Logo no início, a dificuldade de comunicação da protagonista nos faz voltar a Encontros e Desencontros. Trata-se de um deslocamento, no sentido amplo da palavra. Deslocar-se de um lugar para outro, do ponto de vista físico. Mas também percebemos em Isabelle Huppert o sentir-se deslocada, totalmente descontextualizada de sua cultura, suas raízes, suas origens.
Esse estranhamento, contudo, ao invés de ganhar força no filme, vai se diluindo e assumindo formas mais caricatas. O jeito de cumprimentar as pessoas, o ato de carregar as malas, as atribuições masculinas ou femininas num país estranho.
Quando o personagem complementar ganha vida, essa estranheza vai se afugentando de nossos olhos. O editor de livros, interpretado por Tsuyoshi Ihara, no início quase não fala. Aparece de óculos escuros e, quando os tira, mostra um rosto quase disforme e invisível.
É nessa relação que Sidonie no Japão adquire outros contornos, em que os silêncios falam mais alto que as palavras. Talvez traga um pouco do aspecto contemplativo do recente Dias Perfeitos. Uma história que conta muito, sem falar quase nada.
Embora muito viva essa crescente relação de descobertas, um terceiro elemento entra em cena e, ao que tudo parece, deixa o filme ainda mais nebuloso. O "fantasma" do ex-marido de Sidonie nos remete, em pequena escala, a Asas do Desejo. Sai do concreto e flerta com o metafísico.
Um filme com altos e baixos. Cenas memoráveis, em longos planos fechados. E uma certa aura noir de filme de festival totalmente dispensável.

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