Por uns instantes achei que tivéssemos entrado no Século 22.
Uma intensa campanha do Pão de Açúcar e do Extra, especificamente seus
programas de fidelidade Pão de Açúcar Mais e Clube Extra, totalmente
sintonizada com tendências e hábitos de consumo. A comunicação visa chamar o
consumidor a baixar os respectivos aplicativos. Com o mote “desconto só pra
você, só no aplicativo”, ou algo similar, imaginei se tratar do suprassumo de
uma campanha exclusiva e personalizada. Ou seja: o sistema do app se “emparelha”
ao sistema da rede, o sistema da rede vasculha o histórico de compras do
cliente, detecta as marcas e categorias de produtos mais compradas nos últimos
meses/semanas/dias e, a partir desses dados, oferece a ele ofertas e promoções
condizentes com esse levantamento. Ou seja: um consumidor de cerveja passaria a
receber ofertas de Heineken, Skol, Itaipava, Stella. Uma consumidora de
sabonetes e shampoos passaria a receber ofertas de Dove, Palmolive, Nivea.
Apenas um exemplo, sem preconceitos. Ou seja: nem o consumidor de cerveja
receberia oferta de Nivea, nem a consumidora de sabonetes receberia oferta de
Heineken. Ou seja: eu, com meu histórico de consumo inveterado de refrigerantes,
energéticos, atuns enlatados, salgadinhos e demais tranqueiras engordativas, achei
que, finalmente, pudesse dispensar as páginas e páginas dos encartes e teria,
no meu celular, um aplicativo que me entende tão bem, mas tão bem, quase um
amigo íntimo, daqueles que dá vontade de adicionar no Facebook. SÓ QUE NÃO.
Em primeiro lugar, veio a maratona que me enlouquece:
cadastro. Não sei se também acontece com vocês, mas perco horas tentando
decifrar o jeito certo de preencher a porra dos campos e espaços em branco.
Neste caso específico, o problema foi o telefone. Não havia um “exemplo de
preenchimento”. Então digitei só números com prefixo da cidade. Errado. Depois,
só números sem o prefixo da cidade. Errado. Prefixo da cidade entre parênteses,
sem espaço do número de telefone. Errado. Com espaço. Errado. Com hífen entre
os 4 dígitos. Sem hífen. Enfim, imaginem vocês como estava meu estado de humor
após 10 tentativas. Depois dessa, só mesmo um Honda Civic pela metade do preço para
fazer do Pão de Açúcar Mais um app de gente feliz. SÓ QUE NÃO.
Segundo passo: “folhear” as ofertas disponíveis, ativar as
que te interessam, mostrar seu celular ao caixa na hora da compra. Um processo
um pouco mais complicado, que exige alguns passos a mais em relação ao arcaico ler,
botar no carrinho e pagar. Mas tudo bem: estamos décadas à frente da
concorrência, estamos sendo os protagonistas do big brother do consumo, estamos
diante da tecnologia-psiquiatra que te ouve, te entende e te dá um lencinho. SÓ
QUE NÃO.
Nesse processo embrionário e empírico de novas
funcionalidades para o telefoninho que a gente carrega no bolso, só me
apareceram ofertas de banana, tomate, ovo, papel higiênico, frigideira e
inseticida. Todo supermercado do mundo faz oferta de inseticida. Ou as
indústrias deveriam produzir menos, ou as pessoas deveriam comprar mais. Questão
de equilíbrio. E, até onde eu saiba, essas mesmas ofertas padronizadas apareceram
pro cervejeiro, pra moça que gosta de tomar banho, pro João, pro José, pra D.
Ermelina.
Podem continuar me chamando de obsoleto, old school,
retrógrado, cliente de antiquário. Mas vamos combinar: pelo menos no bom e
velho encarte de papel, aquela coisa impressa e anti-ecológica que vem dentro do
jornal que ninguém mais lê, eu faço a festa com todas as bugigangas em
promoção. Alta tecnologia pra me vender banana? Vai se foder!
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