sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Desaparecidos

Depois de uma meteórica passagem pelos cinemas brasileiros, chega ao streaming esta produção francesa. Seu rápido desaparecimento dos circuitos de telona se justifica. É mais um típico filme B, daqueles que recheiam os catálogos das distribuidoras, mas não encontram um diferencial potente nem um público cativo pra se desovarem.

Na trama, a mediana Olga Kurylenko vive Alice, uma cientista forense que inventou uma técnica de restauração de cadáveres danificados. Ela visita a Coreia do Sul para participar de uma conferência e recebe um pedido da polícia do país para realizar uma autópsia em uma vítima encontrada em um rio. Jin Ho, o detetive responsável pelo caso, descobre pelo resultado da autópsia que o corpo está relacionado a um sindicato de tráfico de órgãos.

Sem grandes inspirações, o filme traça o famigerado caminho de suspense e mistério para se chegar a uma solução. E tudo fica calcado nas mesmices e nos clichês, reforçando a sensação de que se trata de apenas mais um subproduto do gênero.


sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Os Ossos da Saudade

De acordo com a sinopse, “Os Ossos da Saudade” é um filme sobre a ausência, narrado a partir das vivências de pessoas que experimentam sentimentos de falta e distância, espalhados por Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde. Brasileiros e estrangeiros atravessados pela saudade, que, de alguma forma, carregam o Brasil em seus baús interiores. 

Trata-se, portanto, de um registro mais intimista, menos didático e cartesiano, que foge um pouco do convencional estilo "talking heads" de documentar. Tanto é que, em muitas passagens, o protagonista é filmado de costas, ou nem mesmo aparece em cena. Ponto para o diretor mineiro Marcos Pimentel.

O problema é que esse excesso de subjetivismo corre o risco de cair em armadilhas. No conjunto da obra, Os Ossos da Saudade tem um pouco a cara de filme feito para ganhar prêmios em festivais. Claro, existe um cuidado estético, um precioso rigor formal. Mas, em muitos momentos, esse preciosismo se confunde com um certo cinema-fórmula de circuitos alternativos.

Corre à boca pequena, entre os críticos e profissionais de Cinema, o comentário de que, quando existe uma crise criativa por parte dos realizadores, basta filmar a correnteza dos rios e mares. Claro, trata-se de uma observação pejorativa e simplória. Mas, os olhos de quem assiste ao filme do outro lado da tela, fica um pouco difícil encontrar um significado plausível para estabelecer uma relação, mínima que seja, entre esses devaneios estilísticos e a proposta de se falar sobre saudade e memória. Não é exatamente uma enganação. Mas fica o gosto de um certo hermetismo.

Ainda assim, feito o reparo, Os Ossos da Saudade é um bom filme. Traz um retrato bem temperado de lentes que buscam espaços vazios, ruínas geográficas, vozes solitárias que procuram compreender algo que ficou no pretérito de suas vidas.


O Próximo Passo

Este novo filme de Cédric Klapisch poderia muito bem se chamar De Volta ao Albergue. Lançado no circuito brasileiro imediatamente após seu filme anterior, De Volta à Borgonha, o diretor retoma algumas características que marcaram seus primeiros trabalhos, notadamente Albergue Espanhol, e que foram mais ou menos abandonados no penúltimo filme. 

Na primeira cena, temos a impressão de nos depararmos com um majestoso tributo à dança, algo peculiar na filmografia de Carlos Saura, por exemplo. Mas o anticlímax aparece logo em seguida. Elise, uma jovem e promissora bailarina clássica, se machuca em uma apresentação após flagrar a traição do namorado. Essa ruptura do tornozelo serve também de metáfora para a quebra do ritmo que o diretor impõe ao seu trabalho. Dali em diante, surgem situações que nada lembram a beleza coreográfica de um baile: laudos médicos, conflitos pessoais e, principalmente, a busca pela resposta sobre um novo rumo na vida da personagem, algo que inspira o título.

É nesse momento que Klapisch volta às suas origens e mescla o individualismo existencialista de seus personagens com o coletivismo do convívio em grupo. Em Albergue Espanhol, essa marca era muito gritante Aqui, um pouco mais sutil. O retiro de Elise, que coincide com um espaço de ensaios de um grupo mais jovem, é a prova disso. É no intercâmbio das relações pessoais que o diretor encontra sua força e a medida certa para fazer um filme simples e ao mesmo tempo denso.