sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Os Ossos da Saudade

De acordo com a sinopse, “Os Ossos da Saudade” é um filme sobre a ausência, narrado a partir das vivências de pessoas que experimentam sentimentos de falta e distância, espalhados por Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde. Brasileiros e estrangeiros atravessados pela saudade, que, de alguma forma, carregam o Brasil em seus baús interiores. 

Trata-se, portanto, de um registro mais intimista, menos didático e cartesiano, que foge um pouco do convencional estilo "talking heads" de documentar. Tanto é que, em muitas passagens, o protagonista é filmado de costas, ou nem mesmo aparece em cena. Ponto para o diretor mineiro Marcos Pimentel.

O problema é que esse excesso de subjetivismo corre o risco de cair em armadilhas. No conjunto da obra, Os Ossos da Saudade tem um pouco a cara de filme feito para ganhar prêmios em festivais. Claro, existe um cuidado estético, um precioso rigor formal. Mas, em muitos momentos, esse preciosismo se confunde com um certo cinema-fórmula de circuitos alternativos.

Corre à boca pequena, entre os críticos e profissionais de Cinema, o comentário de que, quando existe uma crise criativa por parte dos realizadores, basta filmar a correnteza dos rios e mares. Claro, trata-se de uma observação pejorativa e simplória. Mas, os olhos de quem assiste ao filme do outro lado da tela, fica um pouco difícil encontrar um significado plausível para estabelecer uma relação, mínima que seja, entre esses devaneios estilísticos e a proposta de se falar sobre saudade e memória. Não é exatamente uma enganação. Mas fica o gosto de um certo hermetismo.

Ainda assim, feito o reparo, Os Ossos da Saudade é um bom filme. Traz um retrato bem temperado de lentes que buscam espaços vazios, ruínas geográficas, vozes solitárias que procuram compreender algo que ficou no pretérito de suas vidas.


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