O capitão, o ditador, o fascista, o machista,
resolveu ser uma mãe para os motoristas barbeiros. Anistiou a imprudência e a
imperícia ao volante, num ato de equivocado liberalismo nas ruas e estradas.
Sabe aquela quantidade de faltas graves que você não pode cometer sob o risco
de ter sua carteira de habilitação cassada? Então. Esse limite dobrou.
Com (mais) essa medida, temos então a prova de um
verdadeiro presidente duas-caras. Extremamente intolerante com a diversidade de
gênero. E extremamente permissivo com o uso (porte e posse) de armas, ainda que
isso seja reprovado por 3/4 da população. Rigoroso e taxativo com a
"baderna nas universidades", mas um coração mole com a redução de
impostos de bebidas e cigarros, estimulando o consumo de tais substâncias e
dando um passo atrás na guerra contra o tabagismo. Irredutível na questão das
fronteiras indígenas, mas muito mão-aberta aos interesses econômicos dos
madeireiros. Radicalmente contrário ao dialeto LGBT nas provas do Enem, mas
totalmente vulnerável à liberação dos agrotóxicos proibidos no mundo inteiro.
Absoluto nos cortes de verbas destinadas à Educação e à Cultura. E um docinho
na não-obrigatoriedade da cadeirinha no banco traseiro do carro.
De um lado, a botinada. De outro, o borra-botas. O facínora
misógino decidiu abrir as pernas. Que na época de campanha dizia serem de
chumbo, mas agora readjetivou para “flexíveis”. Em nome da desburocratização,
facilitou o acesso ao fuzil, ao Marlboro, à cachaça e, mais recentemente, ao
acelerador. Do carro, não da economia. Esta continua em ponto morto. Em
compensação, em sua retidão obtusa, torna cada vez mais inviável o acesso ao
teatro, ao cinema nacional tão premiado no exterior, às exposições de corpos
nus ou qualquer outra manifestação artística outrora beneficiada por incentivos
fiscais de empresas estatais ou patrocínios do setor privado via Lei Rouanet. Quem
sai ganhando com isso, ao contrário do que se pensa, não é o cidadão de bem. É
o lobby empresário-político. Como sempre foi na história deste torpe país.
Se você votou no coiso, e continua defendendo cega e
irrefreavelmente o dito cujo, não posso deixar escapar as seguintes perguntas:
que tipo de Brasil você pensa para o seu futuro? Para o MEU futuro? Que tipo de
sociedade você pretende construir para seus filhos? Você realmente é a favor do
remédio caro e da pinga barata? Da impunidade no trânsito? Com o fim dos exames
toxicológicos para caminhoneiros, além da (esta sim) fraquejada em outras
questões do trânsito, agora nem será mais necessário subornar o guardinha. Temos
enfim um caminho livre para a pista de bate-bate e a mesa de mata-mata. Fica
para sua reflexão. Mas, se você continua achando que o correto é governar pelo
Twitter, que as fake news são mais instrutivas do que os livros, e que de fato
são acertados os estímulos para reproduzirmos uma população que bebe, que fuma,
que atropela e que atira, aí nossas divergências não são meramente ideológicas.
Trata-se de uma questão de bom senso. De caráter, pra falar a verdade.
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