sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Você

Você é meu mundo
Meu tudo
É por isso que me iludo
E quero cada vez mais.

Você me completa
Me conecta
Me conserta
Até me transformar num novo eu.

Você me ilumina
Me fascina
Me faz perder a rima
E achar o melhor da vida.

Me encanta
Me eleva
Me atrai
Me beija
Não me deixa!

Só quero você
E eu.


terça-feira, 21 de setembro de 2021

Cadê as flores?

A primavera chegou.
No meio do descaso com o ambiente.
Junto com a matança.
A desidratação dos rios.
E as fogueiras das florestas e das vaidades.
Como fazer uma flor crescer sem água?
Chegou a primavera.
No dia do discurso do imbecil.
Que não tem o que falar.
Não sabe falar.
Não cumpre regras.
Entra pela porta dos fundos.
E sai pela tangente, vaiado pelo mundo.
Nasce a estação mais colorida.
Nas cinzas da desgraça.
Do ódio.
Da tristeza.
Inflação alta e autoestima baixa.
No nível do volume morto dos reservatórios.
Acordou a primavera.
Mas cadê o amor?
Onde está a decência?
A esperança?
Estamos vacinados. Não caímos mais em mentiras.
Em ilusões.
Nosso coração endureceu.
E o que vem é a vontade de chorar.


segunda-feira, 20 de setembro de 2021

O que aconteceu?

O que aconteceu entre a gente? De onde vem essa cumplicidade toda?
Será que caiu um raio e seus efeitos elétricos produziram toda essa faísca? Será que trocamos de corpos com um extraterrestre ou com alguém que desconhecemos?
Eu desconheço a mim mesmo.
Sempre fui um duro de pedra, frio e calculista, que matematicamente procurava compreender a razão das coisas.
Hoje não encontro razão para nada.
E a razão se misturou com a emoção.
O que aconteceu?
A gente se via por uma questão de conveniência, apenas para não ficarmos sozinhos com o vazio de nossas existências.
Hoje estamos mais do que conectados. Entendemos perfeitamente um ao outro, mesmo sem entender nada.
Alguém pode me explicar?
Será que fomos abduzidos? Será que somos hoje uma versão do universo paralelo?
Versão melhorada, diga-se de passagem.
Comercial de margarina.
Escolhemos as músicas que marcam cada momento. Canções que fazem o programador da rádio morrer de diabetes.
Somos cafonas, e daí? É cringe que fala?
Rimos à toa, que nem bestas.
E choramos por causa de coisa alguma.
Em nosso espaço, não vemos o tempo passar.
Alguém em sã consciência tem a resposta, pelo amor de Deus?
Quer saber? Prefiro não entender.
Prefiro continuar andando cegamente, rumo a um lugar que nem sei onde fica.
É mais difícil. Mas é mais gostoso.
Não precisa me explicar nada.
Minha ignorância é que me faz viver com mais intensidade.

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Dividir

Dividir é um ato de bondade, solidariedade, compaixão.

A gente divide o pão pra matar a fome de todos.

Dividimos alegrias.

Compartilhamos experiências.

Dividir pra multiplicar.

Mas não existe nada de bondoso em estar dividido.

Dividir a nós mesmos.

Isso é subtração. Fragmentação.

Dividir é duvidar.

Carne ou peixe?

Meia mussarela ou meia calabresa?

Casar ou comprar uma bicicleta? 

A gente já nasce dividido.

Rindo e chorando.

E rimos chorando - ou choramos rindo - até a morte.

Nosso cérebro é dividido.

Córtex e neocórtex.

Razão e emoção.

Hemisférios encefálicos que a toda hora se digladiam entre o querer e o não querer.

Nossos corações estão sempre divididos.

Sístoles e diástoles.

Glóbulos brancos e glóbulos vermelhos sendo rapidamente transportados pelo nosso sangue, que a cada instante se pergunta:

Amor ou paixão?

Parecemos irmãos siameses em eterna busca por certezas.

Mas elas não existem. Ou fingem não existir.

Seguimos adiante, ouvindo o som e a fúria de nossa consciência.

Rock ou valsa?

Até chegarmos ao topo de uma colina.

Lá encontramos o feiticeiro. 

Um preto velho, cego, de óculos escuros e barba grisalha malfeita.

Sentado num banquinho de madeira e tocando um blues na gaita, ele traz a resposta que queremos saber:

"O trem para Memphis acabou de passar".

E aponta o enrugado dedo para uma encruzilhada.

Esquerda ou direita?

Girando nossos olhos pra lá e pra cá, como bolinhas de pingue-pongue, folheamos loucamente as páginas mentais do nosso passado.

E as interrogações do nosso futuro.

