sexta-feira, 23 de junho de 2023

Ao Seu Lado

Um jogador lesionado de rúgbi do time da liga principal é selecionado para jogar num time da liga secundária como parte de sua recuperação. Em determinado momento, ele se apaixona por um outro jogador da mesma equipe. Porém, ambos são casados e tentam esconder essa relação, não só de seus próprios parceiros, mas também dos companheiros do time. 

Apesar de ser lançado no mês do Orgulho LGBTQIA+, o filme não coloca a homossexualidade como uma questão. Diferentemente de outros filmes lançados comercialmente, esse tema não é tratado como um tabu. Todos os demais jogadores apresentados na tela (ou pelo menos a maioria deles) também são gays. Convivem em ambientes liberais, bares e boates temáticas. Nesse aspecto, não existem conflitos.

O que o filme coloca em xeque é a traição, a infidelidade conjugal e suas consequências. Valores que poderiam ser retratados, inclusive, em relações heterossexuais. 

Apresentar ou vender esse longa como "filme de nicho" pode até despertar  uma curiosidade no espectador, que eventualmente tende a criar expectativas sobre assuntos específicos ligados ao tema. Por outro lado, corre o risco de cair no ostracismo e ser ignorado pelo grande público, já que nada mais é do que "mais um filme de amor proibido".

E sim, o filme não avança em maiores dilemas a não ser o que está descrito na sinopse. A cena inicial, uma disputa acirrada pela bola durante um jogo, atletas se sujando de lama do gramado, escorregando, caindo, pode até ter em si uma força bruta. Mas essa força não se sustenta. Ao Seu Lado é um filme melodramático, que exagera um pouco nas tintas e deixa essa potência para segundo plano.

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Três Mulheres: Uma Esperança

Nos dias finais da Segunda Guerra Mundial, soldados alemães abandonam um trem de deportação. Os judeus dentro do comboio serviriam de moeda de troca para serem negociados com o exército russo. A partir dessa realidade, o filme traça o improvável encontro de três frentes da guerra, sob o protagonismo feminino. A judia holandesa Simone, que precisa cuidar do seu marido que contraiu febre tifoide; a desconfiada alemã Winnie, que viu sua mãe ser morta pelos soldados russos; e a atiradora russa Vera.

Trata-se de um filme denso, que aborda um tema árido, embora batido nas telonas. O que ele traz de novo é o foco: os personagens masculinos ocupam papeis secundários. E o que torna o filme ainda mais interessante é que a relação entre as mulheres se dá de forma circunstancial. Não há, em princípio, nenhuma afinidade que as faz se unirem.

Sob o olhar frio e meticuloso da diretora e roteirista holandesa Saskia Diesing, Três Mulheres busca o tempo todo encontrar na tela algum refúgio, alguma brecha para a escapatória diante de um cenário de morte. Embora a guerra esteja prestes a acabar, existe um resíduo moribundo que a diretora faz questão de estampar. É um ato de sobrevivência pós-finale. Nesse sentido, o filme faz diversas trocas de ambiente, como se colocasse na pele do espectador a sensação de fuga e de reencontro.


Meu Vizinho Adolf

Segunda Guerra Mundial. Uma família judia, aparentemente feliz, se agrupa para tirar uma foto. Um deles gosta de jogar xadrez. A cena mostra a boa relação familiar, em contraponto às dificuldades mecânicas de se tirar fotografia naquela época.

Corta para os anos 60, Chile. O enxadrista, que parece ser o único sobrevivente da família durante o Holocausto, mora sozinho numa casa vazia. É recluso e mal-humorado. De repente, começa a desconfiar que o vizinho recém-chegado é Adolf Hitler e recorre ao consulado de Israel para fazer a denúncia. Não sendo levado a sério, inicia uma investigação independente para provar sua teoria. Quando as evidências ainda parecem inconclusivas, ele é forçado a se relacionar com o suposto inimigo, igualmente fechado e ranzinza, para obter novas provas.

Até este momento, em que o relacionamento entre ambos parece inóspito, Meu Vizinho Adolf tenta trazer um tom de comédia. Talvez até demais. Não fosse a bela atuação de David Hayman e Udo Kier, o filme correria sérios riscos de se tornar caricato.

Aos poucos, a habilidade do diretor e roteirista Leon Prudovsky transforma o cômico registro desses atritos num material um pouco mais sensível. O atrito e a animosidade de ambos vai derretendo, e o tratamento dado ao filme valoriza a construção dessa improvável amizade.