quinta-feira, 7 de julho de 2016

Protozoários

Trabalho escolar para fazer em casa. Pesquisa sobre protozoários.

Anos 50: você pega emprestado o Thesouro da Juventude de sua avó e procura o verbete no índice. Encontra o verbete no último dos 32 volumes da coleção.

Anos 60: você vai até uma biblioteca pública, pega dezenas de livros, pega outros tantos que nada têm a ver com a pesquisa, devora Kant, apaixona-se por Sartre, decora Marx e sai de lá líder do movimento estudantil.

Anos 70: você vai até uma biblioteca pública, participa de um sarau, descobre a maconha, transa com uma riponga na prateleira de Kerouac e sai de lá ator de teatro.

Anos 80: você paga o CDF da classe pra fazer a pesquisa com o dinheiro de sua mesada e passa a tarde modelando seu cabelo com gel antes de ir pro fliperama.

Anos 90: você descobre a existência do Google. Encontra 147.213 resultados para sua busca, gasta 80% do tempo tentando se reconectar à internet por conexão discada, copia e cola o texto da página UOL Ciência e passa o restinho da tarde vendo MTV.

Anos 2000: você cria uma comunidade no Orkut com o tema, recebe 537 comentários, copia e cola a resposta mais longa e prolixa e passa o resto da tarde no chat do ICQ.

Anos 2010: você não só se recusa a fazer a pesquisa como também questiona a existência dos protozoários e cria um grupo no WhatsApp com seus colegas de classe para fazer um motim exigindo a demissão do professor que utiliza métodos arcaicos e discriminatórios para explicar a origem da vida na Terra.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Smartphone

Situação: você está sem relógio.
Objetivo: ver as horas pelo seu smartphone.
Ação: tira o celular do bolso. Percebe uma ligação perdida de um número desconhecido. Abre pra ver o horário da ligação. Foi de madrugada, deve ter sido engano ou trote. Começa a receber mensagens de WhatsApp. Entra numa das conversas e responde. pro seu amigo. Ao mesmo tempo, recebe inúmeras outras de um grupo do qual você deveria deixar de participar há tempos. Deleta todas. Bota o grupo no silencioso. Fecha o Whats. É notificado de alteração de itinerário de uma linha de Campinas pelo Moovit. Ignora a mensagem. Recebe outro Whats. Tenta ler a mensagem inteira pela tela inicial. Não consegue, ela se apaga. Entra de novo no aplicativo. Lê na íntegra a mensagem de seu colega de trabalho avisando que vai chegar mais tarde. Responde laconicamente. Recebe uma mensagem da operadora informando de acréscimo do dígito 9 na região de Nossa Senhora das Dores do Montemor. Apaga a mensagem. Entra de novo no Whats. Vasculha sua lista pra se certificar de que ninguém te excluiu ou apagou a foto. Dá uma stalkeada na foto daquela amiga de leve. Volta. Entra no Instagram. Olha as 5 primeiras fotos, e só. Adiciona as 7 pessoas que acabaram de entrar. Sai do Insta. Entra no Facebook. Visualiza as principais notificações do dia. Tenta mandar mensagem pro amigo que não tem Whats. A conexão dá pau. Volta pro Whats, só pra ver se tem alguma novidade. Nada de novidade. Desliga o celular. Guarda no bolso.
Esquece de olhar as horas.