sexta-feira, 19 de agosto de 2022

De Volta à Borgonha

Recentemente, as salas de cinema brasileiras acolheram o francês Lola e Seus Irmãos, que disseca as relações familiares entre parentes que se reencontram. Agora é a vez de Cédric Klapisch dar a sua versão sobre o que une - e separa - um trio de irmãos que, com suas semelhanças e diferenças, se veem obrigados a se ver novamente.

A comparação entre Lola e De Volta à Borgonha para por aí. As brigas, os conflitos de interesse e a ausência de um deles fazem parte do repertório de ambos. Mas em De Volta existe todo um aparato estético, quase noveleiro, que se diferencia do anterior.

Estamos falando de uma família que herda a vinícola de seu pai, recém-falecido. Esse pano de fundo serve de prato cheio para exibir cenas de paisagens campestres e processos de fabricação do vinho. Tudo muito lindo, nítido, com uma luz forte para realçar os detalhes e dar ao filme um tom quase National Geographic. 

Entretanto, Klapisch tem o dom de fazer sua obra escapar de um comercial de restaurante da alta gastronomia. Ainda bem. No meio de tanto primor bucólico, o diretor encontra espaço para mostrar um clã endividado e pouco experiente para exercer sua função de patrões. É nesse âmbito que Klapisch se sai melhor, deixando seu requinte etílico apenas como atrativo superficial para debruçar sobre o que sabe fazer de melhor: captar as relações humanas, sem cair em clichês ou diálogos forçados e atuações falsas.

Nesse sentido, De Volta à Borgonha parece ser um retrato mais maduro se comparado aos sucessos Albergue Espanhol e Bonecas Russas, onde tudo parecia uma folha de rascunho, um grande teatro de improviso recheado de boas intenções e sequências espertinhas. 


Um comentário:

Flavia Miranda disse...

Muito bacana! Obrigada.