sábado, 29 de abril de 2023

O Pastor e o Guerrilheiro

Em seu novo filme, o diretor José Eduardo Belmonte traz de forma mais direta o tema da ditadura militar. Sem manter uma ordem cronológica, vai até a década de 1970, quando um guerrilheiro comunista se encontra na mesma cela que um cristão evangélico, preso por engano. Em meio a torturas e conflitos ideológicos, eles se ajudam e marcam um encontro para o réveillon de 2000. Nos últimos dias do milênio, Juliana, ativista estudantil e filha ilegítima de um coronel que acabara de se suicidar, é surpreendida com uma herança deixada para ela. Por meio de um livro encontrado na casa do coronel, ela descobre que seu pai foi o torturador dos dois presos.

Apesar da contundência do tema, os anos de chumbo servem como pano de fundo para permear esses caminhos dos protagonistas. O filme, claro, tem substância. Mostra a união de dois prisioneiros, marcada justamente por suas diferenças políticas e religiosas. Traz o sentimento de culpa de quem fez parte do regime militar. Mesmo assim, O Pastor e o Guerrilheiro não carrega em si um traço meramente político. A condução da trama, com histórias paralelas, encontros e desencontros, faz a obra se aproximar de um romance. Belmonte mantém sua postura crítica em relação ao país, mas conclui um filme menos orgânico em comparação com seus primeiros longas. 


Um comentário:

Eduardo Marsola disse...

Muito interessante Érico. Gostei da sua leitura do filme, ainda não o vi, mas pude ver o trailer. Tenho a impressão de que essa época sombria da nossa história deveria render muito mais obras desse tipo, mas me parece que de um tempo para cá, os anos de chumbo vêm ganhando destaque no cinema nacional ou em forma de séries para streaming, não é? A memória e o conhecimento histórico são fundamentais para não deixarmos que certas coisas aconteçam novamente, mesmo que sejam somente pano de fundo para outras tramas, como você destaca no texto. Abraço!