terça-feira, 22 de junho de 2021

Indie 2020 - edição especial

 O INDIE20 vai dar uma segunda chance para que os espectadores possam assistir alguns dos destaques da última edição, realizada online em novembro do ano passado. O festival promove de 25 de junho a 4 de julho, no site www.indiefestival.com.br, a exibição de nove longas, de seis países, além de 12 curtas internacionais e nacionais. A cada dia, um filme da programação ficará disponível online e o espectador terá 24 horas para assisti-lo. No último dia, em 4 de julho, a programação é dedicada aos curtas que ficarão disponíveis durante todo o dia.

 

A programação traz filmes da mostra competitiva, inclusive o ganhador de Melhor Filme, o mexicano Sanctorum, de Joshua Gil, além de outros filmes do cinema latino como o argentino Edição Ilimitada e o cubano Agosto, de Armando Capó. E do cinema asiático, Lost Lotus, de Liu Shu; Love Poem, de Wang Xiaozhen, e o documentário Zero, de Kazuhiro Soda. Da sessão Première, o público poderá conferir PJ Harvey: Um Cão Chamado Dinheiro, documentário do diretor inglês Seamus Murphy, e o filme japonês Perfil de uma mulher, de Koji Fukada. Completa a programação de longas o filme O ato indizível, da retrospectiva dedicada ao diretor americano Dan Sallitt. O dia dedicado aos curtas traz obras de diretores como Jennifer Reeder, Apichatpong Weerasethakul, Dan Sallitt, Rodolfo Magalhães, entre outros.

 

Todas as sessões são gratuitas e começam a contar à meia-noite, basta acessar o site do festival, que ainda traz disponíveis dois filmes acessíveis com LIBRAS, audiodescrição e legenda descritiva.

As sessões especiais do INDIE20 têm o apoio da Lei Aldir Blanc, iniciativa do Ministério do Turismo e do Governo do Estado de Minas Gerais. Realização Zeta Filmes.

 

INDIE20
Sessão especial
(sessões gratuitas e online)
www.indiefestival.com.br

+info
instagram: @indie_festival
twitter: @indiefestival
http://www.facebook.com/indiefilmfestival

 

PROGRAMAÇÃO

25/06 (sexta) – Sanctorum, de Joshua Gil, 83 min., México/República Dominicana/ Qatar, 2019.

26/06 (sábado) -   PJ Harvey: Um cão chamado dinheiro (A Dog Called Money), de Seamus Murphy, 92 min., Irlanda/Reino Unid., 2019.

27/06 (domingo) -Edição Ilimitada (Edición Ilimitada), de Edgardo Cozarinsky, Santiago Loza, Virginia Cosin, Romina Paula, 74 min., Argentina, 2020.

28/06 (segunda ) - O ato indizível (The Unspeakable Act), de Dan Sallitt, 90 min, 2012, EUA.

29/06 (terça) - Perfil de uma mulher (A Girl Missing), de Koji Fukada, 111 min., 2019, Japão/França.

30/06 (quarta) - Zero, de Kazuhiro Soda, 128 min., Japão/EUA, 2020.

01/07 (quinta) - Agosto, de Armando Capó, 85 min., Cuba, 2019.

02/07 (sexta) - Love Poem, de Wang Xiaozhen, 114 min., 2019, Hong Kong/China.

03/07 (sábado) - Lost Lotus, de Liu Shu, 82 min., Hong Kong/Países Baixos, 2019.

04/07 (domingo) – Dia dos curtas:

1 > Jennifer Reeder: FFDF (FEMINIST FUTURE DREAM FEVER)A milhões de milhas distantes (A Million Miles Away) de Jennifer Reeder, 27:58, 2014, EUA. Marietta Brimble, de Jennifer Reeder, 8 min, 2016, EUA. Sonhei que você sonhava comigo (I Dream You Dream of Me), de Jennifer Reeder, 10 min., 2018, EUA. As dunas (The Dunes), de Jennifer Reeder, 6:21, 2019, EUA.

2 > Vapor (Vapour), de Apichatpong Weerasethakul, 21 min., Tailândia/ Coreia/ China, 2015, Sem som.

3 > Caterina, de Dan Sallitt, 17 min, 2019, EUA.

