quinta-feira, 13 de julho de 2017

Mais é menos

Por uns instantes achei que tivéssemos entrado no Século 22. Uma intensa campanha do Pão de Açúcar e do Extra, especificamente seus programas de fidelidade Pão de Açúcar Mais e Clube Extra, totalmente sintonizada com tendências e hábitos de consumo. A comunicação visa chamar o consumidor a baixar os respectivos aplicativos. Com o mote “desconto só pra você, só no aplicativo”, ou algo similar, imaginei se tratar do suprassumo de uma campanha exclusiva e personalizada. Ou seja: o sistema do app se “emparelha” ao sistema da rede, o sistema da rede vasculha o histórico de compras do cliente, detecta as marcas e categorias de produtos mais compradas nos últimos meses/semanas/dias e, a partir desses dados, oferece a ele ofertas e promoções condizentes com esse levantamento. Ou seja: um consumidor de cerveja passaria a receber ofertas de Heineken, Skol, Itaipava, Stella. Uma consumidora de sabonetes e shampoos passaria a receber ofertas de Dove, Palmolive, Nivea. Apenas um exemplo, sem preconceitos. Ou seja: nem o consumidor de cerveja receberia oferta de Nivea, nem a consumidora de sabonetes receberia oferta de Heineken. Ou seja: eu, com meu histórico de consumo inveterado de refrigerantes, energéticos, atuns enlatados, salgadinhos e demais tranqueiras engordativas, achei que, finalmente, pudesse dispensar as páginas e páginas dos encartes e teria, no meu celular, um aplicativo que me entende tão bem, mas tão bem, quase um amigo íntimo, daqueles que dá vontade de adicionar no Facebook. SÓ QUE NÃO.

Em primeiro lugar, veio a maratona que me enlouquece: cadastro. Não sei se também acontece com vocês, mas perco horas tentando decifrar o jeito certo de preencher a porra dos campos e espaços em branco. Neste caso específico, o problema foi o telefone. Não havia um “exemplo de preenchimento”. Então digitei só números com prefixo da cidade. Errado. Depois, só números sem o prefixo da cidade. Errado. Prefixo da cidade entre parênteses, sem espaço do número de telefone. Errado. Com espaço. Errado. Com hífen entre os 4 dígitos. Sem hífen. Enfim, imaginem vocês como estava meu estado de humor após 10 tentativas. Depois dessa, só mesmo um Honda Civic pela metade do preço para fazer do Pão de Açúcar Mais um app de gente feliz. SÓ QUE NÃO.

Segundo passo: “folhear” as ofertas disponíveis, ativar as que te interessam, mostrar seu celular ao caixa na hora da compra. Um processo um pouco mais complicado, que exige alguns passos a mais em relação ao arcaico ler, botar no carrinho e pagar. Mas tudo bem: estamos décadas à frente da concorrência, estamos sendo os protagonistas do big brother do consumo, estamos diante da tecnologia-psiquiatra que te ouve, te entende e te dá um lencinho. SÓ QUE NÃO.

Nesse processo embrionário e empírico de novas funcionalidades para o telefoninho que a gente carrega no bolso, só me apareceram ofertas de banana, tomate, ovo, papel higiênico, frigideira e inseticida. Todo supermercado do mundo faz oferta de inseticida. Ou as indústrias deveriam produzir menos, ou as pessoas deveriam comprar mais. Questão de equilíbrio. E, até onde eu saiba, essas mesmas ofertas padronizadas apareceram pro cervejeiro, pra moça que gosta de tomar banho, pro João, pro José, pra D. Ermelina.

Podem continuar me chamando de obsoleto, old school, retrógrado, cliente de antiquário. Mas vamos combinar: pelo menos no bom e velho encarte de papel, aquela coisa impressa e anti-ecológica que vem dentro do jornal que ninguém mais lê, eu faço a festa com todas as bugigangas em promoção. Alta tecnologia pra me vender banana? Vai se foder!


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