Neste ano, eu vesti uma camisa rosa num dia do #OutubroRosa,
em prol das mulheres vítimas de câncer de mama. Também usei uma camisa azul num
dia de novembro em solidariedade ao #NovembroAzul, que alerta os homens para o
câncer de próstata. Isso na vida real. Nas redes sociais, teve uns dias que eu
troquei aquela minha fotinho do perfil por uma foto com as cores do arco-íris
sobrepostas ao meu rosto, em homenagem à lei aprovada nos Estados Unidos que permite
o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Dias atrás, botei as cores da França
sobre meu pálido rosto no Facebook, em respeito às vítimas dos ataques
terroristas ocorridos em Paris. Na mesma época, taquei uma cor amarronzada
nessa mixórdia cromática para mostrar minha indignação em relação às vítimas
soterradas de Mariana. Fiz tudo isso, e faria muito mais se eu soubesse qual é
a cor oficial de outras causas nobres, como #MeuPrimeiroAssédio,
#MeuAmigoSecreto, #ForaCunha, #ForaDilma, refugiados da Síria, vítimas dos
alagamentos em Santa Catarina, vítimas dos atentados de Mali, vítimas das
ciclovias de São Paulo, vítimas de bullying, vítimas de bulimia, crianças que
morreram engasgadas com balas Soft. O motivo dessa adesão inconteste é muito
simples, meu caro. Pega bem. É cool, é hype, soa simpático para seus amiguinhos
e mais simpático ainda para quem cria, organiza e gerencia essas manifestações.
Diferente de outras manifestações sociais anteriores, que exigem um desembolso
monetário (compra de pin em forma de gravata vermelha para as vítimas da Aids,
compra de camiseta com ilustração de alvo para as vítimas do câncer de mama) ou
uma atitude polêmica (entrega de armas na campanha em prol do desarmamento da população),
agora seu esforço para ser considerado adepto é praticamente nulo. Não requer
prática, tampouco habilidade. Para você ser legal com o mundo, não precisa nem
dar esmolas, basta baixar um aplicativo ou mudar a sua configuração de perfil.
Nem precisa se aprofundar sobre a causa, se não quiser. Na internet, tudo é
superficial e ganha a briga quem grita mais alto. Quando a briga diz respeito a
causas ganhas, dar-se ao trabalho de tecer reflexões maiores e mais profundas
torna-se tão desnecessário quanto enfadonho. Ou seja, em tempos de comunicação
rápida e ligeira e envelhecimento precoce de opiniões mais embasadas, você
veste uma causa como se estivesse trocando de roupa. Tudo é vitrine de
shopping. Você entra no provador como seu eu-mesmo e sai de lá Guarani-Kaiowá.
Ou tricolor. Ganha uns likes de quem aprovou essa indumentária disfarçada de
solidariedade e tá tudo certo. Chama pela próxima cor, enquanto o mundo
continua se digladiando em seus vermelhos cinzentos.
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
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