quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Fim de ano

Fim de ano. Época de fazer amiguinhos.

Todo mundo se amando. Todo mundo se abraçando. Mesmo que aquela enorme cesta de Natal que você carrega atrapalhe um pouco a proximidade do movimento.

Confraternização então, nem se fala. Jantar-balada da firma. Almoço da equipe da firma. Happy hour dos amigos do colégio com quem você estudou faz mais de 3 décadas.

Se bobear, teve festa dos vizinhos da rua também. Eu é que não fui convidado.

Falando em rua, é nesse período que começam a pipocar em sua caixa de correios um monte de cartões de Natal. O carteiro deixa o seu naquela caixa. Por motivos óbvios. O entregador de jornal, idem. Sim, ainda somos do tempo em que se lia jornal impresso em papel-jornal. O lixeiro pede sua comissão natalina. Afinal, se não fosse o serviço de sua coleta, estaríamos morando até agora submersos numa montanha de latas de atum e cascas de abacaxi. O funcionário que lê o relógio da luz também quer uma fatia desse bolo. Imagina só: o cara aparece no portão da sua casa uma única vez por mês, faz uma leitura de no máximo 45 segundos, vai embora te deixando um boleto de cobrança de imposto do Governo e ainda quer ganhar caixinha de Natal. O cara da água, idem. Mas não é só de luz, água e lixo que vive o cidadão paulistano. Nessa efeméride, única e tão somente nessa efeméride, brotam os funcionários do recapeamento asfáltico rogando por seu quinhão. Os capinadores da grama da calçada. Acho meio curioso isso: não sabia que minha grama só crescia em dezembro. Melhor mesmo continuar invejando a grama do vizinho, que cresce todos os meses do ano. E os limpadores de bueiro então? Você liga pra Prefeitura na época das enchentes, das festas, nunca tem gente disponível pro serviço. De repente, não mais que de repente, em dezembro aparece uma dúzia deles na sua casa. Certeza que brotaram dos bueiros. Tipo tartarugas ninja multiplicados por 4.

Ainda bem que não teve amigo secreto. Minha torcida para que não houvesse foi quase tão grande quanto minha torcida para ganhar sozinho a Mega da Virada. Não é por nada, não. Respeito quem goste da brincadeira. Mas, única e especificamente no meu caso, não tenho muita sorte com a coisa. Quando tiro alguém que gosto, vou atrás de um presente bem bacana. Ouviram bem, gente? Ir atrás, presente, em pleno mês de dezembro. Shopping mais lotado que o Lollapallooza. Vocês não fazem ideia do sacrifício que é procurar presente bacana nessa época. Entretanto, todavia, a pessoa que me tira não tem lá esse apreço todo por minha pessoa. Na hora de eu desembrulhar os incontáveis lacinhos que circundam a caixa, lá vem um 25 de Março. Que parte do “valor mínimo de 50 reais” a pessoa não entendeu?

Mas voltando. Natal, ano-novo, tudo junto ao mesmo tempo agora. Um monte de mensagens, e-mails, cartões virtuais, posts, gifs. Gente que te adora, ou apenas acha você um cara bacana, ou simplesmente adicionou seu nome numa lista de outras 278 pessoas antes do envio. Mas tudo bem. Houve um esforço, uma dedicação. Tá valendo do mesmo jeito.

Fim de ano. Minha vida recheada de luzes, de cores, estrelas, candelabros, copos de champanhe, feliz ano-novo, chag sameach... ah, mas VOCÊS não comemoram o Natal. Olha, querido, deixa te explicar uma coisa. Você acha que realmente esse negócio de deixar tudo iluminado, as casas e as ruas com luzes brilhantes e piscantes, vem mesmo do Cristianismo?

Fim de ano. Minha vida recheada de panetone, rabanada, nozes, castanhas, lentilhas. Minha vida recheada de peru, que também está recheado. Peru, por sinal, custando quase o mesmo que um iPhone. Na hora em que a moça do caixa pergunta “débito ou crédito?”, dá vontade de responder: “assalto”. E por que falta bacon na cidade, gente? É a nova dieta do Papai Noel? Até no Supermercado Irmãos Dias você encontra bacon. Menos em dezembro. OK, OK, bacon é vida. Mas é o tipo de item que você encontra fácil nos outros meses do ano. Até entendo essa escassez decorrente da lei da oferta e da procura. Mas uma coisa que não entendo é a polêmica que se instaura em relação à uva passa. Nossa, como tem hater de uva passa! Bastou o Afonso Padilha postar um vídeo falando sobre isso que, do mesmo bueiro dos caras da Prefeitura, surgiu essa legião de odiadores da uva passa. Não tem nada de mais com a fruta. É só uma uva que ficou 10 minutos no micro-ondas. Vai me dizer agora que você preferia kiwi dentro do panetone.

Fim de ano. Época de ficar mais gordo. Época de ficar mais pobre. Mas vale muito a pena. Estamos amando a todos.

Em janeiro a gente volta ao normal.


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