quarta-feira, 21 de abril de 2021

Fast food

 

- Boa taaarde! Já conhece o esquema da casa?

- Oi... é... tô só dando uma olhadinha...

- Fique à vontade. Aqui você escolhe os ingredientes e a gente vai montando o pedido. Tudo na hora, tudo fresquinho, ingredientes naturais, com baixo teor de sódio e de gorduras saturadas. É só entrar na fila. Qualquer coisa, meu nome é Júlio. Só me chamar que eu atendo você.

- Perfeito! Posso fazer o pedido?

- Claro! Vamos lá. Menino, menina ou cis?

- Oi?

- Primeiro você escolhe: quer menino, menina ou cis? Cis é novidade do cardápio e tá tendo boa aceitação.

- É... sei lá... menino, vai...

- Muito bem... branco, negro, pardo ou amarelo?

- Como?

- Cor de pele. Você pode escolher se quer mais branquinha, mais escura ou um tom intermediário. Temos amarelo também, um ingrediente importado. E infelizmente vermelho tá em falta. Se por acaso você escolher negro, vai demorar um pouquinho mais pra assar, tudo bem?

- Pode ser branco. Ou melhor, pardo. Pega bem escolher pardo hoje em dia. Ao ponto pra bem passado, certo?

- Perfeito... loiro, negro, castanho ou ruivo? O cabelo, no caso.

- Castanho tá ótimo.

- Castanho OK... liso, crespo ou ondulado? Ainda o cabelo.

- Ah, tanto faz. Liso, vai.

- OK... cor dos olhos: pretos, castanhos, azuis, verdes ou cor de mel? Hummm, esse aqui é uma delícia, experimenta.

- Tá bom. Pode ser.

- Olho estrábico por mais um real? Pra dar um charminho? Você pode escolher o esquerdo ou o direito.

- Não, obrigado.

- Qual tamanho? Baixo, mediano ou alto? Aproveita e leva o alto que tá na promoção.

- Não, médio pra mim tá bom.

- Perfeito. Agora vamos aos opcionais, tudo bem? Direita, esquerda, centro ou isentão?

- Não entendi.

- Preferência política. Mais pra direita conservadora, mais pra esquerda, centro ou dispensa esse item?

- Queria algo mais progressista, social-democracia... vocês têm?

- Temos sim, mas é cobrado à parte.

- Então deixa. Vai dire... não, esquerda... não... isentão, pronto!

- OK. Drogas acompanha?

- Hã?

- Se quiser a gente pode acrescentar um pouco de drogas. Maconha, crack, heroína, coca...

- Quero coca! Vocês têm de latinha ou copo?

- Não, no caso eu estava me referindo às drogas. Temos também chá de cogumelo, lança, ácido, doce...

- Doce de sobremesa, quero!

- Não, meu querido. Doce, a droga. Das raves, sabe? A gente tem uma porção de opções. Tem até orégano, se quiser. Quem pede gosta tanto que fala que até vicia.

- Não, de boa. Obrigado.

- Distúrbio psíquico?

- ?

- Tá incluso você adicionar ansiedade, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo, déficit de atenção, bipolaridade e até esquizofrenia. Esse no caso só a porção pequena.

- Também dispenso.

- Ótimo! Estamos quase no final do pedido. Pra fechar: coloco brinquinho, tatuagem ou piercing pra dar um up no seu pedido? Pode levar pra casa se quiser, não precisa consumir agora.

- Também não, obrigado.

- Só pra finalizar: quer levar gêmeos, com 50% de desconto na segunda unidade? Aproveita a promoção! Você pode optar por univitel9ino, a gente prepara igualzinho, ou bivitelino, aí você pode trocar até no máximo 3 ingredientes.

- Não, vou levar um só.

- Perfeito! Assim que estiver pronto eu levo na sua mesa. Se quiser acompanhar o preparo pelo vídeo de ultrassom, fique à vontade. Tá aqui sua senha: 342. Só aguardar.

(Rabicho)

- Oi...

- Ooooi... tava bom o seu pedido?

