terça-feira, 23 de abril de 2024

JOSÉ APARECIDO DE OLIVEIRA – O MAIOR MINEIRO DO MUNDO

As cenas iniciais trazem rápidos depoimentos de pessoas, de vários espectros, elogiando José Aparecido. Não sabemos exatamente qual trilha o documentário vai seguir, mas esse introito já nos coloca numa situação de espectador imbuído pela nobreza de caráter e iniciativas de boas causas do documentado.

Como valorização do objeto fílmico, o material cumpre seu papel. José Aparecido é colocado num pedestal, coroado de louros por tudo aquilo que fez ou intencionou fazer em vida. 

Como demonstração de flexibilidade, o filme também cumpre seu papel. Amigos e familiares, políticos, diplomatas, historiadores são entrevistados. Artistas também dão seu elogioso parecer: Fernanda Montenegro e seu conterrâneo Ziraldo, por exemplo. Isso mostra a versatilidade do político, que procurava manter um diálogo com diversos setores da sociedade. Ia pra esquerda e ia pra direita, conforme registrado em fala.

Do ponto de vista histórico e didático, entretanto, o filme apresenta muitas falhas. Já que não se pretende fugir das fórmulas que engessam esse formato, nem mesmo se permitir incursões mais autorais e experimentais (muito pelo contrário), a obra carece de mais esclarecimentos, já que José Aparecido, embora muito importante no campo político, não teve aquela notoriedade semelhante ao Tancredo Neves, só pra contextualizar. Saímos do filme sem aquelas certezas ou aprendizados básicos, típicos de exercícios documentais do gênero. Em sinopse, consta que José Aparecido de Oliveira foi jornalista, Deputado Federal, Secretário de Estado, Ministro de Estado, Governador e Embaixador. Mas em que período histórico? Eleito ou nomeado? Em que contexto político? Fez quais alianças? 

Como resultado, temos uma colcha de retalhos com muito cetim e pouca costura. Trata-se mais de um apanhado de louvações, algo relativamente fácil de se filmar, do que um exercício de se tentar fazer uma relação entre o discurso dos amigos e colegas e a trajetória do documentado. Parece grosseiro, mas torna-se inevitável concluir: é muito puxa-saquismo para pouco cinema.


quarta-feira, 17 de abril de 2024

Névoa Prateada

Franky é uma enfermeira de 23 anos que vive com a família em um bairro no leste de Londres. Obcecada por vingança e com a necessidade de encontrar culpados por um acidente traumático ocorrido há 15 anos, que a deixou com queimaduras pelo corpo, ela é incapaz de se envolver em um relacionamento com alguma profundidade, até que se apaixona por Florence, uma de suas pacientes. As duas fogem para o litoral onde Florence mora com a família. 

Com roteiro e direção de Sacha Polak, Névoa Prateada é mais um filme que se debruça na lógica baixo-astral que permeia parte do cinema contemporâneo europeu. As relações humanas são constantemente tensas, os diálogos carecem de fluidez, algumas cenas trazem um certo desconforto ao espectador. Tudo parece ruidoso o tempo todo, sem aquele respiro que alivia quem assiste ao filme.

Embora carregado nas questões psicológicas, o filme traz um resultado meio cinza. É como se quisesse se aprofundar nas amarguras individuais e nos dilemas sociais, mas não chafurda o suficiente a tal ponto de causar um verdadeiro mal-estar. O extrato disso é um filme morno, mediano.