segunda-feira, 3 de abril de 2017

Filme

(Dicas para cineastas)
Como ganhar prêmios nos principais festivais de cinema do mundo:

- Crie um título nada condizente com a história ou de significado muito simbólico e restrito. Por exemplo: se o filme se chama Vaca Zebu, em nenhum momento aparece ou é citado o animal.
- Contrate um ator novato e outro decadente. Sempre.
- Seja um amigo da natureza. Crie planos como se fosse um fotógrafo da National Geographic. Dê closes em bichos. Tá em crise criativa? Sem problemas. Filme uma correnteza por vários minutos, isso serve sempre de metáfora para alguma coisa em aberto ao espectador. E mato, muito mato. Adentre florestas. Seja íntimo das folhas. E, se possível, filme uma cópula de gafanhotos.
- Esqueça os planos e contraplanos rebuscados. Simplicidade ao máximo. Nas cenas de diálogo, basta uma única pessoa olhando fixamente pra câmera, estilo portrait, e corte seco pro interlocutor, no mesmo ângulo.
- Abuse dos planos longos. Mas longos mesmo. Daqueles que dão tempo do espectador ir ao banheiro e ainda comprar um Kit Kat na bonbonniere.
- Crie cenas que causam no espectador uma vontade incontrolável de dormitar no meio da sessão. E na hora de participar de debates, cite sempre essa cena em que todo mundo dormiu na sala.
- Esqueça qualquer relação lógica de tempo e espaço. Relativize até as últimas consequências a temporalidade dos fatos. Dica: rainha atendendo a um celular dentro de sua carruagem. Homens ateando fogo com isqueiro Zippo nas Cruzadas. Astronauta vestindo abrigo Adidas na nave espacial de 2400.
- Para reforçar essa crise atemporal, finalize um filme de época (ou qualquer outro) com uma música dos Ramones. Sempre.
- Subverta a linearidade histórica dos fatos. Sugestão: Maria Antonieta tendo um caso com Freud. Madonna tendo um caso com Nietsche. Ou Freud tendo um caso com Nietsche, tanto faz.
- Contrate sósias. Eles são imprescindíveis para as cenas finais, em que o protagonista se intercala com seu alter ego, como se fosse um jogo de espelhos.


2 comentários:

Unknown disse...

O pior é que minha imaginação é fértil e consigo visualizar as cenas. Delícia de texto!

Érico Fuks disse...

Obrigado!