- Sim, sim. Tudo tranquilo, tudo ótimo. Só queria uma informação. É que eu procurei aqui na praça de alimentação e não achei. Por acaso vocês fazem pedido pet pra viagem?

 

domingo, 11 de abril de 2021

Sistema solar

- Bom dia, gente. Tudo bem com vocês? Cês tão me vendo?

- Bom dia, Sol. Sim, aqui dá pra te ver.

- Deixa eu ver se tá todo mundo presente... vou abrir um pouquinho a tela... tá sim. Bom dia, pessoal. Vamos começar a reunião. Queria discutir hoje com vocês a questão do alinhamento, saber se todos vocês estão alinhados, pra gente ver se estamos na mesma página. Infelizmente eu não convidei o Plutão, porque a Diretoria me parece que rebaixou ele e ele tá cumprindo aviso prévio. Semana passada foi bem turbulenta, muitos meteoros entraram na nossa pauta, foi bem difícil... Mas fiquei sabendo que vai nascer mais uma galáxia no nosso sistema...

(Todos) – Uhuu!

- Legal, né? A Via Láctea me disse que tem bastante leite pra amamentar. Ela me mandou um áudio no zap ontem antes de dormir, tá super feliz. Fez o ultrassom e vai ser menina. Então ela vai precisar tirar uns dias de licença e eu queria saber quem é que poderia cobrir ela. Mercúrio, cê que anda sempre tão próximo de mim e me conhece, pode quebrar essa?

- Vixe, Sol. Aqui o negócio tá pegando fogo. Todo dia a gente tem que apagar um incêndio. Né por nada não, mas se acumular função pro nosso lado a gente vai precisar chamar alguém pra ajudar. Hora extra todo dia. É que deu mais ou menos 6 da tarde você já vai se recolher e não acompanha a doideira depois, mas é sério: o pessoal tá varando noite direto. Todo dia eles pedem pizza. Aliás, queria ver depois com você pra quem do Financeiro eu passo as notas pro reembolso. Não é má vontade minha, juro. Bom dia.

- OK, depois a gente vê isso... eu chamei o Deus pra participar também da reunião, não sei se ele vai poder... tá resolvendo uns negócios... mas antes dele chegar eu queria que alguém começasse. Júpiter, pode ser você? Cê que tá há mais tempo na casa, é o líder da turma...

- Bom dia, pessoal! Todo mundo me vendo? É que eu troquei minha máquina, a tela nova tem só 1.236.789”, beeem menor que a da outra máquina. Tô ainda configurando direitinho. Ah, aqui tá tudo de boa. Sem perrengue nenhum. Semana passada foi bem sussa, minha equipe criou só 3.431 montanhas... parece que a demanda caiu bastante... então vamo que vamo. Suave na nave. Por falar em nave, ontem cês ouviram um barulho estranho no céu?

- Eu ouvi! Era tipo 11 da noite. Falei: “Ei, Vênus! Acorda, acorda! Vem ver!”. Ela nem tchuns, continuou dormindo. Eu não quis nem saber: peguei minha automática que deixo debaixo do colchão, peguei minha metranca que deixo na sala, peguei minha pistola que deixo na sala só de reserva, fui procurar meu fuzil na garagem mas tava escuro, aí saí na rua gritando: “Quero ver quem é macho aqui! Tenho corpo de atleta, viu? Seus covardes! Bando de maricas! Vontade de encher a cara de vocês de porrada, isso sim. Enfia essa nave no rabo de vocês!”.

(Risos) – OK, Marte. Sei que você é meio belicoso, perde a paciência de vez em quando, mas não precisava exagerar. Bom, então vamos continuar. Próximo tema é o congel... bom dia, Deus! Tudo bem? Conseguiu resolver aquela pendência?

- Bom diiia! Tuuudo beeem! Resolviii siiim, agora está tudo ceeerto!

- Deus, desculpa atrapalhar... mas acho que seu áudio tá com problema. Tá dando eco aqui. Com vocês também?

- Peraííí... melhorou?

- Agora sim!

