sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Mix

Tatuagem, Azul é a Cor Mais Quente, Além da Fronteira e Um Estranho no Lago. Estão em cartaz quatro filmes com temática gay (homoerótica, GLBT, homossexual, como queiram...). Ao que tudo indica, trata-se de lançamentos que em nada espelham oportunismos de mercado, pois a famosa Parada GLBT ainda está longe de acontecer e, nesta época cristã de festividades, o assunto em questão não é dos mais apropriados para reunir a família, convencionalmente falando. Talvez seja apenas uma feliz coincidência: estes filmes, badalados em festivais recentes, aqui e lá fora (inclusive o Mix Brasil, especializado em títulos pertencentes a esse segmento), provavelmente estão com os prazos de validade pra vencer, no que diz respeito a questões contratuais, e precisaram, em tom emergencial, ser imediatamente desovados no circuito comercial. Hipóteses à parte, o fato é que o cinéfilo das metrópoles pode apreciar quatro bons trabalhos que colocam a homossexualidade não como um tabu, mas uma questão presente no dia a dia da sociedade moderna. São exercícios que não só projetam os conflitos gays, mas posicionam-se acima deles e, de longe, extrapolam os filmes de gueto, filmes de reduto, feitos por homossexuais e voltados para eles mesmos. Aqui, os exemplos colocam o assunto numa percepção que rompe com os seus limites, mas esse não é necessariamente o seu propósito. Ainda que suscitem discussões quanto aos exageros e aos olhares demasiadamente explícitos em sua demorada observação (e aí as fronteiras e os critérios variam de olhar para olhar), e ainda bem que provocam isso, o quarteto nos traz, de um modo geral, um resultado que traduz avanços estéticos e linguísticos. Há quem entenda que ali está um visível e notório esforço de se fazer “filme pra chocar, por chocar”, em alguns casos, e não condeno essa postura crítica, mas eu acredito que existe uma intenção mais forte e mais orgânica, inerente e fundamental a seus roteiros, e o “chocante” não está ali apenas como um epidérmico papel de parede para embelezar questões polêmicas. Tatuagem tem um tom libertário, funciona quase que como um esporro social, um jorro estético e político que confronta o conservadorismo da ditadura. Azul é a Cor... retrata a intimidade na sua essência, com o tempo (timing, melhor assim) necessário para que tanto as personagens quanto o espectador consigam de fato se sentir íntimos daquela situação, numa mistura contraditória de prazer e desconforto. Um Estranho no Lago é explícito por natureza, e natureza é uma palavra que não pode ser omitida em sua definição. A natureza convidativa do banho de água doce e do amor livre, junto com o incessante ruído sonoro dos insetos e dos ventos nas folhas de árvore que indicam que nem tudo está tão calmo naquela ilha paradisíaca. Já Além da Fronteira é o mais tradicional na forma, mas ainda assim traz um tema importante e faz o paralelismo entre os preconceitos sociais, ideológicos e raciais de maneira digna. Claro que nem todos esses quatro filmes estão no mesmo patamar de apreciação, mas, com certeza, estão muito acima da média de lançamentos. São trabalhos necessários, que funcionam bem mais do que uma simples opção pra se fugir das filas dos bilbos e dos elfos.


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