A primeira cena de Bolero mostra Maurice Ravel ao lado da coreógrafa Ida Rubinstein dentro de uma fábrica. O compositor explica a ela sobre a cadência rítmica dos sons industriais, num primeiro momento percebidos como barulho ou ruídos, que servem de inspiração ao autor por causa de sua sincronia forte, retumbante.
Corta para os tempos atuais. O famoso "Bolero de Ravel" tocado em diferentes lugares do mundo, em diferentes estilos, Conforme anunciam os créditos finais, a cada 15 minutos essa música é executada em algum canto do planeta.
Diante dessa premissa, cria-se a expectativa de um filme igualmente grandiloquente. Como colocar a mise-en-scène em pé de igualdade com o que a música representa para a história universal? O filme traz, de fato, a busca incessante por aquele andamento frenético fabril, mas também busca um ponto de equilíbrio (ou desequilíbrio) em toda a sensualidade que o ritmo carrega. Como se Ravel estivesse em sua inquietude querendo traduzir a modernidade com a tradição. O mecanismo do corpo com a fluidez das emoções.
Bolero, a Melodia Eterna, contudo, não entrega o peso dramático desse dilema. O ator Raphaël Personnaz faz um papel morno na pele de Ravel. A experiente diretora Anne Fontaine coloca em fogo brando os ápices do roteiro. A perseguida sensualidade musical entra no filme apenas como sugestão. Insinua-se muito e se oferece pouco. A ululante orquestração maquinal do introito se perde de vista no decorrer do filme. Tudo fica meio apático, um tom abaixo do que o Bolero representa para o mundo.

Nenhum comentário:
Postar um comentário