terça-feira, 10 de setembro de 2013

Pinto

Amâncio era irmão de Décio, que era primo de Delfino, sobrinho de Caio, tio de Jacinto, que, por sua vez, era meio-irmão de Armando, filho bastardo de Rolando. Todos eles tinham em comum, por uma infelicidade do destino, o sobrenome Pinto. O sobrenome, em si, até que é relativamente comum por essas terras tupiniquins. O problema mesmo era o conjunto formado pelo nome e sobrenome de todos eles. Vítimas frequentes de trocadilhos infames, zombarias, palhaçadas das mais óbvias e de um mau-gosto gritante. Nem os amigos poupavam esses membros da família de lascar um maldizer de vez em quando. Todos eles, sem exceção, sofreram bullying na escola. Até dos professores. Tinham dificuldade para arrumar emprego. Tinham dificuldade pra arrumar namorada. Às vezes até arrumavam, mas, bastava cair a ficha da moçoila, o namoro era rompido. Sofriam constrangimentos homéricos em cartórios e repartições públicas. Para esses integrantes da secular família, eram raros os momentos de felicidade inconteste.

Até que um dia, cansados de ser alvo de tantas piadinhas por tantos dias e anos consecutivos, o clã se juntou e, em conjunto, resolveram partir para o suicídio coletivo. Era mais digno, de acordo com os azarados. E, numa tacada só, o pequeno elenco desafortunado decidiu enterrar este linguístico brasão familiar de suas histórias, motivo de tanto desgosto. Numa sensação de angústia e alívio, o septeto então pôs um fim às suas vidas e aos seus cacófatos.

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