O vegano, o coach e o praticante de cross fit são muito
chatos. Não sou eu quem está dizendo isso. É o comediante Maurício Meireles em
seus shows de stand up. É a galera das redes sociais. Se você por acaso se
encaixa em um desses grupos, paciência. Infelizmente, os tribunais do Facebook
elegeram algumas estirpes como pessoas do bem, em detrimento dessa tríada
considerada o mal do século. Mas fique tranquilo: em tempos de WhatsApp, de
stories e de quick massage, o mal do século não dura mais do que um semestre.
Talvez a alcunha de malas sem alça para esse público tenha
algumas explicações. Afinal, não há problema nenhum em manter uma alimentação
saudável e equilibrada, praticar exercícios regularmente e usar frases
positivas em seu dia a dia. O problema talvez seja o modismo. E tudo o que é
moda está ligado à percepção de efemeridade ou enganação. Claro, alguns adeptos
vão dizer que essas práticas não são moda, são filosofia de vida. OK, tudo bem.
Mas filosofia de vida também tem seu prazo de validade. Os hippies, por
exemplo. Pregavam a paz e o amor, eram pouco ligados ao consumismo, viviam em
comunidades e acreditavam na energia telúrica. Hoje, ninguém tem mais saco pra
comprar miçangas de um riponga com suas batas indianas e flauta boliviana. Não
é só a roupa, a música e o corte de cabelo que saem de moda. Perfume sai de
moda. Sândalo e patchouli já eram. Comida sai de moda. Oferecer tender com
abacaxi num jantar vai fazer você impressionar... pela breguice. Tatuagem sai
de moda. Quem diria, um desenho na sua pele, pra ficar ali pra vida inteira, é
algo efêmero também. Tatuar âncoras marinhas, corações flechados era coisa dos
anos 70. Já os anos 80 foram marcados por tigres e dragões. Nos anos 90 vieram
as tatuagens tribais. Logo depois as frases bíblicas, mas isso era mais pros
funkeiros. Hoje, pra fazer tatuagem, você não escolhe um objeto. Você pede um
storyboard. Você chega e diz “queria cobrir meu braço”, ou seja, a ilustração
tem que ter começo, meio e fim. Antigamente se dizia que número ímpar de
tatuagens dava sorte. Hoje entramos no campo da Física Quântica, em que se
tornou impossível numerar tatuagens múltiplas e com final aberto. Quando um
cliente chega a um estúdio, a assistente do tatuador dá a ele aquele calhamaço
de imagens de referência. Logo depois o tatuador pergunta: “E aí? Gostou de
alguma?”. “Sim, adorei. Queria fazer as páginas 12, 17 e 35”.
Outro motivo que coloca a trinca no elenco dos chatos talvez
seja a sua insistência. A incontrolável vontade de te aliciar para a seita
deles. Tudo gira ao redor de sua nova crença, sua nova forma de pensar o mundo.
Encerra-se qualquer possibilidade de nascer outro assunto. Seu comportamento
fica com cara de doutrinação, e isso pode afastar um pouco as pessoas. Eles
precisam entender que não é todo mundo que está na mesma vibe, ou tem a mesma
predisposição. Quando um Testemunha de Jeová toca a campainha de sua casa num
domingo às 8 da manhã, ninguém sai acordando e fala: “Nossa, ainda bem que você
chegou! Precisava MUITO ouvir a palavra de Deus!”. E as abordagens do trio
muitas vezes soam meio como catequese mesmo. Tipo Amway, quem se lembra? Descobrir
que um amigo seu entrou pra Amway era pior do que descobrir que um amigo caiu
no mundo das drogas. “Nossa, ele me parecia tão bem!”. Você fugia dessas
pessoas. E esgotava seu estoque de pretextos: minha mãe tá chamando, meu tio
acabou de ser operado, vou entrar em uma reunião. Isso quando VOCÊ não era o
próprio vendedor da Amway. Ou representante, executivo de vendas, sócio-empreendedor,
sei lá qual eufemismo eles inventavam para essa palavra tão desgastada. A Amway
nada mais era do que uma pirâmide. Mostrava os faraós de sucesso, denominados
por pedras preciosas, em suas convenções que lotavam auditórios. Mas a base, a
maioria, era constituída pela plebe que tinha que arcar com os custos de material
e viagens, e ainda transformar amigos em potenciais alvos de compra. Eu até
acredito que sua linha de produtos era durável e de qualidade. Mas jamais
pagaria R$ 90 por um sabonete. Creio eu que quem comprou os produtos da empresa
foram os próprios vendedores, pra poder ganhar pontos/estrelas. E devem estar
usando até hoje.
