quarta-feira, 18 de junho de 2025

Stella: Vítima e Culpada

Logo no início, o espectador de Stella se vê diante de um espetáculo de luzes, cores e sons. Trata-se de um ensaio de jovens judeus de Berlim, durante a Segunda Guerra. Liderados pela cantora que dá nome ao título, procuram no jazz um pouco de beleza durante os anos mais sombrios da Humanidade.

Sem ser espalhafatoso, o filme sacia essa vontade de nos colocar diante de um show. E o diretor Kilian Riedhof tem mão firme pra isso. Um jogo de cortes ágeis trazem o dinamismo e a velocidade que o filme precisa. É nessa montagem que podemos perceber a permanência do clima caótico do roteiro. Como se estivéssemos diante da exatidão cirúrgica do texto, aliada ao improviso do jazz.

Todo esse aparato visual serve de preâmbulo para o desenvolvimento de uma narrativa que segue o caminho oposto. O medo dos nazistas levarem os judeus da capital alemã para o campo de extermínio de Auschwitz toma conta do longa. Entra em cena, portanto, aquele tom de tela mais acinzentado, característico de boa parte da cinematografia germânica.

Embora tente mostrar na tela os contrários, a estrutura cênica parece ser a mesma. Planos corretos e uma edição certeira provam que o diretor tem domínio sobre o que faz. Stella tem poucos excessos, porém, uma grande visão de cinema. Como o próprio subtítulo colocado aqui no Brasil insinua, é a dissecação de um dilema que ocupa o centro da trama. Para se manter viva, a protagonista acaba dedurando para a Gestapo o esconderijo de alguns judeus. Essa contradição não é somente anafórica. Um espelho manchado que procura extrair beleza da personagem traduz muito bem essa ambiguidade.


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