A mulher resolve abrir concorrência. Sua antiga
agência-namorado se acomodou em fórmulas antigas, rotinas viciadas, longos
prazos para a execução de tarefas e não atendia mais suas necessidades e
expectativas. Solteira há intermináveis 12 dias, decide pedir ajuda a
aplicativos, amigos e baladas para encontrar seu novo porto seguro.
O homem-agência resolve participar do processo de
concorrência promovido pela mulher-cliente. Entra na página de seu blog para
pegar o briefing. Manda mensagem anunciando interesse e é selecionado para
apresentar, em local neutro e num curtíssimo espaço de tempo, todas as suas
qualidades e competências.
Entusiasmado, o homem-agência volta para sua agência-casa e
começa a pensar de que forma poderia não só atender, mas também fazer brilhar
os olhos da mulher-prospect. Pede conselhos a amigos, contrata freelas, vara
noites e devora pizzas. Tudo isso para acelerar o divino momento máximo de
inspiração. Procura em sua agenda todo o histórico de ex-namoradas para que
isso quem sabe possa servir de portfólio. Elimina quase a metade desse
histórico. Numa luta contra si mesmo, insiste no labor criativo de encontrar,
quase que por encanto, a fórmula para essa tão utópica conquista. O homem-bureau
estava bastante convicto da força de seus adversários-obstáculos: homens
endinheirados por multinacionais, másculos barbados e marombados, gigantes pela
própria natureza, hipsters, descolados, matemáticos com QI de uma dúzia de
golfinhos. Pensando bem, tira os hipsters da concorrência.
Sabe aquela inquietude, uma mistura de raiva e sono? Então.
Era nesse estágio que o homem-azarão se encontrava quando, finalmente, alcançou
a magnitude de solucionar o caso com aquela espetacular mentira photoshopada
que os colegas de mercado chamam de “conceito”. E foi com essa linha-mestra de
manipulação estética que o homem-desespero decidiu conquistar a
mulher-a-fila-anda.
Chegou o dia do encontro. Reunião de apresentação de
campanha marcada para as 14h. Lá na puta que pariu. Homem-pontual chega às 14h
e espera no lobby. “Quer um café, uma água...?”. É a pergunta que tem como
significado oculto “ela vai demorar pra caralho”. Dito e feito. Reunião começa
pontualmente com 1 hora de atraso. É a prova de resistência, o primeiro quesito
para avaliar o real interesse do homem pela mulher-concorrida.
Entram numa sala. Obviamente, o homem-convencido apresenta
sua larga experiência na conquista do sexo oposto. Omite detalhes obscuros de
sua vida e estampa, em grande angular, seus esporádicos cases de sucesso. Finaliza
o discurso com a ladainha de que está sempre preparado para o novo. E chama ela
de especial, única, exclusiva. Claro que ele fala isso para todas as
concorrências, mas ela não precisa ficar sabendo disso. No fundo, ela sabe.
“Ameeeeeii”, declara a cliente-fófis, fazendo aquele icônico
gesto de junção de polegares e dedos da mão, tão singelo quanto batido.
Aproxima esse coração-símbolo ao peito e, num tom de mistério, diz que vai pensar
sobre o assunto e que tem outros homens para avaliar. Num gesto de despedida
com um pingo de esperança, o homem rouba um beijo rápido da mulher. Apenas para
ter a momentânea sensação de vitória.
Passam-se alguns dias, noites, e nada. O homem-aflito liga,
manda e-mails, WhatsApp. Até que, vencendo pela insistência, recebe a resposta:
“Parabéns! Você ganhou a concorrência”.
Hora de comemorar. A mulher-prospect estava ganha. Agora vem
o job.
Um comentário:
Adorei o paralelo que criou! Depois me conta se a cliente valia toda essa concorrência!!! kkkk
Ah, quero seu comentário no meu texto novo tb. Qndo puder, passe por lá?
http://pitacoecia.com.br/eu-tenho-um-sonho/
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