- É que eu chamei o técnico na semana passada, mas pelo jeito ele não resolveu direito. Esses caras são tudo uma bosta.

- Então, eu chamei você aqui porque parece... peraí... Desculpe, gente, é que acabou de passar um asteroide... Então, voltando: parece que tá tudo nos conformes, mas deu ruim lá com a Terra e eu queria que você resolvesse com ela os próximos passos.

- Porra, de novo, caralho? Não aguento mais arrumar as cagadas da Terra. Todo dia, todo dia... um monte de gente buzinando na minha orelha: “Deus, me ajude...”. “Deus, me salve e me proteja...”. “Deus isso, Deus aquilo, nhem nhem nhem...”. Já me chamaram de tudo quanto é nome nessa bagaça: Pai do Céu, Todo Poderoso, Senhor, Altíssimo... É pelo amor de Deus, meu Deus do Céu, se Deus quiser, fique com Deus... porra, que inferno! Saco cheio, viu? O que foi que a Terra aprontou desasa vez? Trouxeram os dinossauros de volta? Eu já falei que NÃO É pra brincar de ficar mexendo no DNA, nos genomas, mas não adianta! Parece criança!

- Não, meu caríssimo. Parece que agora é um pouco pior. A Terra tá meio perdida...

- Perdida não! Perdida não! Cês me respeitem! Deus criou essa caralha em seis dias, quando o prazo no orçamento inicial era de 40... Eu avisei, vai dar merda... mas não! Deixa que a gente resolve! Aí deu no que deu! Fiquei ligando DIRETO pra ele no sábado, porque não parou de dar B.O. Mas só caiu na caixa postal. Aposto que deu sexta-feira ele foi pras baladas e no sábado desceu pro litoral... que ele disse que criou... mas sei lá...

- Calma, Terra. Estamos aqui pra resolver. Me explica o que tá havendo. Por que a pandemia fugiu do controle?

- Não fugiu, Sol. É só uma questão de logística. Tá tudo certo. O que houve foi um bug que entrou no sistema...

- Em qual sistema? No meu aqui não deu erro nenhum. Por enquanto! Graças a Deus, que por sinal está aqui nos assistindo. Resolve logo essa parada pra não infectar o MEU sistema com esse vírus. Já passou antivírus? Já sabe se foi um hacker?

- É que esse pessoal de TI é meio lento mesmo. Cê pede uma coisa simples e TUDO eles falam que no mínimo vão demorar três dias.

- Três dias?! Já faz MAIS DE UM ANO que a gente vê isso acontecer e até agora nada! Só piora! Eu quero prazos! Quando é que vocês vão consertar esse troço que já era pra deixar de ter acontecido desde o começo do século passado?

- Fica tranquilo, Sol. A gente resolve. No dia D e na hora H.

- Tranquilo? Tranquilo?? Tem gente morrendo por falta de oxigênio!

- Desculpe atrapalhar, Sol. Mas aqui a gente nunca recebeu esse tal de oxigênio e tá todo mundo de boa. Nunca precisamos dele.

- Tudo bem, Marte. Mas agora a questão é outra.

- Só tô avisando. A gente até se preparou. Vai que a Terra faz uma merda gigantesca e espalha isso aí pra gente. Compramos vários lotes de cloroquina, azitromicina, ivermectina...

- Gente, eu sou uma só! Não dá pra resolver tudo ao mesmo tempo! Eu tenho culpa que o vírus fica toda hora se reproduzindo? É nova variante pra cá, nova cepa pra lá... O pacote antivírus ficou desatualizado e ninguém de vocês aí autorizou a compra da nova versão. Cês acham que é fácil? Ano passado, no meio disso tudo o Deus aí ainda resolveu jogar DE NOVO uma nuvem de gafanhoto, não sei por quê.

- Não bota a culpa em mim, Terra! Eu criei as florestas, vocês foram lá e destruíram. “Passa a boiada, passa a boiada...”. Criei os animais e o que vocês fizeram com eles? Hambúrguer! Criei os peixes e vocês botaram em aquário pra ficar de enfeite. A responsa é sua, Terra! Assume o erro! Agora além de tudo eu tenho que ficar ouvindo de vocês aí “vem logo, meteoro...”. Já tô avisando: eu NÃO VOU fazer a versão 2.0!

