Tatuagem, Azul é a Cor Mais Quente, Além da Fronteira e Um
Estranho no Lago. Estão em cartaz quatro filmes com temática gay (homoerótica,
GLBT, homossexual, como queiram...). Ao que tudo indica, trata-se de
lançamentos que em nada espelham oportunismos de mercado, pois a famosa Parada
GLBT ainda está longe de acontecer e, nesta época cristã de festividades, o
assunto em questão não é dos mais apropriados para reunir a família,
convencionalmente falando. Talvez seja apenas uma feliz coincidência: estes
filmes, badalados em festivais recentes, aqui e lá fora (inclusive o Mix
Brasil, especializado em títulos pertencentes a esse segmento), provavelmente
estão com os prazos de validade pra vencer, no que diz respeito a questões
contratuais, e precisaram, em tom emergencial, ser imediatamente desovados no
circuito comercial. Hipóteses à parte, o fato é que o cinéfilo das metrópoles
pode apreciar quatro bons trabalhos que colocam a homossexualidade não como um
tabu, mas uma questão presente no dia a dia da sociedade moderna. São
exercícios que não só projetam os conflitos gays, mas posicionam-se acima deles
e, de longe, extrapolam os filmes de gueto, filmes de reduto, feitos por
homossexuais e voltados para eles mesmos. Aqui, os exemplos colocam o assunto
numa percepção que rompe com os seus limites, mas esse não é necessariamente o
seu propósito. Ainda que suscitem discussões quanto aos exageros e aos olhares
demasiadamente explícitos em sua demorada observação (e aí as fronteiras e os
critérios variam de olhar para olhar), e ainda bem que provocam isso, o quarteto
nos traz, de um modo geral, um resultado que traduz avanços estéticos e
linguísticos. Há quem entenda que ali está um visível e notório esforço de se
fazer “filme pra chocar, por chocar”, em alguns casos, e não condeno essa postura
crítica, mas eu acredito que existe uma intenção mais forte e mais orgânica,
inerente e fundamental a seus roteiros, e o “chocante” não está ali apenas como
um epidérmico papel de parede para embelezar questões polêmicas. Tatuagem tem
um tom libertário, funciona quase que como um esporro social, um jorro estético
e político que confronta o conservadorismo da ditadura. Azul é a Cor... retrata
a intimidade na sua essência, com o tempo (timing, melhor assim) necessário
para que tanto as personagens quanto o espectador consigam de fato se sentir íntimos
daquela situação, numa mistura contraditória de prazer e desconforto. Um
Estranho no Lago é explícito por natureza, e natureza é uma palavra que não
pode ser omitida em sua definição. A natureza convidativa do banho de água doce
e do amor livre, junto com o incessante ruído sonoro dos insetos e dos ventos
nas folhas de árvore que indicam que nem tudo está tão calmo naquela ilha
paradisíaca. Já Além da Fronteira é o mais tradicional na forma, mas ainda
assim traz um tema importante e faz o paralelismo entre os preconceitos
sociais, ideológicos e raciais de maneira digna. Claro que nem todos esses
quatro filmes estão no mesmo patamar de apreciação, mas, com certeza, estão
muito acima da média de lançamentos. São trabalhos necessários, que funcionam
bem mais do que uma simples opção pra se fugir das filas dos bilbos e dos
elfos.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
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