segunda-feira, 23 de junho de 2008

Cândida

Muita candura para pouco texto. Difícil se deixar levar por este argumento gasto que versa sobre uma disputa amorosa entre o conservadorismo pregacionista dos mais velhos e o impulso lancinante e ingênuo da facção jovem. Narrativa das mais clássicas, no sentido pejorativo da comparação. Cândida é um espetáculo acomodado, que em momento algum demonstrou qualquer tentativa de se inovar. O narrador onisciente do início até que dá bons indícios de que ali se iriam tecer descrições irônicas da comunidade britânica monárquica e pouco disposta a mudar costumes. Todos os personagens estão engessados neste momento cênico, mostrando por meio de seus corpos encolhidos a rigidez tirânica de uma sociedade estamental. A troca do foco narrativo em uma passagem de cena também faz parecer que a estrutura da encenação traria algo novo aos olhos de hoje. Falsas promessas. Dali em diante, surgem protagonistas repetitivos em seus cacoetes, culminando na presença repentina do conquistador, um semblante que mistura o punk ciberespacial do Billy Idol com o olhar de coitadinho de Johnny Depp em Edward Mãos de Tesoura mais a meiguice açucarada do Pequeno Príncipe. Tudo muito moldado a relações simplórias de causa e efeito, sem a mágica do improviso e do improvável. Cândida é uma aposta segura, cujos respingos de conflito dramático se esvaem rapidamente em seu desbotado retrato social.

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