sábado, 9 de maio de 2020

Pode ser

Pode ser que a quarentena se prolongue até o fim de junho. Enquanto os índices de isolamento caírem, não há outra alternativa viável.
Pode ser que os Estados e municípios decretem lockdown. A capacidade de atendimento dos hospitais da rede pública e da rede privada está chegando ao limite. E a inauguração de novos leitos, com todos os equipamentos e profissionais necessários, não está acompanhando a velocidade da chegada de novos infectados.
Pode ser que o lockdown não seja suficiente para conter o vírus. Em Nova York, o prefeito declarou que as pessoas estão se contaminando em casa.
Pode ser que o Brasil se torne o epicentro mundial do coronavírus. Alguns especialistas já apontam essa tendência.
Pode ser que a curva epidêmica atinja picos mais altos e uma largura mais extensa do que a apresentada em gráficos. Isso depende não só das medidas preventivas adotadas no presente, como também de outros fatores, como comportamento e possível mutação do vírus, números mais precisos de subnotificações e comportamento da sociedade como um todo.
Pode ser que a Economia consiga respirar aliviada algum sinal de crescimento somente em 2022.
Pode ser que pulemos o estágio da recessão e entremos direto na depressão.
Já que estamos falando em depressão, pode ser que esse estado das coisas traga consequências psicológicas traumáticas às pessoas e que o índice de suicídios aumente vertiginosamente.
Pode ser que o covid-19 seja apenas um "ensaio geral". Um renomado pesquisador da USP alerta para o fato de que ainda está por vir um vírus ainda pior, com consequências mais trágicas e devastadoras. Diversos infectologistas não descartam a possibilidade de ficarmos suscetíveis a novas pandemias.
Pode ser que os níveis de violência aumentem numa escala insustentável. Só na capital de São Paulo, existe uma projeção (otimista) de que haverá um acréscimo de 1 milhão de desempregados. Pessoas que precisam botar comida na mesa de suas famílias.
Pode ser que o Estado, em todas as suas esferas, zere o fundo de reserva e, sem qualquer previsão de retomada, não tenha caixa algum para uma próxima e eventual situação de calamidade pública.
Pode ser que o Brasil fique ainda mais isolado do mundo. E que a sociedade fique ainda mais dividida e fragmentada.
Pode ser que todas as petições requisitando a abertura de inquéritos para o processo de impeachment sejam engavetadas.
Pode ser que o nosso presidente, percebendo suas limitações de poder dentro das instituições democráticas, resolva aplicar um golpe de estado. Seria, para alguns analistas políticos, um "golpe dentro do golpe", visto que ele já ocupa um cargo de chefe de Estado.
Pode ser que o novo normal enterre para sempre o antigo normal, e que alguns hábitos e práticas nunca mais voltem a existir.

Pode ser tudo isso. Ou muito mais. Ou não. A gente não tem certeza de nada. Seguimos convivendo com essa sensação de impotência. Mas veja só. Já se passaram quase dois meses. E estamos aqui. Eu escrevendo, você lendo, o mundo reagindo. Com razão, sem razão, mas com emoção. E no meio desse desequilíbrio do ecossistema, causado por um bichinho trilhões de vezes menor, é que vem uma impressão trilhões de vezes maior. Um insight, um feeling. Uma coceira contagiante, sem qualquer embasamento científico. Mas com toda a potência de sensação meramente intuitiva: estamos sobrevivendo. E se a gente conseguiu chegar até aqui, nada mais é capaz de nos derrubar.

Feliz Dia das Mães. E #FiqueEmCasa


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