segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Globalização

Era pra ser uma festa vienense, um tipo de baile de máscaras em que tudo pode acontecer. Fiquei animado com a ideia, já que vi o flyer numa dessas casas de artigos indianos. Já no caminho imaginei de tudo, as possibilidades mais obscenas, como beijo grego, banho turco e mulheres de montão fazendo suas espanholas. O aviso era bem claro. A festa era no estilo americano: valor simbólico de entrada, homens levam bebidas, mulheres levam comidas. No sentido literal, em princípio. Um verdadeiro negócio da China.
A festa tava lotada. E tinha de tudo, de uísque escocês a tequila mexicana. Na entrada, um tapete persa recebia os convidados. Garçonetes em seus minúsculos vestidos pretos deixavam a calcinha branca ser comida com os olhos, de propósito. Elas viviam rodando o salão e servindo pedaços de pizza calabresa, portuguesa e baiana. Alguns preferiam se servir no bar. Americano no pão sírio. Ou churrasquinho grego. Cuscuz marroquino, quem sabe. Mas isso tudo era só aperitivo. As atrações principais seriam muito mais saborosas.
Mais ao fundo, luz um pouco mais escura e azulada, formou-se um corredor polonês. Um insólito convite ao fetiche. Mulheres depiladas com cera egípcia davam suas boas-vindas. O ambiente ficava cada vez mais estranho. A fantasia na minha cabeça só tendia a crescer. Formou-se em mim uma confusão mental, que misturava o medo com a excitação. Homens bombados mais à frente sem camisa, de calça justa e com máscaras de Hannibal Lecter, segurando seus pastores alemães pela coleira. Uma nesga de claridade recheava um improvisado ringue de boxe tailandês. E, no extremo profundo do salão, certeza de que o melhor da festa ali reinava. Uma grande porta de madeira trancada a sete chaves certamente escondia o primor do erótico, o alimento gorduroso e opulento da minha imaginação fértil. Apostei que adentraria num harém das arábias. Qual não foi a minha surpresa ao constatar que, ao invadir o fantástico mundo híbrido de Nárnia e Pamela Anderson, deparei-me com gorduchos carecas e seus anéis de ouro e charutos cubanos disputando um campeonato de roleta russa. Eu, hein? Saí à francesa e prometi nunca mais voltar para aquela terra de ninguém.

Um comentário:

Anônimo disse...

SENSACIONALLLLL!