- Bom, então é isso, pessoal. Tudo certo e nada resolvido, né? Vamos então deixar essa pauta em aberto pra semana que vem? Cês vão pensando com calma, de cabeça fria, e aí me tragam as respostas. Agora cês me dão licença eu vou participar de uma outra reunião. É um povo de fora, eles vão querer discutir realidades multidimensionais, universos paralelos, tão fazendo uma pesquisa pra saber se o nosso sistema oferece o vale-teletransporte de benefício aos colaboradores, começaram a desenvolver um protótipo de vida por meio de ondas magnéticas no lugar de moléculas de carbono, enfim... depois eu mando pra vocês um ppt na rede com essas novidades. Ah, eles também estão querendo desenvolver um projeto de uma nova forma de reprodução da vida, mas ainda não sabem se isso vai envolver sexo. Boa semana, pessoal!

 

segunda-feira, 5 de abril de 2021

A pureza e a vantagem

 

Para os adeptos da escrita, não deixa de ser trabalhoso o processo de busca pela palavra certa, no lugar certo, na hora certa. Nossa língua, tão rica quanto vasta, felizmente nos oferece um punhado de opções. Eu acesso os sistes de sinônimos mais do que minha conta do Instagram. Estou constantemente à procura de termos e significados que mais se assemelhem ao meu pensamento. Sempre tem uma ou outra palavra que “não cai bem” naquele contexto. Palavras que “soam feio”. Termos que caíram em desuso. Ou não correspondem à fala do público ao qual nos dirigimos. Quando encontramos a palavra considerada ideal, é importante observar também se não foi exaustivamente usada no texto. Enfim, o trabalho da escrita é um exercício, às vezes cansativo, muitas outras glorioso, de pincelar a jóia dentro do vocabulário, assim como faz um escafandrista.

Já que eu falei sobre públicos específicos, voltemos a 1976. E aqui preciso fazer uma explicação para todos aqueles que nasceram depois do suicídio de Kurt Cobain. Não sabem como ligar um toca-discos de vinil. Não fazem ideia do que seja o gesto de Bebeto após marcar um gol, tampouco ouviram falar do grito “É teeetra!” do Galvão Bueno. Voltemos ao futebol. Nesse ano, o meio-campista Gerson, um dos melhores da Seleção tricampeã de 70, foi o garoto-propaganda dos cigarros Vila Rica. Numa suposta entrevista, ele descrevia as características diferenciais do tubete nicotínico e, no final, destacava seu preço inferior aos concorrentes. Nessa época, propaganda de cigarro passava em qualquer horário da programação televisiva e não havia quaisquer restrições ao se vincular o produto a práticas esportivas. Ah, e também os cigarros não tinham preços tabelados. Pois bem. Por ser mais barato, Gerson encerrava dizendo que brasileiro gosta de levar vantagem em tudo. A palavra “vantagem”, em si, em princípio não ofende ninguém. Tem até um significado positivo. Existem programas de vantagens que oferecem milhas em passagens aéreas e ingressos de cinema a cada compra realizada. Tem hoje uma campanha de banco digital que fala sobre a vantagem, fazendo uma analogia ao termo usado no vôlei. Só que, na ocasião da campanha do fumo mais em conta, “levar vantagem” soou pejorativo. Pegou mal. Trouxe à tona o pior do brasileiro: aquele que fura fila, ultrapassa o semáforo vermelho, coisas assim. Pra quem não sabe, a expressão Lei de Gérson veio daí.

