segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Horário de verão

Ainda não se sabe ao certo se neste ano vai haver o horário de verão. Aquele empréstimo compulsório que o povo cede ao Governo. Tiram de nós uma hora do nosso sagrado domingo para devolver só no começo do ano que vem, lá pelos idos de março. Pior: sem juros, sem correção monetária. Descontam da fonte 24 horas e quando devolvem, as mesmas 24 horas, sem um segundinho a mais.

A razão alegada de tal imposição é a economia de energia. Redução do consumo de luz elétrica, ar-condicionado e inseticida de tomada. Motivo justo. Evitemos o desperdício. O problema está na forma como o Governo realiza tal confisco. Adiantam automaticamente todos os computadores, celulares e relógios de rua. Não cabe recurso.

Se esses minutos fossem investidos para melhorias em nosso país, tudo bem. O Governo arrecadaria bilhões de minutos, contabilizados no minutômetro instalado no Centro de São Paulo, e utilizaria a verba para obras públicas de infraestrutura. Investiria esse montante temporal para oferecer agilidade em filas de banco, esperas telefônicas, sinal de wi-fi e filas de caixa de baladas. Na Alemanha é assim. Na Dinamarca é assim. A França está adotando esse modelo. Portugal estuda a implementação dessa prática... pensando bem, não. Na questão de entendimento de piadas, Portugal continua bem devagar.

Não é o que ocorre no Brasil. Aqui é o país do jeitinho. “Só mais um minutinho”, “um minuto de sua atenção”. E continuamos atrasados. Nestas terras tupiniquins, arrecada-se um volume de tempo equivalente à Pré-História para oferecer serviços equivalentes à duração da Semana de Arte Moderna. Isso sem falar nos constantes esquemas de corrupção. Quadrilhas envolvidas no desvio de segundos públicos. Recentemente, foi gravado um vídeo em que um assessor do Governo foi flagrado com 500 mil minutos dentro de um cronômetro, o que acarretou o início da Operação Hora Certa. Todos os dias vemos na TV depoimentos de delação premiada, em que empresários e executivos da Rolex e da Dimep denunciam políticos envolvidos em fraude e lavagem de períodos. Muitos citados foram presos, mas a maioria conseguiu a liberdade porque entrou com recurso de absolvição de banco de horas. Alguns políticos cumprem pena em prisão domiciliar, mas os governos de alguns estados já alegaram que falta relógio de pulso eletrônico para todos os criminosos. Mais recentemente ainda, 51 milhões de centésimos foram encontrados no apartamento de um influente ex-ministro. Se a coisa continuar assim, é provável que nem o Presidente da República escape da punição. Deputados de partidos adversários já falam em impeachment: se comprovada a corrupção, o representante-mor da nação terá de devolver 2 anos e 5 meses de seu mandato aos cofres públicos.

Não sei se o horário de verão vai ser bom ou ruim. Sensação de sair do trabalho com o dia claro, tomar banho gelado sem sofrimento, ver o Jornal Nacional em pleno pôr-do-sol, tudo muito bonito, mas apenas medidas de fachada. Estamos enfrentando uma crise cronológica sem precedentes, como não se via há décadas. Prova disso é que diretor e roteiristas já estão trabalhando numa adaptação para o cinema: A Hora do Pesadelo.


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