Eis que ela surge do nada, encosta-se no banco ao meu lado
e começa a mexer seus longos e escuros cabelos. Prende uma mecha com a mão
esquerda e deixa aparecer a discreta tatuagem cravada na nuca. Um símbolo
azulado da Antiguidade egípcia que pinta a morenice brejeira de sua pele. Seus
dedos obsessivos desfiam pedaços emaranhados de suas madeixas e aproximam essa diminuta
crina ao seu nariz. Evidente que se trata de uma busca sinestésica pelo prazer
homérico. Cheirar os cabelos, comer os cabelos... De fato, aqueles fios sedosos
eram de abrir o apetite. À medida que se contorcem nos vãos dos seus dedos
magros, exalam uma essência primitiva de sua fórmula frutífera. Uma combinação
harmônica de castanhas, cupuaçu e coco, muito coco. A lufada de aromas
tupiniquins revoantes da Iracema do século 21 domina as cercanias do ambiente.
Não teve jeito. A estufa amazônica de inebriantes perfumes arbóreos oriundos das melenas
azeviches da musa na sua mais perfeita escultura desperta em mim um instinto
indígena. Fito-a me sentindo um selvagem, o mais selvagem daquela arquitetura
de granitos urbanos.
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
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