quarta-feira, 5 de junho de 2019

Mãos ao volante


O capitão, o ditador, o fascista, o machista, resolveu ser uma mãe para os motoristas barbeiros. Anistiou a imprudência e a imperícia ao volante, num ato de equivocado liberalismo nas ruas e estradas. Sabe aquela quantidade de faltas graves que você não pode cometer sob o risco de ter sua carteira de habilitação cassada? Então. Esse limite dobrou.


Com (mais) essa medida, temos então a prova de um verdadeiro presidente duas-caras. Extremamente intolerante com a diversidade de gênero. E extremamente permissivo com o uso (porte e posse) de armas, ainda que isso seja reprovado por 3/4 da população. Rigoroso e taxativo com a "baderna nas universidades", mas um coração mole com a redução de impostos de bebidas e cigarros, estimulando o consumo de tais substâncias e dando um passo atrás na guerra contra o tabagismo. Irredutível na questão das fronteiras indígenas, mas muito mão-aberta aos interesses econômicos dos madeireiros. Radicalmente contrário ao dialeto LGBT nas provas do Enem, mas totalmente vulnerável à liberação dos agrotóxicos proibidos no mundo inteiro. Absoluto nos cortes de verbas destinadas à Educação e à Cultura. E um docinho na não-obrigatoriedade da cadeirinha no banco traseiro do carro.


De um lado, a botinada. De outro, o borra-botas. O facínora misógino decidiu abrir as pernas. Que na época de campanha dizia serem de chumbo, mas agora readjetivou para “flexíveis”. Em nome da desburocratização, facilitou o acesso ao fuzil, ao Marlboro, à cachaça e, mais recentemente, ao acelerador. Do carro, não da economia. Esta continua em ponto morto. Em compensação, em sua retidão obtusa, torna cada vez mais inviável o acesso ao teatro, ao cinema nacional tão premiado no exterior, às exposições de corpos nus ou qualquer outra manifestação artística outrora beneficiada por incentivos fiscais de empresas estatais ou patrocínios do setor privado via Lei Rouanet. Quem sai ganhando com isso, ao contrário do que se pensa, não é o cidadão de bem. É o lobby empresário-político. Como sempre foi na história deste torpe país.

Se você votou no coiso, e continua defendendo cega e irrefreavelmente o dito cujo, não posso deixar escapar as seguintes perguntas: que tipo de Brasil você pensa para o seu futuro? Para o MEU futuro? Que tipo de sociedade você pretende construir para seus filhos? Você realmente é a favor do remédio caro e da pinga barata? Da impunidade no trânsito? Com o fim dos exames toxicológicos para caminhoneiros, além da (esta sim) fraquejada em outras questões do trânsito, agora nem será mais necessário subornar o guardinha. Temos enfim um caminho livre para a pista de bate-bate e a mesa de mata-mata. Fica para sua reflexão. Mas, se você continua achando que o correto é governar pelo Twitter, que as fake news são mais instrutivas do que os livros, e que de fato são acertados os estímulos para reproduzirmos uma população que bebe, que fuma, que atropela e que atira, aí nossas divergências não são meramente ideológicas. Trata-se de uma questão de bom senso. De caráter, pra falar a verdade.


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