(Mais considerações sobre o Tinder)
Tudo muito rápido. Tudo muito muito. Na nossa sociedade,
ninguém tem tempo a perder. Seja lá o que significa o conceito de “perder
tempo”. Nos relacionamentos, é a mesma coisa. Aquela ideia de amadurecer a
relação amadureceu de podre. Tudo tem que ser muito certeiro. “Assertivo”,
palavra-bosta da moda. E o Tinder, como causa ou reflexo desse comportamento,
não poderia ser diferente. Basta deslizar o dedo sobre a tela para se
desvincular de alguém e partir pra próxima. Com o novo Namoro na TV em formato
de app, temos a capciosa sensação de que milhões de pessoas estão solteiras e
desesperadas. Milhares são compatíveis com você. Centenas dão like. Em dezenas
rola match. E meia-dúzia quer dar pra você. Talvez uma até queira mesmo. Mas só
se você for muito gente boa ou se rolar uma descarga elétrica no primeiro
encontro a tal ponto de desencadear uma atração mortífera e visceral. Caso
contrário, o Tinder funciona mais ou menos como o Uber: milhares de pessoas
passeando perto de você, existe a necessidade de abrir o app pra chamar essa
pessoa e, se tudo der certo, ela vai te achar. Só que com uma diferença: no
Tinder você não ganha balinha nem copinho d’água ao utilizar o serviço. Ao
contrário do serviço de táxi, em que há a certeza de que você nunca mais na
vida vai ver o motorista novamente, com o Tinder ainda existe uma remota
possibilidade de um novo encontro. Mas pra isso você precisa beirar a perfeição
no début. Aqui o ditame “a primeira impressão é a que fica” cedeu lugar ao “a
ÚNICA impressão é a que fica”. Afinal, ninguém quer perder tempo investindo na
relação ou descobrindo os mistérios do outro. Mais fácil perder tempo passando
o dedo sobre um tampo de vidro enquanto se escuta o Spotify.
Portanto, diante dessas conclusões absolutamente pessoais,
quero finalizar com uma espécie de tributo, homenagem, ou apenas uma derivação
da música Construção, de Chico Buarque.
“Armou daquela vez como se fosse a última
Reservou um bistrô para o próximo sábado
Olhou praquela mulher como se fosse a única
Beijinho no rosto como se fosse íntimo
Contou suas vantagens se achando o máximo
Poema sobre poema num momento mágico
Agarrou aquela mulher de um jeito ridículo
Levou um fora como se fosse um bêbado
Pagou aquela conta se sentindo uma lástima
Abriu aquela porta andando trôpego
Entrou no carro do Uber atrapalhando o tráfego”.
Um comentário:
Corre-se o risco de ganhar aquela batata da onda e chocolate.
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