4 > Sessão FluxusLeo, de Fabienne Mahé, 30 min., Suíça, 2020. Noites mais longas (Longer Nights), de J Frisch-Wang, 4 min., Alemanha, 2019. O apicultor (The Beekeeper) de Mohammad Talebi, 10 min., Irã, 2017. O diário das árvores (Tree Time), de Alexandra Lerman, 7:34, EUA, 2020. Ritu vende online (Ritu Goes Online), de Vrinda Samartha, 15:50 min., Índia, 2020. Motriz, de Rodolfo Magalhães, 18:33 min., Brasil, 2020.

domingo, 13 de junho de 2021

Quem Vai Ficar com Mário?

Já está mais do que dito que de boas intenções o Inferno tá cheio. Baseado no longa italiano O Primeiro que Disse, de Ferzan Öspetek, Quem Vai Ficar com Mário? procura fazer uma crítica leve aos tabus sexuais, ao machismo e à homofobia. Mas o grande problema é que esse combate ao preconceito vem recheado... de preconceitos.

Dirigido por Hsu Chien, o título faz uma clara alusão ao sucesso noventista Quem Vai Ficar com Mary?, dos irmãos Farrelly. Mas essa paródia fica só no nome, mesmo. Logo no começo, o lettering dos créditos iniciais aponta Com Quem Mário Vai Ficar?, antes da troca pelo título verdadeiro. Faz mais sentido. O filme trata do dilema do protagonista: ficar com Fernando, um diretor de teatro com quem mantém uma relação estável, porém secreta? Ou com Ana, uma coach recém-chegada à cidade gaúcha para dar um upgrade nos negócios da cervejaria da família?

Em seu propósito, o filme tem diversas referências bem-vindas. Dá pra ver um pouco de Gaiola das Loucas, ou Quanto Mais Quente Melhor, ou algo da remota chanchada brasileira. Tem até os ingredientes básicos de uma comédia de erros: uma casa com vários cômodos. Nada mais pertinente. Como resultado, entretanto, essa mistura heterogênea pouco funciona. Tudo parece já ter sido filmado antes. Não existe, de verdade, uma quebra de paradigmas conservadores que se justifique na linguagem apresentada. Ao querer trazer a brandura mastigável de um tema tão forte, ríspido e essencial nos dias de hoje, Chien parece cair numa armadilha. Enquanto procura a ruptura de valores moralistas, acaba sendo levado pela repetição desses signos alusivos à discriminação. Quem Vai Ficar com Mário? mais reitera do que estilhaça. Quando um motorista de aplicativo deixa o personagem em sua casa, logo no começo, e diz “Mário, que Mário? Aquele que...?”, não há nada de iconoclasta ou denunciador. Essa fala apenas redunda estereótipos, sem qualquer viés crítico, fazendo com que o longa mantenha do início ao fim o mesmo status quo.

 

Eu Estava em Casa, Mas...

Não procure linearidade nesse trabalho autoral da diretora e roteirista Angela Schanelec. A cena inicial de uma raposa caçando um amedrontado coelho dá poucas pistas sobre o verdadeiro tema do filme. Trata-se de um embarque a uma viagem que oscila entre o universo onírico, meramente subjetivo, e o plano cartesiano estritamente racional. Alguns conseguem mergulhar de cabeça; outros ficam à deriva, procurando explicações lógicas sobre um exercício de experimentalismo inflado de referências estéticas e literárias.

Apesar de parecer monótono numa primeira leitura, Eu Estava em Casa, Mas... se vangloria de não insistir numa mesma fórmula. Existe até um certo contraste, muitas vezes paradoxal, entre uma cena e outra. Tudo se constrói por oposições. Não se percebe uma costura formada pela similaridade ou contiguidade entre seus componentes fílmicos. Uma cena não elucida ou complementa a cena imediatamente anterior. Pelo contrário. Vamos de longos planos silenciosos, contemplativos, inseridos bucolicamente numa natureza estranha, a outros planos exageradamente discursivos e filosóficos nas ruas de uma metrópole. Sem dar spoiler, até porque não há como trazer aqui qualquer tipo de solução de charada, o filme é um compêndio que vai desde um burrico na varanda de uma casa abandonada até um grupo de crianças ensaiando Hamlet. Tudo é possível se coletar na intenção de se tentar entender o ser humano: da infinidade de citações psicológicas durante um passeio de bicicleta ao silêncio absoluto sobre uma mulher à beira de um ataque de nervos que não consegue ser tocada pelos seus filhos. Trazer esse tipo de ruído e provocação é um risco, e a diretora parece ter consciência disso. Abre-se mão de toda e qualquer simplicidade rasa na busca de algum tipo de compreensão. O resultado desse hermetismo exótico pode parecer tanto deslumbrante quanto igualmente enfadonho.