- Olhaí, olhaí, freguesa. Pois não, senhora?
- Eu queria um namorado.
- Com espinha ou sem espinha?
- Não não. O senhor não me entendeu. Tô procurando um
namorado. Alguém pra sair comigo, pegar um cinema, dar uns beijos, dormir de
conchinha...
- Conchinha? Tem ostra aqui. Vai levar, freguesa?
- Não, obrigada. É que...
- Garoupa, quer? Tá bem bonita.
- Obrigada. Acredito que seja bonita mesmo. Olha, eu respeito
a diversidade, a comunidade gay, mas meu negócio é homem mesmo.
- GA-ROU-PA. Tem traíra, se a senhora quiser.
- Não, vixe! Chega de traíra na minha vida. Se eu te contar
cada roubada que passei, a gente não sai daqui hoje. Na verdade eu procuro um
homem sincero, companheiro, que entenda a gente.
- Entender vocês? Kkkk
- Deixa eu terminar. Eu tô a fim de achar o amor definitivo
da minha vida. Mas não esses príncipes de contos de fada. Quero alguém de carne
e osso.
- Olha, barraca de carne é a terceira pra lá. Pergunta pelo
Seu João que ele faz um precinho pra senhora. Fala que você veio do Ademir.
- Bom dia. Eu queria um...
- Pra viagem, freguesa?
- Como o senhor sabe? Eu queria alguém que fosse comigo pros
lugares mais exóticos. Alguém pra conhecer o mundo, aprender novos costumes,
novas línguas.
- Tem língua aqui, vai querer?
- Ai, credo! Mas deixa eu terminar. Eu sou praia, eu sou
campo, eu sou trilha, eu sou cidade, adoro viver a vida...
- Coração?
- Isso é uma cantada?
- Não, senhora... magina... a senhora vai levar coração
hoje? Tá bom, bonito e barato.
- Coração barato... tsã... era só o que faltava. Minha vida
já tá complicada demais. Ah, os homens são tão vulgares...
- Moça bonita não paga, mas também não leva. Bom dia,
freguesa.
- Eu queria um...
- Maduro?
- Com certeza! Um homem, assim, experiente... vivido... bem
resolvido... que conhece as mulheres... que sabe agradar uma mulher... entende
a mulher...
- Entende a mulher? Kkkk
- Por que todo mundo ri quando eu falo isso? Enfim... quero
alguém estabelecido. Cansei de me envolver com moleque, gente imatura,
despreparada...
- Chupa aqui.
- O senhor me respeita!
- Tô falando da laranja, senhora. Pode provar, tá bem
docinha.
- Ah, tá. Então, como eu tava falando... o mercado tá
difícil, sabe? Mas eu procuro alguém divertido, alto-astral, inteligente, que
me faça cafuné, que me faça bem...
- Banana?
- E você acha que eu tenho cara de quem tá procurando um
banana? Eu, hein?
- Tô falando dessa banana aqui. Tem prata, nanica...
- Bom diiiia, freguesa.
- Bom dia. Eu queria um... achei! É ele! É ELE! Finalmente
encontrei o amor da minha vida.
- Muito bem! Quer que embrulhe?
- Não, eu prometo ser bem honesta com ele.
- O fiel aqui...
- Mas é ÓBVIO que ele tem que ser fiel!
- Tô falando do fiel da balança. O ponteiro. Tá marcando...
- Ai, nem me fale em balança. Preciso fazer uma dieta
ur-gen-te! E malhar!
- Tá marcando 2 quilos. Tá bom ou quer mais?
- Tá ÓTIMO!
- A senhora não vai se arrepender. Chegando em casa vai ver
que é bem fresquinho.
- Não, peraí... para, para tudo! Um pouco meigo, sensível e
delicado, até aí tudo bem. Mas... fresquinho... fresquinho definitivamente NÃO!
Quer saber? Deixa quieto, não vou levar nada. Já vi que aqui eu não vou
encontrar o que procuro. Só tem bagaço! Pra mim chega! Desisto. Só uma última
coisa...
- Pois não, senhora.
- Onde tem um supermercado aqui perto?
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