sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Arthur Moreira Lima - Um Piano para Todos

A primeira cena é a construção e montagem de um palco, numa pequena cidade. Silêncio absoluto, interrompido apenas pelos eventuais sons do ambiente. Presume-se, a partir daí, que o documentário Arthur Moreira Lima - Um Piano para Todos foge um pouco do lugar-comum. E foge mesmo.

Quando falo de lugar-comum, estou me referindo aos clichês do gênero. Exaustivas cenas de arquivo do passado, intercaladas por depoimentos de celebridades ou pessoas conhecidas e próximas ao homenageado enaltecendo suas qualidades ou revelando algum fato curioso. É o famosos estilo talking heads de expor ideias. Os enquadramentos, os cortes, as pausas, tudo é muito parecido.

Aqui, neste longa escrito e dirigido pelo estreante Marcelo Mazuras, observa-se menos a necessidade de trazer informações sobre uma unanimidade nacional e mais o acompanhamento de um processo de mudança, reflexões e transformações na trajetória profissional do pianista. As cenas de arquivo, os estudos no exterior, as premiações recebidas, passam quase de relance. O filme centra no encontro do artista com um público mais carente, mais distante da música erudita. Como se o ícone do clássico estivesse disposto a despir essa visão elitista da arte. O mais aclamado intérprete de Chopin decidiu, nas últimas décadas, se dedicar a um projeto de democratização da música de concerto. Saiu pelo Brasil a bordo de um caminhão-teatro, se apresentando em praça pública por mais de 600 cidades pelo interior de todo o país.

Arthur Moreira Lima (o filme), portanto, ganha frescor ao sair das partituras e ir ao encontro da plateia. Nas mãos do diretor, essa jornada fica menos arcaica e rebuscada. Fica mais natural.


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