quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Inspeção de araque

A idéia parece boa. A prática já é adotada em alguns países e funciona. O motivo primordial da implementação do rodízio de automóveis foi este: reduzir a poluição ambiental. Mas é bom lembrar que a gente está no Brasil. E, como em quase tudo o que se adota neste país, a divulgação é parcial e tendenciosa, a regularização é confusa, os procedimentos são burocráticos e a realização é lenta, muito lenta. Tudo para favorecer determinados interesses, não sei se dos despachantes, das indústrias montadoras ou do funcionalismo público de base. Parece uma dedução leviana da minha parte, mas acho que não é. A inspeção veicular dos automóveis e caminhões, adotada na ressaca do começo do ano, sem a infra-estrutura para atender a toda a demanda, já começou com problemas. Ao que parece, tudo na base do bom e velho jeitinho. Mal entrou em vigor, já fiquei sabendo que alguns caminhoneiros driblam a fiscalização, deixando seus empoeirados e venenosos veículos nos conformes durante os minutos da inspeção e, aprovados seus brutamontes poluentes, eles voltam aos mecânicos para refazer a adulteração de acordo com o estado inicial das máquinas, para obter maior rendimento e economia de combustível. Diante deste cenário pouquíssimo animador, pode ir se preparando para maus serviços, focos de propina e atitudes de má-fé no futuro próximo. Isso sem falar na incoerência da norma em si. Não dá pra se levar a sério uma lei que controla apenas os carros produzidos a partir de 2003, quando as montadoras já começaram a instalar equipamentos antipoluentes e catalisadores mais modernos, de acordo com critérios mais exigentes. É óbvio que quem espirra sujeira no ar são as latarias velhinhas ou mal-conservadas. Não soube da fonte, mas ouvi dizer que alguma eminência parda explicou a medida alegando que proprietários de automóveis mais antigos mal conseguem pagar suas taxas em dia e quitar suas dívidas, quanto mais se submeter ao pagamento compulsório de R$ 52 pra avaliar as condições de seu bem físico. Uma justificativa no mínimo preconceituosa. Sabemos que existe uma minoria que opta pelo tão sonhado carro zero e, para essa realização, entre num poço sem fundo de dívidas. Eu, por exemplo, tinha um carro senil, com mais de 10 anos de uso, e nunca levei uma multa, nunca deixei uma pendência em aberto, sempre paguei em dia e à vista todos os tributos. Se é para o governo fazer caixa num ano potencialmente crítico nas finanças, que pelo menos saiba fingir direito. Ninguém agüenta mais cair no conto do kit dos primeiros-socorros. Se existe uma segunda intenção por trás da camisa de um ar mais respirável, isso mostra o quão poluído está o ambiente dos nossos representantes políticos.

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