Um pouco mais recentemente, coisa de 10 anos atrás, lembro de ter visto numa pizzaria do Shopping Paulista um slogan mais ou menos assim: “É no forno que os amigos se reúnem”. Não lembro com exatidão as palavras. A pizzaria já não existe mais. Fui buscar no Google e não encontrei nada parecido. Mas a frase ia meio que por esse caminho. Talvez, para a extensa maioria, isso não traz nada de mais. A assinatura deixa claro que se trata de um processo artesanal de fabricação da massa redonda – o forno – não deixando dúvidas em relação ao seu preparo. E, é lógico, para um bom apreciador de pizza e vinho, uma reunião de amigos torna o momento ainda mais reconfortante. Só que, dadas as minhas ascendências hebraicas, fiquei meio cismado com a frase. Não sabia se era coisa da minha cabeça, talvez uma encanação excessiva. Quiçá eu tenha “achado pêlo em ovo”, como vários amigos meus gostam de repetir cada vez que discordam de mim nas redes sociais. Por via das dúvidas, resolvi consultar uma amiga, também judia. Na hora, ela fez a mesma associação que eu. Portanto existe sim, e isso constata o fato, a palavra que pode soar perfeita para um e incomodar o outro. Porque vivemos realidades diferentes, temos repertórios de vida diferentes. Tenho plena convicção de que não houve nenhuma maldade no redator que criou essa assinatura. Creio que ele jamais faria parte de um grupo neonazista. Mas talvez, no calor da inspiração, essa referência tenha passado batido.

Pois bem de novo. Dia desses, a jornalista e escritora Cora Rónai publicou na sua página do Facebook um post em que demonstrou se sentir incomodada com o slogan da cerveja Império, que versa sobre a “pureza alemã”. Não vi, por parte dela, nenhuma intenção de revisionismo histórico, ou qualquer tipo de levante para algum tipo de justiça em relação ao combate ao racismo estrutural. Ela expressou que achou a frase mal colocada. E, logicamente, por se tratar de uma figura pública, choveram comentários. Muitos, mas muitos deles, apontando no sentido de que ela estava criando polêmicas desnecessárias. Que deveria apagar a postagem e pedir desculpas (!). Ela mesma reconheceu, por meio de um update, que a expressão denota a qualidade no preparo de uma autêntica cerveja alemã. É como se fosse o ISSO 9000 do fermentado líquido alcoólico. Só que é um pouco complicado debater com admirador cervejeiro. É mais ou menos como tentar encontrar um campo possível aos argumentos com um obtuso fã do Iron Maiden. E se for pra falar sobre a cerveja do Iron, essa tarefa torna-se praticamente impossível. Em boa parte das réplicas, Cora foi rechaçada e, em alguns casos, até desrespeitada. Não faltaram opositores, muitos deles de sobrenomes nórdicos, alegando “choradeira e mimimi”. Isso te lembra alguém?

Nos fins de 2017, foi lançado no Brasil um papel higiênico preto, Personal VIP. O mote da campanha era “Black is beautiful”, uma alusão à frase anti-racista norte-americana. Como não poderia deixar de ser, o material publicitário gerou muitos debates e muita polêmica. Uns achavam que a campanha era racista. Eu, particularmente, não vi problemas. Até porque, entendo, essa frase mais enaltece do que vilipendia a cor negra. Mas não pertenço ao tão difundido “lugar de fala”. Não tenho autoridade e conhecimento de causa suficientes pra lacrar o assunto.

Em relação à cerveja, creio que seria no mínimo plausível os tais participantes ouvirem diversas opiniões, oriundas de várias frentes, para poderem formular melhor sua linha de raciocínio. Ao invés disso, preferiram colar na testa de Cora o selo de qualidade da Império, justificando que essa prática é comum nos demais rótulos de cerveja. Até compreendo. Não vejo qualquer tipo de discriminação quando leio “puro malte”. Ou quando ouço a camionete de bairro gritando “o mais puro creme do milho”. Só que, diante dos vários movimentos ultra-reacionários ascendentes no mundo inteiro, falar de “pureza alemã” pode parecer, no mínimo, algo um tanto esquisito. Já que a Propaganda, essa mesma que vem incorporando a miscigenação de raças, de cores e de credos para mostrar a imagem de suas marcas “plurais”, já que a diversidade étnica e cultural virou o lugar-comum dos comerciais, falar que a casta nobre invadiu nossas terras para disseminar sua eugenia etílica é um risco ao bom senso.