Sem sair do lugar.

Enquanto o relógio da vida não para de funcionar.

Tic-tac... tic-tac...


sábado, 11 de setembro de 2021

Era uma vez

Era uma vez na minha vida
Uma história que fingiu acabar.
Tudo se passou em poucos capítulos
Entre um parágrafo curto e um suspiro longo.
Ainda não consigo juntar as palavras certas
Mas vou tentar mesmo assim.
Onde ela começou? Não sei.
Cadê o final? O tempo vai dizer.
E se não for feliz?
Cabe a mim reescrever.
Incansavelmente.
Lá vou eu, de novo, em busca da musa perdida.
Inspiração pra cada sílaba, cada vírgula.
Até chegar ao ponto de exclamar
E declarar, sem reticência alguma:
"Não quero ser o vilão dessa história".
Do prefácio ao epílogo
O motivo desse livro existir é você.

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

O choro

Já não há mais água nos reservatórios.

Entramos na bandeira vermelha da fase preta.

A situação tá preta, tá grave.

Consumimos tudo de nós mesmos.


Falta água não por causa de nossos banhos demorados, que tiram a sujeira do corpo e da alma.

Ou porque lavamos as mãos, pra nos livrarmos do vírus e de todos os pecados.

Nem pela nossa necessidade de reidratar os sais minerais que se esvaem.


A água é escassa porque já choramos tudo o que tínhamos que chorar.

Sai a água, fica a mágoa.

A dor.

A chuva dos nossos olhos parou de escorrer.

Deixou no caminho do nosso rosto um rastro brilhante e efêmero.

Até morrer amargamente em nossa boca.


Choramos por não ter sido aquele que gostaríamos de ser.

Choramos pelos sonhos que não se realizaram.

Pela perda de amigos, de familiares e da esperança.

Choramos a despedida de quem vai e não volta nunca mais.


Entramos no racionamento das lágrimas.

Nossas emoções mais intestinas terão de ser comedidas.

Aos poucos, em soluços.

Não há mais rios de alegria.

Nem escoadouros da tristeza.

Apenas um pingo de dó.

A fonte secou.


terça-feira, 7 de setembro de 2021

De Volta para Casa

O veterano diretor sino-americano Wayne Wang traz um retrato mais intimista sobre a finitude, sem apelar para os exageros dramáticos que o tema poderia impor. Na primeira cena o corte de uma carne de porco, lento e cuidadoso, serve de analogia para o minucioso cuidado que o protagonista Chang-rae deve ter com sua mãe, que sofre de câncer. Ele é um escritor que abandona o emprego e volta para a casa de sua progenitora em São Francisco, somente para dar atenção a ela nesses momentos finais de vida.

Conciso nas emoções e econômico nos trejeitos, o filme vai crescendo sem a necessidade de apelos como músicas de fundo ou câmeras lentas. Tudo se encaixa na própria expressão cênica dos atores. Entre uma certa indiferença e a tensão máxima, é nesse viés que enxergamos a força do filme. Alguns flashbacks incorporam um relato mais saudosista da mãe gozando de boa saúde, principalmente no preparo culinário. Isso não quer dizer que De Volta para Casa evita situações conflituosas. Esses dilemas surgem de forma mais orgânica, natural, num crescendo, como se estivessem em tempo real, totalmente descolados da construção cronológica vai-e-vem do filme. É um trabalho que exibe seu capricho sem soar adocicado demais. E também mostra seu amargo sem soar indigesto.


quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Perdão

Desculpe estar incomodando

Eu poderia estar roubando, matando

Mas só vim aqui pedir um minuto do seu tempo

Que já vai servir de eternidade pra mim.


Peço por favor que me aceite do jeito que sou

Com meus medos, minhas dúvidas e fraquezas.

Em troca eu aprendo a aceitar você, do jeito que é,

Sem tirar nem pôr, 

E a gostar cada vez mais.


Não quero atrapalhar o trajeto da sua existência.

Serei breve como sempre fui.

E me arrependo de cada instante que deixamos de gozar.


Me perdoa por não a enxergar no fundo dos seus olhos,

Sentir seu cheiro, seu gosto,

Seu calor, seus sentidos

Até a vida não mais fazer sentido.


Me perdoa por não dar aquele abraço apertado e demorado,

Como se não houvesse amanhã.

Porque a gente sabe que o amanhã nunca chega

E, quando chega, já é tarde demais.


Sei que é pedir muito reconstruir uma história,

Passar a limpo cada rascunho dos nossos encontros.

Mas eu peço, encarecidamente.

É isso que me resta.

E qualquer centavo de riso e sorriso vindo de você

Vai me deixar muito feliz.


Tenha uma boa viagem.