terça-feira, 7 de junho de 2016

Namorados

Sou mesmo um cara de sorte. No Dia dos Namorados, não vou precisar enfrentar filas de shopping para procurar aquele perfume dito "exclusivo", junto com outras dezenas de namorados procurando exatamente o mesmo perfume, todos eles tão exclusivos quanto eu. Não vou me dar ao trabalho porque, na verdade, nem preciso comprar o presente. Não preciso comprar o presente porque, na verdade, não estou namorando. Logo, o meu não-presente é totalmente dedicado a você, que me bloqueou do WhatsApp e postou fotos no Instagram acompanhada de um sarado, alegando que estava a fim de ficar um tempo sozinha.

Para o próximo Dia dos Namorados, fiz questão de não reservar aquela mesa no bistrô pensando em você, que da última vez reclamou que meu gosto para roupas e para música é péssimo. Portanto, demorei horas para não escolher um filé de Saint Peter com redução de frutas vermelhas e farofa de amêndoas. Logo, nada mais justo fazer um não-brinde ao nosso não-relacionamento e não abrir uma garrafa de Cabernet Sauvignon, safra 2009. Afinal, estamos não-comemorando aquele dia em que você falou que os homens são todos iguais, entretanto, me trocou por um muito mais igual do que eu.

Para a especialíssima data vindoura de 12 de junho, gastei todas as minhas energias para não procurar aquele vestido azul-escuro que você tanto paquerou durante meses na vitrine da loja. Só não sabia eu que, junto com o vestido, você também paquerou o vendedor da loja ao lado, aquele hipster de cabelo milimetricamente desgrenhado, barba delineadamente malfeita e um gibi de tatuagens em sua pele clara. Junto com o vestido, faço questão de não oferecer a você a calcinha preta de renda para a noite de amor que não iremos passar juntos, já que você muito provavelmente vai estar no bar com suas amigas e vai ficar com o primeiro homem que colar na sua mesa. Talvez o segundo.

Estou contando os minutos para não celebrarmos o dia em que não irei te dar nenhuma joia, não irei declamar poesia alguma, muito menos cochichar no seu ouvido palavras de baixo calão. Tudo isso porque você não me ama como nunca me amou antes. É um privilégio não ter você ao meu lado e, consequentemente, não rirmos juntos das piadas batidas, não chorarmos juntos no drama francês, não pedirmos uma pizza num sábado chuvoso, não ficarmos abraçados no sofá até pegarmos no sono. Felizes de nós, que juramos não amar eternamente um ao outro.

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