Então vamos por partes. O vegano. Ele é tipo um vegetariano,
só que filiado ao PSTU. Tudo bem fazer campanha contra o consumo e a matança de
animais. Estudos mostram que o homem, durante toda a sua vida, come uma
quantidade de carne equivalente às fazendas pecuárias de Mato Grosso. Eu até
queria me tornar vegetariano, se não gostasse tanto de carne. Mas o vegano é
mais radical. Não basta apenas abdicar da carne vermelha, branca, outras cores,
ovo, leite e derivados. Vegano não come mel. Não abraça árvore pra não
machucá-la. Faz campanha contra bullying em samambaias. Deita na rua pra
protestar contra as músicas que os donos tocam para seus cachorros. Eu tenho um
certo medo de esbarrar com algum desses fundamentalistas de supermercado. Fico
imaginando que toda manhã eles estendem seu tapete de vime em direção à
Amazônia, ajoelham-se sobre ele e rezam o cântico aos Saltimbancos. Pode
escrever. Mais cedo, mais tarde, um desses fanáticos por coxinha de jaca vai
entrar num açougue, puxar sua UZI da mochila e atirar em todos os fregueses abraçados
em suas sacolas cheias de coxão mole, numa das cenas mais sanguinolentas da
história.
Já o crossfiteiro deve ser algum ganhador da Mega Sena que
não quis revelar sua sorte pra ninguém. Ele paga uma bica pra ficar o dia
inteiro carregando pneu de caminhão. Se o Seu Pedro, dono do Martelinho de Ouro
aqui perto de casa soubesse, nem precisava contratar o preguiçoso do ajudante
Alcides. O treinador de cross fit é a versão mais roots de quem faz Pilates.
Que é uma outra coisa que não entendo muito bem. A pessoa fica horas e horas
deitada sobre uma bola do Playcenter. Dizem que é um exercício foda e corrige
toda a sua coluna. Quem sou eu pra discutir com essa técnica de ginástica
inventada após a Segunda Guerra? Pra mim, entrar numa piscina de bolinha de
plástico do Habib’s resolvia o problema. E sairia muito mais em conta: se pedir
5 esfihas de carne, a hora é grátis. E com direito a meia hora de wi-fi. Mas
cada um é cada um. O pilateiro faz aqueles exercícios de grávida e é feliz com
isso. Não duvido. Com todo aquele esforço, capaz de um dia sair um rebento de
sua barriga sem ele perceber. Já o crossfiteiro faz mais ou menos o mesmo
alinhamento, balanceamento e cambagem corporal, só que em cima de uma cama de
tortura. E ainda quer te convencer a frequentar as aulas. Meu amigo, pense um
pouco. Se eu fosse desembolsar alguma quantia, seria para a Smart Fit. Só pra
ficar sentado naquela cadeira massageadora, com ar-condicionado no talo,
olhando pros glúteos femininos.
Por último, o coach. Esse sim é espeto. Compilou conceitos
básicos da Psicologia e do Marketing. Usando técnicas fundamentais de
Neurolinguística, aplicadas ao mundo moderno dos negócios, conseguiu ganhar
muito dinheiro com isso. O coach nada mais faz do que um mashup de autoajuda
com gestão empresarial. É uma mistura de Philip Kotler com Lair Ribeiro. Se
você catar alguns preceitos dessas ciências e aplicar em qualquer frase
extraída de apresentação de Power Point, conseguirá ser um coach de sucesso.
Vamos fazer um teste: “você precisa fazer um rebranding em sua consciência”. “Analise
melhor seu key performance indicator para ampliar seu networking”. “Conseguir
amigos e influenciar pessoas depende só do seu return over investment”. “Para
ter sorte no amor, mantenha o foco na relação business-to-business”. “Suas
couraças só vão se romper após um overview do seu background”.
Mas existe coisa pior. É o chato que reúne tudo isso:
vegano, coach e crossfiteiro. Já pensou? O sujeito te chama pra comer
hambúrguer de soja, e depois queimar as calorias carregando pedra enquanto ouve
um podcast do Richard Bandler? Tô fora. Esse cara merece mesmo ser bloqueado.