar argolas pegando fogo, e o máximo que nos presenteavam era com a imitação de um miado esganiçado. Nesse mesmo núcleo do burgo em que vivo, passou batida a referência aos cabeleireiros, que colavam em suas vitrines as fotos de artistas e galãs impressos em alguma revista da editora Manchete, onde exibiam seus exuberantes penteados feitos à base de laquê. Por falar em cabeleiras esvoaçantes, sou de um período vazio em que era legal curtir metal-farofa. Aquelas bandas misóginas, cujos integrantes vestiam botas com salto plataforma e uma calça listrada bem apertada, parecendo uma zebra. Lá nesse mesmo Centro eu ia ao Mappin. Mas não era pra tomar o chá das cinco na cobertura (hoje chamada de rooftop), pois na minha época isso já não existia mais. Quando eu subia de elevador, não era pra saborear as iguarias paulistanas. Era pra pagar conta mesmo. Tinha um andar inteiro, talvez chamado de ala dos pobres, dedicado exclusivamente à abertura de crediários para que os clientes pudessem parcelar seu Velotrol comprado em 12 suaves prestações. Nem tão suaves assim. Existia no primeiro andar o sonho de consumo, que se confrontava no quinto pavilhão com o choque de realidade. Os fregueses eram mal tratados, vistos como caloteiros (hoje, inadimplentes). Eu ficava horas ali esperando minha mãe receber o carnê da dívida recém-adquirida. Daria tempo de comprar todos os faqueiros e jogos de toalha Santista expostos na loja.

 

Havia também outras lojas de departamento sobre as quais nunca a geração iPhone ouviu falar, como Sears, Mesbla, Dillard’s, Arapuã, Ducal, JumboEletro (joint venture dos supermercados Jumbo com a Eletroradiobraz). Mas a que mais me chamava a atenção eram as Lojas Americanas, que sobrevive até hoje. Lá se vendia a melhor batata frita do país, feita num quiosque e oferecida dentro de um saquinho branco igual ao de pipoca de cinema de rua. Essa rede de lojas também era conhecida pelo seu atrativo em não oferecer um esquema máximo de segurança. Era muito fácil furtar nas Americanas. Nunca fiz isso. Mas tenho conhecidos do clube do qual era sócio, alguns deles também nascidos em 68, que eram craques nisso. Indivíduos bem endinheirados, por sinal. Tinham apartamento no Guarujá, iam todo ano pra Disney, entretanto, batiam uma punheta quando conseguiam embolsar um tablete de Kri. Essa loja era um convite aberto ao crime. Pena que, na pirâmide social, quem o cometia era justamente quem menos precisava cometer.