Fim de ano. Época de fazer amiguinhos.
Todo mundo se amando. Todo mundo se abraçando. Mesmo que
aquela enorme cesta de Natal que você carrega atrapalhe um pouco a proximidade
do movimento.
Confraternização então, nem se fala. Jantar-balada da firma.
Almoço da equipe da firma. Happy hour dos amigos do colégio com quem você
estudou faz mais de 3 décadas.
Se bobear, teve festa dos vizinhos da rua também. Eu é que
não fui convidado.
Falando em rua, é nesse período que começam a pipocar em sua
caixa de correios um monte de cartões de Natal. O carteiro deixa o seu naquela
caixa. Por motivos óbvios. O entregador de jornal, idem. Sim, ainda somos do
tempo em que se lia jornal impresso em papel-jornal. O lixeiro pede sua comissão
natalina. Afinal, se não fosse o serviço de sua coleta, estaríamos morando até
agora submersos numa montanha de latas de atum e cascas de abacaxi. O funcionário
que lê o relógio da luz também quer uma fatia desse bolo. Imagina só: o cara
aparece no portão da sua casa uma única vez por mês, faz uma leitura de no
máximo 45 segundos, vai embora te deixando um boleto de cobrança de imposto do
Governo e ainda quer ganhar caixinha de Natal. O cara da água, idem. Mas não é
só de luz, água e lixo que vive o cidadão paulistano. Nessa efeméride, única e
tão somente nessa efeméride, brotam os funcionários do recapeamento asfáltico
rogando por seu quinhão. Os capinadores da grama da calçada. Acho meio curioso
isso: não sabia que minha grama só crescia em dezembro. Melhor mesmo continuar
invejando a grama do vizinho, que cresce todos os meses do ano. E os limpadores
de bueiro então? Você liga pra Prefeitura na época das enchentes, das festas,
nunca tem gente disponível pro serviço. De repente, não mais que de repente, em
dezembro aparece uma dúzia deles na sua casa. Certeza que brotaram dos bueiros.
Tipo tartarugas ninja multiplicados por 4.
Ainda bem que não teve amigo secreto. Minha torcida para que
não houvesse foi quase tão grande quanto minha torcida para ganhar sozinho a
Mega da Virada. Não é por nada, não. Respeito quem goste da brincadeira. Mas,
única e especificamente no meu caso, não tenho muita sorte com a coisa. Quando
tiro alguém que gosto, vou atrás de um presente bem bacana. Ouviram bem, gente?
Ir atrás, presente, em pleno mês de dezembro. Shopping mais lotado que o
Lollapallooza. Vocês não fazem ideia do sacrifício que é procurar presente bacana
nessa época. Entretanto, todavia, a pessoa que me tira não tem lá esse apreço
todo por minha pessoa. Na hora de eu desembrulhar os incontáveis lacinhos que
circundam a caixa, lá vem um 25 de Março. Que parte do “valor mínimo de 50
reais” a pessoa não entendeu?
Mas voltando. Natal, ano-novo, tudo junto ao mesmo tempo
agora. Um monte de mensagens, e-mails, cartões virtuais, posts, gifs. Gente que
te adora, ou apenas acha você um cara bacana, ou simplesmente adicionou seu
nome numa lista de outras 278 pessoas antes do envio. Mas tudo bem. Houve um
esforço, uma dedicação. Tá valendo do mesmo jeito.
Fim de ano. Minha vida recheada de luzes, de cores,
estrelas, candelabros, copos de champanhe, feliz ano-novo, chag sameach... ah,
mas VOCÊS não comemoram o Natal. Olha, querido, deixa te explicar uma coisa. Você
acha que realmente esse negócio de deixar tudo iluminado, as casas e as ruas com
luzes brilhantes e piscantes, vem mesmo do Cristianismo?
Fim de ano. Minha vida recheada de panetone, rabanada,
nozes, castanhas, lentilhas. Minha vida recheada de peru, que também está
recheado. Peru, por sinal, custando quase o mesmo que um iPhone. Na hora em que
a moça do caixa pergunta “débito ou crédito?”, dá vontade de responder: “assalto”.
E por que falta bacon na cidade, gente? É a nova dieta do Papai Noel? Até no Supermercado Irmãos Dias você encontra bacon. Menos em dezembro. OK, OK,
bacon é vida. Mas é o tipo de item que você encontra fácil nos outros meses do
ano. Até entendo essa escassez decorrente da lei da oferta e da procura. Mas
uma coisa que não entendo é a polêmica que se instaura em relação à uva passa.
Nossa, como tem hater de uva passa! Bastou o Afonso Padilha postar um vídeo
falando sobre isso que, do mesmo bueiro dos caras da Prefeitura, surgiu essa
legião de odiadores da uva passa. Não tem nada de mais com a fruta. É só uma
uva que ficou 10 minutos no micro-ondas. Vai me dizer agora que você preferia
kiwi dentro do panetone.
Fim de ano. Época de ficar mais gordo. Época de ficar mais
pobre. Mas vale muito a pena. Estamos amando a todos.
Em janeiro a gente volta ao normal.

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